Permanência de Xavi escancara Barcelona sem dinheiro e pouco atrativo
Foram 90 dias entre a entrevista de Xavi dizendo que não continuaria no comando do Barcelona, em 27 de janeiro, e o anúncio de que ele seguiria no clube, nesta quinta-feira.
A permanência do treinador escancara a realidade do time que, em diferentes períodos deste século, foi aclamado como guardião do melhor futebol do planeta. Do clube capaz de juntar Messi, Neymar e Suárez, de encantar o mundo com Ronaldinho, de mudar a história do esporte sob o comando de Pep Guardiola.
Esse Barcelona encantador não existe mais há quase uma década, mas faltava um choque de realidade para que diretoria e torcida entendessem o tamanho do problema. Ele veio em forma de uma palavra curta e definitiva: "não".
Com o anúncio de que Xavi não continuaria, a busca por um novo treinador começou com a sensação de que haveria uma fila de candidatos, uma enxurrada de currículos, que Joan Laporta poderia escolher entre um amplo e variado cardápio.
Não foi assim. Os três treinadores no topo da lista de desejos — Pep Guardiola, Jurgen Klopp e Luis Enrique — deixaram claro, de forma pública ou em conversas privadas com emissários do clube, que não estavam interessados no trabalho. Foram três "nãos" na cara de um clube que se acostumou a sempre ouvir que sim.
Nos casos de Guardiola e Luis Enrique, ambos têm contratos com Manchester City e PSG. Klopp, que deixará o Liverpool ao final da temporada, preferiu tomar um ano sabático; antes de colocar as sandálias e descansar, ele será comentarista da Eurocopa para uma TV.
Sem os treinadores da primeira prateleira, o Barcelona foi atrás de Roberto De Zerbi, comandante do Brighton, atual oitavo colocado na Premier League. O italiano está no radar desde 2020, quando participou de um evento organizado pelo clube catalão, com outros treinadores.
Na avaliação do departamento de metodologia do Barcelona, De Zerbi seria um perfil adequado às demandas por um jogo com posse de bola, trocas de passes e estilo ofensivo, pilares dos quais o clube se orgulha de não abrir mão.
Mas as conversas com o treinador do Brighton não foram adiante por uma questão financeira: uma multa de 12 milhões de euros, que deveria ser paga ao clube inglês. Além disso, De Zerbi chegaria pedindo algo que hoje o Barcelona não pode fazer: contratar ao menos três jogadores de primeiro nível.
Outro nome que circulou pelos corredores do clube foi o de Hansi Flick, ex-técnico da Alemanha e do Bayern de Munique. Era Flick quem estava no banco do time alemão na grande humilhação da história do Barcelona na Champions League: a goleada por 8 a 2, em 2020, em Lisboa.
Mas Flick não era unanimidade, nem seria barato. Apareceu, por fim, a solução caseira: o mexicano Rafa Márquez, técnico do Barça Athletic (antigo Barça B), cuja única experiência como treinador no futebol profissional é comandar um time de garotos na terceira divisão da Espanha.
Com Márquez como única opção, sem dinheiro e colecionando "nãos" dos únicos treinadores que poderiam motivar mais uma loucura econômica de sua gestão, Joan Laporta mudou a estratégia e passou a trabalhar para convencer Xavi a ficar.
Não foi tão difícil quanto poderia parecer. Assim como o Barcelona ficava sem grandes opções, um Xavi desempregado não causava furor no mercado.
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Quero receberA solução para lidar com essa nova fase — sem Champions, sem Messi, sem o poder de atrair os melhores do mundo — foi manter o homem que, como jogador, sempre foi a cara do estilo Barça.
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