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ReportagemEsporte

Lesões, pai maluco e treta com Messi: por que promessa do Barcelona sumiu

O verão europeu de 2021 foi movimentado no Barcelona. A saída de Lionel Messi, anunciada de forma surpreendente, causou um vácuo imensurável no clube. E, enquanto o argentino enxugava as lágrimas no anúncio de sua despedida, a diretoria procurava um substituto — ou, diante da missão impossível, um candidato a herdeiro.

Três semanas depois do adeus de Messi, o Barcelona anunciou quem seria o novo dono da camisa 10: Ansu Fati, então com 19 anos, seria o encarregado de continuar a história do número mais importante da história azul e grená.

A escolha, naquele momento, fazia sentido. Fati era considerado um fenômeno das categorias de base e tinha uma carreira meteórica, saltando do time juvenil para o principal do Barcelona, sem passar pelo time B. Na seleção espanhola, também havia pulado a seleção sub-17 — jogava com a sub-21 desde os 16 anos.

Ansu Fati no Brighton: quatro gols em 25 jogos
Ansu Fati no Brighton: quatro gols em 25 jogos Imagem: Divulgação/Brighton

Menos de três anos depois de herdar a camisa 10 de Messi, a história de Ansu Fati se distancia da trajetória do argentino. E passa longe, também, do próprio Barcelona.

Aos 21 anos, o atacante é reserva do Brighton, onde está emprestado até junho, e tem recebido poucas oportunidades do técnico Roberto De Zerbi. Em 2024, foram 11 partidas, apenas duas como titular, zero gol, zero assistência. No total, pelo clube, Ansu marcou quatro gols em 25 partidas.

O cenário, olhando para o futuro, é incerto. De Zerbi afirmou recentemente que Fati tinha que melhorar "aspectos físicos e psicológicos" para ter novas chances. Após a derrota de 4 a 0 para o Manchester City, na quinta-feira, o treinador foi questionado sobre uma possível renovação do empréstimo do atacante. Não se mostrou otimista.

"Ele é um grande talento. Mas não sei. Tenho que falar com a diretoria, com os olheiros, e depois conversar com Ansu Fati". Nos bastidores do Brighton, é fim do ciclo do atacante é dado como certo; no Barcelona, a hipótese mais forte é de um novo empréstimo, com prioridade para equipes espanholas.

Ansu Fati deixa campo após sentir lesão em Celta x Barcelona
Ansu Fati deixa campo após sentir lesão em Celta x Barcelona Imagem: MIGUEL RIOPA / AFP

Lesões graves e falta de confiança

Mas o que levou Ansu Fati de ser o herdeiro de Messi e convocado para a Copa de 2022, a ser um jogador que pode ser rifado no próximo mercado da bola? A resposta imediata passa pelas lesões.

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A mais grave delas aconteceu em novembro de 2020, antes mesmo da saída de Messi. Ruptura do menisco do joelho esquerdo. Quando voltou, 321 dias depois, em setembro de 2021, Fati já era o camisa 10 do Barcelona.

Com o número histórico às costas, Ansu fez oito jogos oficiais, marcou quatro gols, e voltou a se machucar. Depois de dois meses fora, voltou num clássico contra o Real Madrid, marcou um gol (O Barcelona perdeu por 3 a 2 ), e lesionou-se no jogo seguinte. Mais três meses fora.

A falta de continuidade num momento fundamental da carreira, aliada à insegurança pós-lesões fez Fati perder espaço. "Ele nunca mais foi o mesmo", afirma um diretor do clube.

E, quando Fati parecia reconduzir a carreira, como jogador útil — mas não como protagonista — irrompeu uma figura fundamental para entender os caminhos de sua carreira: o pai, Bori Fati.

Ansu Fati em 2018: o pai, Bori, ficou conhecido pelas confusões fora de campo
Ansu Fati em 2018: o pai, Bori, ficou conhecido pelas confusões fora de campo Imagem: Arquivo Pessoal

O caos do incendiário

Nascido na Guiné-Bissau, assim como o filho mais famoso, Bori Fati tentou seguir carreira no futebol. Durante 4 anos, ele passou por equipes de ligas inferiores de Portugal, até mudar-se com a família para a Andaluzia, no sul da Espanha, onde trabalhou na construção de linhas de trem e depois como motorista do prefeito da cidade de Herrera, onde viviam os Fati.

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Em 2012, a família mudou-se para Barcelona porque Braima, irmão mais velho de Ansu, havia assinado contrato com o clube catalão. O primogênito dos Fati tinha 14 anos; Ansu, muito menos badalado que o irmão, era cinco anos mais novo.

Nesta época, o patriarca dos Fati já fazia das suas: antes de aterrissar em Barcelona, Bori conversou com outros três clubes (entre eles o Real Madrid) e tornou a negociação pelos filhos uma novela digna das grandes estrelas.

Depois, já na capital catalã, Bori tornou-se famoso pelo comportamento agressivo nas reuniões com o clube. Antes de assinar o primeiro contrato profissional de Fati com o Barcelona, ele ameaçou levar o filho para o Real Madrid.

O temperamento intempestivo de Fati Pai levou o filho a mudar de empresário duas vezes, antes mesmo de receber a camisa 10 do Barcelona. O primeiro agente foi o catalão Josep Maria Minguela; depois, o irmão de Messi, Rodrigo, passou a representar a jovem promessa.

Ansu Fati comemorando gol do Barcelona com Messi: relação azedou após rompimento com empresário
Ansu Fati comemorando gol do Barcelona com Messi: relação azedou após rompimento com empresário Imagem: Lçuis Gene / AFP

Por fim, em 2020, Bori Fati assinou contrato com o português Jorge Mendes, considerado o empresário mais poderoso do mundo. Nos bastidores do Barcelona, há quem diga que este movimento causou mais um problema: Lionel Messi não gostou de ver Ansu Fati rompendo o contrato com seu irmão, e passou a ter uma relação fria com o atacante. "Antes, Leo era um tutor de Ansu; depois disso, mal falava com ele", afirma um funcionário do clube.

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Mas o ato final foi ainda mais desastrado. Em 2023, quando o filho ainda lutava para se reerguer no Barcelona após as seguidas lesões, Fati Pai deu uma entrevista à Cadena SER com uma série de declarações que tornaram impossível a permanência de Ansu no clube.

Entre outras coisas, o pai afirmou que o camisa 10 deveria ser tratado como "principal jogador do time", disse que já não ia ao estádio ver as partidas, e criticou Luis Enrique por convocar o filho para a Copa do Mundo e não usá-lo. Além disso, acusou o Barcelona de ter apressado a volta de Ansu após as lesões.

Foi a pá de cal em qualquer chance de permanência na Catalunha. E o início de uma nova fase que, pelo menos até agora, parece longe de um final feliz.

Reportagem

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