Como o Flamengo ajudou Reinier a superar dificuldades em recomeço na Itália
O primeiro tempo de Frosinone x Hellas Verona se encaminhava para o fim quando Walid Cheddira recebeu lançamento pela direta. O marroquino bateu de primeira, a bola explodiu na trave e foi para o meio da área. Reinier, que acompanhava a corrida do colega, aproveitou o rebote para abrir o placar. Graças ao gol do brasileiro, o Frosinone venceu o duelo por 2 a 1.
Em outro contexto, um gol em uma partida da oitava rodada do Campeonato Italiano talvez não significasse tanto. Mas para Reinier, aquele momento tinha um sabor especial, um gosto de reinício. Foi a primeira vez que ele entrou em campo pelo Frosinone, depois de quatro partidas no banco de reservas.
A comemoração mostra a importância do momento. O meio-campista, de 21 anos, saiu correndo, deslizou de joelhos e depois gritou enquanto era abraçado pelos companheiros. Era um grito de alívio. "Esse momento significa muito pra mim. Eu trabalhei muito, fiquei muito tempo sem jogar, não fiz a pré-temporada. Mas, desde a primeira semana no clube, senti que poderia melhorar rápido", disse Reinier em entrevista ao UOL.
O Frosinone, recém-promovido à elite do Campeonato Italiano, é o terceiro destino do ex-jogador do Flamengo desde que ele deixou o clube carioca para assinar contrato com o Real Madrid, em 2020.
Boas lembranças pra esquecer tristeza
Sem jamais estrear pelo time principal do gigante espanhol, Reinier passou a ser emprestado --algo comum a muitos jogadores comprados pelo clube merengue. Foram duas temporadas com poucas chances no Borussia Dortmund, depois mais um ano no Girona.
Da Alemanha, Reinier não guarda boas lembranças. Na contramão do que se espera de um jogador emprestado, ele quase não jogou: foi titular em apenas quatro partidas e marcou só um gol. "Eu não passaria novamente tudo o que passei naqueles dois anos. Foram anos tristes difíceis. Não quero falar mais a fundo disso, porque é passado e é algo que nem gosto muito de comentar. Eu tento esquecer o que passei ali", resume.
Para lidar com as dificuldades, Reinier contou com a ajuda do pai, o ex-jogador de futsal Mauro Brasília. "Ele viu o que eu passei. A gente conversava muito sobre o que aconteceu sobre esquecer esse período e superar. Foi a pessoa mais importante e que mais me ajudou", lembra o meio-campista.
Outra coisa que ajudou Reinier foi uma antiga paixão: o Flamengo. Revelado nas categorias de base do clube, ele abre um sorriso quando o assunto são os seis meses que passou na equipe principal, no segundo semestre de 2019.
"Não tenho nem palavras pra descrever o que foram aqueles momentos, ser campeão brasileiro, campeão da Libertadores, com a maior torcida do mundo, no time que me revelou. Eu te falo, sem dúvidas, que foi um dos melhores momentos da minha vida", afirma.
Reinier admite que as boas lembranças dos tempos de Flamengo o ajudaram a se reconectar com a alegria de jogar futebol, justamente quando tinha poucos motivos para sorrir na Alemanha. "Eu pensei muitas vezes naqueles momentos, no Maracanã, com 70, 80 mil pessoas, no time brigando por títulos. Eu já pensei nisso várias vezes".
O sonho da temporada perfeita
Depois dos anos complicados na Alemanha, Reinier voltou a ser feliz no Girona, clube catalão que disputa a Liga Espanhola e este ano é a grande surpresa do torneio, brigando no topo da classificação com Barcelona e Real Madrid. "Em Girona eu fui feliz novamente. Gostava do clube e da cidade, mas daí vieram as lesões".
Uma contusão na coxa e uma lesão muscular tiraram Reinier dos gramados por quase dois meses, ainda na fase inicial da temporada. Por isso, foram apenas 18 partidas na equipe, sendo cinco como titular.
No Frosinone, o objetivo é escapar da lesões e garantir espaço no time titular. O primeiro passo foi dado diante do Verona, com o gol que abriu o caminho para a vitória. Neste domingo, o clube enfrenta o Bologna, pela nona rodada da Série A.
"Meu objetivo agora é fazer uma temporada perfeita por aqui. O foco agora deve ser no Frosinone, em fazer esse ano perfeito". Caso o ano perfeito se concretize, a próxima etapa seria um dos sonhos de Reinier: voltar ao Real Madrid.
Reencontro com o amigo Vinícius
Um retorno ao Santiago Bernabéu seria, também, o reencontro com um amigo de toda a vida: Vinícius Júnior. Os dois se conheceram na base do Flamengo e trilharam o mesmo caminho rumo à capital espanhola. Falta poderem jogar juntos com a camisa branca do maior campeão da Champions League.
"O Vini é um grande amigo, sempre estamos juntos quando vou a Madri, viajamos juntos. É uma pessoa que trabalha muito e tem uma força mental enorme", elogia Reinier, que acompanhou à distância o sofrimento do colega diante dos casos de racismo em estádios espanhóis.
"Foi muito feio o que aconteceu, e tem gente na Espanha que ainda protege esse tipo de coisa. Mas o staff do Vini é muito forte e muito próximo a ele, isso ajuda bastante a lidar com esses casos. Ele é um cara muito forte, e espero que nunca mais passe por isso".
Como bons amigos, além do apoio nas horas difíceis, os dois também compartilham as conquistas. Quando Reinier foi anunciado no Frosinone, a notificação no celular não demorou a aparecer. "Ele me mandou parabéns e desejou boa sorte. E falou que espera que a gente esteja juntos logo".
A reunião dos dois amigos depende de muitas coisas. Uma delas é que Reinier volte a ser no Frosinone o fenômeno que despontou na base do Flamengo. Depois de três temporadas difíceis, aos 21 anos, ele voltou a sonhar.
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