Especialista na bola aérea, Bremer ainda espera primeira chance com Diniz
Em cinco jogos com Fernando Diniz como treinador, a seleção brasileira sofreu seis gols. A defesa, considerada o ponto alto nos tempos de Tite, passou a ser vista com desconfiança, sobretudo nas bolas cruzadas na área. Foram assim que saíram quatro gols dos adversários, incluindo os dois de Luis Díaz na derrota para a Colômbia, na quinta-feira (16).
Nas cinco partidas disputadas até agora, Diniz manteve a dupla de zaga com Marquinhos, do PSG, e Gabriel Magalhães, do Arsenal. As escolhas obedecem ao critério do treinador de ter zagueiros com bom passe e que estejam acostumados a sair jogando, um dos preceitos do "Dinizismo".
Caso queira mudar esse perfil, Diniz tem no banco uma opção para fortalecer as bolas aéreas: o zagueiro Bremer, da Juventus, possui números melhores que os titulares da seleção na atual temporada. Em sua segunda convocação com o novo treinador, ele ainda espera uma chance de jogar.
Defesa forte na Itália
Depois de uma temporada turbulenta em 2022-23, com a perda de pontos nos tribunais e um desempenho abaixo da média em campo, a Juventus ocupa a segunda posição no Campeonato Italiano e tem a segunda melhor defesa da competição.
Em 12 partidas, a equipe de Turim levou sete gols — uma a mais que a líder Internazionale. Nas principais ligas da Europa, apenas o Nice, vice-líder do Campeonato Francês, tem uma defesa melhor (quatro gols sofridos em 12 rodadas).
A Juventus joga num sistema com três zagueiros: Bremer, o italiano Federico Gatti e Danilo, que ainda é convocado como lateral-direito na seleção e ficou fora da última lista de Diniz por uma lesão sofrida diante da Venezuela, em outubro.
Das 12 partidas da equipe na temporada até agora, Bremer só não jogou 6 minutos — foi substituído aos 39min do segundo tempo contra a Atalanta. Em oito jogos, o time saiu de campo sem levar gols.
A boa temporada rendeu elogios. "Ele é o melhor zagueiro do time. Marca bem, é rápido e determinado", afirmou recentemente o italiano Sergio Brio, que defendeu a Juve por 17 temporadas, com cinco títulos italianos e um da Liga dos Campeões da Europa.
Números a favor
Uma análise dos números da temporada europeia mostra o perfil diferente de Bremer, e também a vantagem que ele leva sobre os companheiros de seleção em fundamentos como o jogo aéreo — ponto fraco do Brasil no início das Eliminatórias para a Copa do Mundo.
De acordo com a base de dados do site WhoScored, o zagueiro da Juventus ganha 3 duelos aéreos de média por partida, levando a melhor em 63% dos lances pelo alto. Para a mesma estatística, Marquinhos ganha 1,1 duelo por jogo (42%). Gabriel Magalhães vence 1,8 duelo aéreo por partida, com 58% de efetividade.
Bremer também leva vantagem nas bolas afastadas da defesa. O zagueiro da Juventus tem uma média de 4,4 lances do tipo por partida, contra 3,2 de Marquinhos e 1,4 de Gabriel Magalhães.
Já os atuais titulares levam vantagem em fundamentos ligados à saída de jogo, um dos pontos nevrálgicos do jogo de Fernando Diniz.
No PSG, Marquinhos dá uma média de 92,5 passes por partida, com um índice de acerto de 95%. Gabriel Magalhães tem um índice de acerto de 89%, com 51,7 passes por partida; e Bremer tem 86,5% de acerto, com uma média de 52,6 passes.
Para efeito de comparação coletiva, os números da Juventus são melhores que os de PSG e Arsenal, onde jogam os titulares da seleção.
Com Marquinhos como referência defensiva, a equipe de Paris disputou 16 partidas na temporada (12 no Francês e 4 na Champions League) e sofreu 15 gols (9 no Francês e 6 na Champions). O brasileiro atuou em 14 partidas, 12 delas como titular.
Já o Arsenal de Gabriel Magalhães foi a campo 19 vezes, somadas todas as competições, e sofreu 17 gols. O brasileiro esteve em campo 17 vezes, 15 delas como titular.
Evolução no Calcio
Na Itália há 6 temporadas, Bremer ganhou destaque na temporada 2021-22, quando jogava pelo Torino. Naquele ano, ele foi eleito o melhor zagueiro do Campeonato Italiano, atraindo a atenção de gigantes europeus; logo após o fim da temporada, ele trocou o clube grená de Turim pela arquirrival Juventus.
Já na Vecchia Signora, Bremer voltou a fazer uma boa temporada e acabou pela segunda vez na seleção do Campeonato Italiano, em 2022-23. Em conversa com o UOL, ele comentou sobre os aprendizados na liga, tradicional por formar zagueiros de qualidade.
"Todo mundo sabe que o futebol italiano é a melhor escola dos defensores do mundo e atuar aqui me ajudou a aprender muito , tanto dentro como fora de campo. Hoje, estou na minha sexta temporada no país e me sinto muito mais maduro e entendo o jogo de uma maneira mais inteligente", disse.
As boas temporadas de Bremer são um exemplo da boa adaptação dos zagueiros brasileiros ao futebol italiano. Na atual temporada, além da dupla da Juventus, o país é representado por Natan e Juan Jesus no Napoli, e Ruan Tressoldi, no Sassuolo. A lista tem ainda Rafael Toloi, naturalizado italiano e campeão da Eurocopa-2020 com a seleção.
"Acho que, no geral, o brasileiro tem uma técnica refinada e isso ajuda bastante. Mas não tem segredo, o principal é se dedicar, trabalhar muito e tentar absorver, ao máximo, tudo o que os treinadores e o pessoal da comissão técnica orienta. Somado a isso, os outros fatores, como experiência, leitura de jogo e o melhor entendimento durante as jogadas, chegam de forma natural e com o tempo dentro de campo", explica Bremer.
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