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Dinizismo na Europa? Clube sueco briga por título com 'estilo brasileiro'

Posse de bola, saída com toques curtos na defesa, movimentação intensa e trocas de posição entre os jogadores são algumas das características do Fluminense de Fernando Diniz, finalista da Copa Libertadores. Com seu estilo de jogo "relacional" — uma alternativa ao jogo de posição —, o treinador tenta inspirar uma revolução tática também na seleção brasileira.

Na Europa, o "Dinizismo" já começa a gerar curiosidade, e um clube se apresenta como maior candidato a replicar o estilo do treinador brasileiro no continente: o Malmö, da Suécia.

O treinador Henrik Rydström, de 47 anos, chegou ao clube em dezembro do ano passado, mudou a forma do time jogar e tem chamado a atenção de especialistas.

Sob o comando do treinador, um ex-meio-campista de carreira discreta, a equipe disputou 31 partidas oficiais, com 21 vitórias, 4 empates e 6 derrotas, com média de 2,1 gols marcados e 1 gol sofrido.

Estilo brasileiro

A pequena revolução de Rydström começou a ser notada já nos primeiros jogos da atual temporada. Em 2022, o Malmö disputou a Europa League e ficou na última posição de seu grupo, com seis derrotas em seis jogos. Era preciso mudar, e a diretoria do clube se mexeu.

Para 2023, além do novo técnico, chegaram dez jogadores. Além disso, foi feita uma "limpa" no elenco anterior, com mais de 20 saídas, entre vendas e empréstimos. Quando o novo estilo de jogo começou a se consolidar e chamar a atenção, o comentarista Nordin Gerzic perguntou ao treinador a respeito de suas táticas e citou o trabalho de Fernando Diniz.

"Eu não sei qual é a inspiração, mas suspeito que seja o Fluminense. É o futebol relacional, é algo novo na Suécia", disse Gerzic, em uma entrevista pós-jogo com o técnico. Rydström não falou diretamente sobre a influência do brasileiro, mas explicou um pouco de suas ideias.

"Primeiro, é importante dizer que eu não faço nada apenas por ser sensacional ou estranho. Tudo o que eu e minha equipe técnica fazemos tem base em uma pergunta: 'Como podemos fazer para tornar as coisas ainda mais difíceis para os adversários e aproveitar melhor os jogadores que temos?' Eu procuro inspiração em vários lugares", disse o treinador.

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Henrik Rydström, técnico do Malmö
Henrik Rydström, técnico do Malmö Imagem: Site oficial/Malmö

"Relacionismo"

O comentário de Gerzic e a resposta de Rydström causaram uma espécie de efeito dominó entre especialistas europeus. O The Purist Football, canal do YouTube dedicado a análises táticas, dissecou o estilo do clube sueco em um vídeo chamado "A tática brasileira chegou à Europa? e ela é estranha: análise do Malmö".

No vídeo, há várias situações de jogo que o torcedor brasileiro se acostumou em ver com Fernando Diniz — seja na seleção, no Fluminense, ou em trabalhos anteriores: o famoso "caos organizado", com vários jogadores ocupando a mesma parte do campo, linhas diagonais de até cinco jogadores, tabelas e contextos de jogo em que a proximidade e a intuição contam mais do que as áreas "loteadas" em campo pela teoria do jogo posicional.

O que no Brasil convencionou-se chamar Dinizismo ou "jogo relacional", virou "Relationism", (ou "Relacionismo", em português) para os teóricos europeus. O site Total Football Analysis, referência no segmento, afirma que o sistema 4-2-3-1 do Malmö é fluído, porque tem a bola como principal referência.

"Os jogadores não usam espaços específicos como ponto de referência primário quando têm a posse. Em vez disso, eles se posicionam em relação ao companheiro que tem a bola, em locais que permitem que eles deem opções de passes verticais", diz o artigo intitulado "Como Henrik Rydström trouxe o relacionismo para os gigantes suecos".

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Duelo de estilos

O novo estilo do Malmö tem dado resultados. Maior campeão nacional da Suécia, com 22 títulos, o clube foi apenas o sétimo colocado em 2022. Neste ano, a equipe treinada por Henrik Rydström é vice-líder, a dois pontos do Elfsborg — faltam três rodadas para o fim do campeonato.

Como a última rodada terá um confronto entre os líderes, o Malmö só depende de si mesmo para conquistar o título. Uma taça que seria especial para o treinador: além de ser seu primeiro título nacional, seria a vitória de uma forma de jogar inovadora.

"Nosso estilo é uma das maneiras de se jogar futebol. Você pode discutir se é um jeito certo ou errado. Mas o que dá pra dizer é que, no Campeonato Sueco, ninguém joga como a gente. Todos jogam de uma forma muito mais rígida. Vamos ver se conseguimos inspirar alguém", disse o treinador recentemente.

O Elfsborg, atual líder do campeonato sueco, tem um estilo de jogo totalmente oposto ao Malmö: ligação direta, pouca posse de bola e uma rígida obediência tática dos jogadores ao sistema de jogo.

Henrik Rydström durante jogo do Malmö: táticas revolucionárias chamam a atenção
Henrik Rydström durante jogo do Malmö: táticas revolucionárias chamam a atenção Imagem: Malmö/Site Oficial

Semelhanças fora de campo

As semelhanças entre Fernando Diniz e Henrik Rydström vão além do trabalho em campo. Assim como o colega brasileiro, o treinador sueco tem áreas de interesse fora do futebol, que acabam derivando em elementos que podem ser aproveitados no dia-a-dia do clube.

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No caso de Diniz, o principal interesse é a psicologia. No início da carreira de treinador, ele conciliou o trabalho com a faculdade; no dia a dia, o estudo de psicologia ajuda a entender os jogadores e a criar uma relação mais próxima dos atletas.

Rydström, por sua vez, tem como interesses fora do futebol a política e a música. O comandante do Malmö é associado ao Partido Operário Social-Democrata da Suécia e já fez discursos sobre seu posicionamento a favor de causas sociais; ele também fez críticas abertas ao Democratas Suecos, maior partido de direita do país.

Além do envolvimento na política, o treinador se interessa por música e jornalismo. Na transição entre ser jogador e consolidar-se como técnico, ele escreveu críticas musicais para a revista sueca Barometern.

Reportagem

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