Arthur revela que terapia ajudou a reconduzir carreira e sonhar com seleção
"Eu vou fazer uma sessão. Mas, se não gostar, não vou fazer mais".
A primeira reação de Arthur ao conselho para procurar ajuda psicológica não foi promissora. No fim da temporada passada, o volante revelado pelo Grêmio, com passagens por Barcelona, Juventus e seleção brasileira, vivia o momento mais difícil da carreira. Era preciso se reencontrar.
Seis meses depois, o cenário é bem diferente: Arthur tornou-se peça fundamental na Fiorentina, onde ganhou a confiança do treinador, dos colegas e da torcida. Em Florença, capital do Renascimento, o brasileiro começou a reescrever sua própria história.
As sessões de terapia foram uma ideia de Carolina Miarelli, namorada do jogador. "Ela me disse que eu exercitava o corpo, mas precisava exercitar o cérebro", afirma. Arthur relutou, mas foi à primeira sessão. Não parou mais.
"Tinha muitas coisas que eu fazia no dia-a-dia que não eram saudáveis e eu não me dava conta, não entendia o porquê. Alguns traumas de lesão, etc. Eu sempre ficava tenso, negativo, e fazer a terapia me ajudou. É importante, se eu pudesse dar um conselho pra quem não faz, seria: faça", explica o jogador em conversa com o UOL.
"Eu sabia que era uma temporada decisiva na minha carreira. Eu vinha de um ano de lesão, sem jogar. Então a gente sabia que teria de fazer a escolha certa", afirma Arthur, que chegou a Florença emprestado pela Juventus.
Na temporada passada, ele foi cedido ao Liverpool, mas -- entre um elenco congestionado e uma lesão na coxa esquerda, que forçou uma cirurgia -- atuou apenas 13 minutos pelo time principal.
Na Fiorentina, o jogo virou: das 17 primeiras partidas do clube na temporada, ele participou de 15, sendo 13 como titular. É o segundo jogador de linha com mais jogos na temporada, em um clube que tem um treinador -- Vicenzo Italiano -- famoso por quase nunca repetir escalações. O time briga na parte de cima da tabela da Série A, venceu seu grupo na Conference League e está na fase de quartas de final da Coppa Italia.
O sonho da seleção
As boas atuações no clube italiano e a sequência de partidas sem lesões graves fazem Arthur retomar um sonho que ficou distante na temporada passada: voltar à seleção brasileira.
"Eu sabia que para voltar pra seleção brasileira eu precisaria de continuidade, de jogos bons, e por isso a escolha da Fiorentina. É um time que se encaixa no meu estilo de jogo, onde eu posso demonstrar o melhor do meu futebol, e essa continuidade é muito importante", afirma.
"A gente sabe que a concorrência é enorme, tem muitos jogadores bons, então a continuidade seria um fator decisivo para tentar sonhar com a seleção de novo", acrescenta Arthur. Em sua última lista, Fernando Diniz convocou Bruno Guimarães, Joelinton e Douglas Luiz, dentre os que podem exercer a função de segundo volante.
Convocado pela primeira vez em 2017, Arthur disputou 22 partidas pela seleção, todas sob o comando de Tite. O último chamado foi em março de 2022, nas Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar.
Aos 27 anos, Arthur poderia ter ido a dois Mundiais, mas acabou fora das Copas de 2018 e 2022. "É muito difícil. Muito, muito difícil. Em 2018 eu estava ansioso, entusiasmado, e veio a lesão", lembra, citando uma entorse no tornozelo direito na final da Libertadores, e impediu que ele tivesse chances antes da Copa da Rússia.
Em 2022, uma série de pequenas lesões na reta final do ciclo levaram a uma falta de sequência nos clubes, o que acabou afastando o meio-campista da convocação final.
Entre as duas decepções, veio o momento que ele considera um dos mais felizes da carreira: a Copa América de 2019. No torneio, realizado no Brasil, Arthur foi titular a partir da segunda partida da fase de grupos e deu uma assistência para Gabriel Jesus na vitória por 3 a 1 sobre o Peru, na final.
"Ganhar um título com a seleção é especial, e ganhar no Brasil? isso não tem preço. Esse gostinho de servir a seleção brasileira é indescritível, e eu estou trabalhando pra voltar a ter essa sensação, voltar a vestir a camisa. Foi um momento marcante na seleção", relembra.
Para voltar a ser convocado, Arthur aposta na sequência de jogos, no trabalho físico e psicológico, e até no estilo de jogo de Fernando Diniz. "É um treinador que gosta de saída de bola, no chão, passes entre linhas, e essas são algumas das minhas qualidades principais. Essa saída da bola com qualidade, passe entre linhas, então eu acho que de certa maneira me ajuda esse estilo de jogo".
A ajuda de Klopp
A passagem pelo Liverpool foi frustrante para Arthur, pela lesão e a falta de chances. Seis meses depois, ele já consegue avaliar aquele momento complicado e usa a palavra "aprendizado" para definir o que passou em Anfield. E revela que, mesmo nos momentos mais complicados, contou com a ajuda do técnico alemão Jurgen Klopp.
"Ele foi o primeiro que sempre tentou me ajudar. Sempre conversava comigo, pra eu não ficar sozinho. Eu fazia fisioterapia no horário que o grupo treinava, não fazia um horário diferente, justamente pra eu me sentir parte do grupo, e isso me ajudou bastante", conta.
A atenção de Klopp e a qualidade dos treinamentos são as melhores lembranças que o brasileiro guarda de um momento complicado.
"Pessoalmente falando, do lado humano, é um cara fantástico, fantástico. Dentro de campo a gente já conhece, o cara é um monstro, um dos melhores treinadores do mundo, eu aprendi muito. Por mais que eu não tenha jogado muito no Liverpool, eu aprendi muito: cada treinamento que eu fazia com ele, com o grupo, era um aprendizado", diz o volante.
Um dia de cada vez
O contrato de empréstimo de Arthur com a Fiorentina vai até 30 de junho de 2024, com opção de compra por parte do clube. O acordo com a Juventus é mais longo, até 2026. Mas os planos do meio-campista, no momento, são de curto prazo.
Para os próximos meses, Arthur cita objetivos que não incluem números ou prazos. "Quero ter uma sequência de jogos, estar bem fisicamente, voltar a ter a qualidade técnica em campo no nível máximo".
"Não gosto de olhar muito pra frente, porque tudo pode acontecer. Eu sou a prova viva disso: as coisas mudam muito rápido, seja para o bem ou para o mal. O futebol é dia a dia, em cada jogo você muda a história", afirma, com a convicção de quem passou por muita coisa nos últimos anos.
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