No Bernabéu, Guardiola virou lenda, começou guerra e levou maior virada
Pep Guardiola não costuma admitir publicamente, mas o Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, é um dos estádios mais importantes de sua carreira como treinador. Nesta terça-feira, o comandante do Manchester City volta ao maior palco da capital espanhola para o jogo de ida das quartas de final da Champions League.
Quando sair dos vestiários e olhar para o campo e as arquibancadas, o treinador catalão terá muitas lembranças: várias delas, de momentos que definiriam sua carreira como técnico. Algumas boas, outras ruins.
Foi no Bernabéu que Guardiola conquistou sua primeira grande vitória como treinador em um clássico espanhol. A data ficou gravada na memória dos torcedores do Barcelona: 2 de maio de 2009.
O dia em que o treinador inventou Lionel Messi como falso 9 e goleou o Real Madrid na casa do adversário, por 6 a 2. Por incrível que pareça, até aquela partida, Guardiola ainda tinha seus detratores na torcida e na imprensa de Barcelona.
Após aquele jogo, ele conquistou a confiança e caminhou para conquistar todos os títulos da temporada 2008-09 e tornar-se uma lenda no clube. A posição de Messi significou uma revolução no futebol mundial — que o próprio Guardiola voltou a usar no Manchester City, antes da chegada de Erling Haaland.
Qual é a câmera do senhor José?
Foi no Bernabéu, também, que Guardiola colocou fogo em uma das maiores guerras do futebol moderno: seu duelo contra José Mourinho, então treinador do Real Madrid. Outra data histórica para o futebol espanhol: 26 de abril de 2011.
Na entrevista da véspera do jogo de ida das semifinais da Champions League, o treinador catalão explodiu. Logo de cara, começou dizendo: "Como o senhor Mourinho me chamou de Pep, vou chamá-lo de José. Qual é a câmera do senhor José?"
O que veio a seguir foi um desabafo contra a forma de seu rival esquentar os jogos com declarações à imprensa e provocações. Os dois chegaram a ser amigos quando, nos anos 1990, Mourinho foi assistente técnico do Barcelona — naquele dia, a relação derreteu e a tensão aumentou.
"Estivemos juntos por quatro anos, eu conheço ele, e ele me conhece. Se ele quer ficar com as declarações que leu na imprensa? Se ele dá mais peso a eles do que à nossa amizade? Ou do que a relação que tivemos? Ele pode seguir lendo aos amigos de Florentino Pérez. Ele que decida", disse Guardiola naquele dia.
Em campo, o Barcelona venceu por 2 a 0, abrindo caminho para classificar-se à final e conquistar o título da Champions League em 2008-09. Foi o terceiro título do Barcelona na competição.
A virada mais dura
Mas nem só de bons resultados vive Guardiola no Santiago Bernabéu. Pelo contrário: uma das derrotas mais duras da carreira do treinador aconteceu no estádio madrilenho. Trata-se da virada contra o Real Madrid, em 4 de maio de 2022.
Depois de vencer por 4 a 3 em casa, o City comandava o placar até os 45 minutos do segundo tempo. O resultado colocava os ingleses na final da competição, até que Rodrygo marcou duas vezes (aos 45 e 46 minutos do segundo tempo) e levou o jogo para a prorrogação.
No tempo extra, Benzema fez 3 a 1 e sacramentou o avanço do Real Madrid para a final, onde o clube madrilenho venceria o Liverpool.
A pessoas próximas, Guardiola diz que aquela derrota foi uma das mais difíceis da carreira.
Nesta terça-feira, o treinador do Manchester City verá um estádio bem diferente — o Bernabéu passa por uma ampla reforma. Na segunda, depois das entrevistas prévias ao jogo, Guardiola entrou em campo, olhou para cima e disse: "Ficou maravilhoso".
O elogio à casa do rival não chega a surpreender. Afinal, por mais que Guardiola não admita, aquele pedaço de mundo na Avenida de Concha Espina também é parte da vida e da carreira dele.
Reportagem
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