Como a Guerra da Ucrânia ajuda a explicar o líder do Campeonato Espanhol
Qual é a relação do conflito entre Rússia e Ucrânia com a maior surpresa da temporada no futebol europeu? Por mais improvável que pareça, a campanha do Girona, líder do Campeonato Espanhol, tem uma conexão com a guerra iniciada em 2014 e que se intensificou em 2022.
Para entender essa associação, há dois nomes como ponto de partida: Viktor Tsygankov e Artem Dovbyk, ambos ucranianos, contratados pelo clube em 2023. A dupla ganhou espaço no time titular e é um dos pontos fortes do time que já fez história ao conquistar 34 pontos nas 13 primeiras partidas da Liga.
Os dois têm 26 anos, são jogadores da seleção ucraniana e jogavam em times de ponta no país-natal. Dovbyk foi duas vezes artilheiro do campeonato local pelo Dnipro; Tsygankov acumulou títulos e prêmios individuais pelo Dynamo de Kiev.
Em outros tempos, eles teriam seguido suas carreiras na Liga Ucraniana, que ficou famosa na década passada por pagar bons salários e dificultar a saída de jogadores. Mas a invasão russa, em fevereiro de 2022, mudou o cenário: dois meses depois, em abril, o campeonato do país foi interrompido e declarado encerrado.
A Fifa deu uma permissão especial para jogadores e treinadores estrangeiros deixarem os clubes ucranianos e assinarem novos contratos, mesmo fora de períodos de transferência. A debandada reduziu o nível técnico da liga local: o Shakhtar, principal clube ucraniano deste século, passou de ter 16 estrangeiros em 2021-22 para seis na temporada seguinte.
O caminho até Girona
Sem os principais jogadores estrangeiros do país, o nível do futebol na Ucrânia caiu. O faturamento — com estádios parcialmente fechados e alguns clubes jogando longe de suas cidades — despencou.
Nesse contexto, dois fatores se uniram: as equipes precisavam vender para equilibrar as contas; e os jogadores queriam sair para ligas de nível técnico mais alto. Foi aí que o Girona entrou na jogada, com um personagem conhecido dos bastidores: Pere Guardiola.
Pere é irmão de Pep Guardiola e dono de 16% das ações do clube catalão. Ele também é empresário de jogadores e um dos sócios da SEG, uma das maiores organizações do setor. Ele foi responsável direto pela contratação dos dois ucranianos.
O primeiro a chegar foi Tsygankov, contratado em janeiro deste ano. O ponta-direita foi comprado por 5 milhões de euros (cerca de R$ 27 milhões). Ele é representado pela SEG, o que facilitou a transação, por intermédio de Pere Guardiola.
O empresário também participou da operação que levou Dovbyk ao clube catalão, em agosto. Por meio de contatos com intermediários na Ucrânia, ele amarrou a contratação do atacante por 7 milhões de euros (R$ 38 milhões) por 50% dos direitos.
Impacto imediato
Nos bastidores do Girona, a dupla de ucranianos é apontada como um dos fatores mais importantes na campanha que levou o time catalão à liderança surpreendente. Em conversas informais entre os dirigentes do clube, eles são colocados ao lado do ponta brasileiro Savinho e do meio-campista Aleix García como os pontos fortes do time.
Os números confirmam: Dovbyk é o artilheiro do time na temporada, com 7 gols marcados. Ele ainda deu 4 assistências, e lidera a estatística ao lado de Savinho e Aleix. Com 11 participações em gols, o ucraniano só fica atrás de Jude Bellingham (12) no ranking da Liga Espanhola.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberTsygankov tem números mais modestos (2 gols e 2 assistências), mas consolidou-se como titular e jogador fundamental no esquema do técnico Michel. Com 3,2 bolas recuperadas por jogo, ele é uma das armas do time também na marcação sob pressão e nas ajudas defensivas.
Nesta segunda-feira, às 17h (horário de Brasília), o Girona volta a campo para encarar o Athletic de Bilbao, pela 14ª rodada.
Deixe seu comentário