Como um jantar, uma promessa e uma foto mudaram os destinos de Barça e PSG
Sentado em uma mesa, cercado por assessores, dirigentes e por um grupo pequeno de empresários catalães, Nasser Al-Khelaifi, presidente do PSG, não se conformava com o que acontecera horas antes. Era a madrugada do dia 9 de março de 2017, em Barcelona, e o qatari ainda estava no calor das emoções da derrota mais humilhante de sua administração.
Na noite anterior, o PSG perdera por 6 a 1 para o Barcelona, no Camp Nou, jogando fora uma vantagem de 4 a 0 no jogo de ida. O jogo ficou conhecido como "La Remontada".
Naquela mesa, diante de um público seleto, Nasser fez uma promessa. "Eu vou destruir o Barcelona". Os comensais não deram importância ao discurso. Era o ódio de um perdedor; de um ex-atleta de tênis, competitivo até a medula; de um grã-fino que não gosta de ser contrariado.
Na manhã daquele dia 9 de março de 2017, as bancas de jornal de Barcelona amanheceram com manchetes épicas. "Vocês são lendas", estampava o diário Sport; "Heróis" foi a palavra escolhida pelo Mundo Deportivo; o Marca usou "Apoteótico"; o AS preferiu falar dos erros de arbitragem.
Todos eles tinham em comum fotos de um grupo específico de jogadores — Suárez, Piqué, Messi e Sergi Roberto — abraçando-se. Nas redes sociais, a imagem que se tornou o ícone daquele jogo histórico foi feita pelo fotógrafo mexicano Santiago Garcés, que trabalhava para o Barcelona: Messi, com o punho direito erguido, no meio da torcida. Foi a foto mais vista e compartilhada da história do clube nas redes até então.
Neymar, o melhor em campo e artífice do resultado que merecia todos os adjetivos da imprensa, não estava em nenhuma capa. No entorno do jogador, a escolha editorial dos jornais e do próprio clube, caiu muito mal. A avaliação foi que, mesmo quando o brasileiro era o protagonista, ele não recebia o reconhecimento.
A conclusão foi simples: seria impossível ser o melhor do mundo, obsessão do jogador e de seu pai, estando no mesmo clube de Lionel Messi. A promessa de Al-Khelaifi e a foto de Santiago Garcés juntaram dois pontos: o presidente do PSG querendo destruir o Barcelona e um dos principais jogadores do Barcelona insatisfeito com sua posição no clube.
O Qatar e a prisão de ouro
Antes de avançar na história que acabou com a saída de Neymar, é preciso entender o contexto para além do futebol. A rixa entre Barcelona e PSG vinha de antes daquele 6 a 1.
No ano anterior, o clube catalão havia encerrado uma parceria com o Qatar, que foi o primeiro patrocinador a pagar para estampar a camisa azul e grená —primeiro como Qatar Foundation, e depois como Qatar Airways. O país asiático é o dono do PSG, e o rompimento do contrato de patrocínio pelo Barcelona nunca foi bem assimilado.
Na mesma época, o clube catalão fez investidas pesadas por jogadores do clube francês. O principal deles foi o italiano Marco Verratti, visto como potencial substituto de Xavi. O negócio nunca foi concretizado, por causa da intransigência do PSG em vender seus jogadores para a equipe rival.
O time francês foi definido como uma "prisão de ouro" pelo empresário de Verratti na época das negociações. A partir daquele 6 a 1, a estratégia para "destruir o Barcelona" passaria não apenas a impedir a venda de jogadores para o clube, mas também por enfraquecer o rival.
Neymar, Messi e o projeto Champions
O plano de destruição do Barcelona começou em julho daquele mesmo ano: o PSG pagou a multa de 222 milhões de euros e levou Neymar — até hoje, o valor é o maior pago por um jogador.
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Quero receberEra o início do "projeto Champions" do clube francês, que jamais chegou ao objetivo do título continental. Enquanto o PSG adicionava estrelas ao seu elenco, incluindo o então prodígio do Monaco, Kylian Mbappé, o Barcelona gastava 350 milhões de euros com Ousmane Dembelé, Philippe Coutinho e Antoine Griezmann.
Os franceses se tornaram o clube de maior poderio financeiro do mundo, ao passo que os catalães se arruinaram financeiramente. A ponto de não conseguirem manter Lionel Messi. Em agosto de 2021, quatro anos depois da saída de Neymar, o argentino também trocou Barcelona por Paris.
Nasser Al-Khelaifi não conseguiu destruir o Barcelona, mas as ações do PSG causaram danos que o clube catalã ainda não conseguiu reparar. Sem chegar a uma final de Champions desde 2014-15, quando ganhou o título; nesta temporada, a passagem pela fase de grupos já foi comemorada, depois de dois anos saindo antes do mata-mata.
Nesta quarta, no Parque dos Príncipes, as duas equipes se reencontram. O duelo, às 16h (horário de Brasília) será mais um capítulo dessa história que é interligada desde aquele 8 de março de 2017.
O Barcelona de hoje aposta em Lamine Yamal e Pau Cubarsí, 16 e 17 anos, adolescentes criados nas categorias de base. O PSG ensaia a despedida de Kylian Mbappé, o único craque que restou do mega trio de ataque.
Uma nova história começará a ser escrita, mas os acontecimentos de 8 e 9 de março de 2017 ainda pairam sobre as duas equipes. Um jantar, uma promessa e uma foto que mudaram a história do futebol europeu.
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