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Mensagem de Rodrygo para o RS vira fake news política na Europa

A mensagem na camiseta do atacante Rodrygo, durante a semifinal da Champions League entre Real Madrid e Bayern de Munique, ganhou o mundo. A frase "Pray for RS" (Rezem pelo Rio Grande do Sul, em português) foi vista e comentada em todo o planeta, quando o jogador perdeu uma chance de gol e levantou a camisa do uniforme do clube espanhol.

Era a solidariedade de um atleta de elite, em um dos maiores palcos do esporte, às vítimas da crise humanitária e ambiental vivida no sul do Brasil.

Mas, na Bósnia —no leste da Europa— a mensagem chegou de outra forma. Tão logo a frase "Pray for RS" apareceu na tela de um dos principais jogos de futebol do ano, perfis nas redes sociais do país começaram a dizer que se tratava de uma mensagem política, favorável à República de Srpska.

A República de Srpska (também conhecida como Repúblika Sérvia), cuja abreviatura também é RS, é uma das entidades políticas que compõem o complicado mapa local; a outra é a Federação da Bósnia e Herzegovina. Juntas, as duas entidades formam a Bósnia e Herzegovina, em um arranjo político feito no Acordo de Dayton, em dezembro de 1995, após a Guerra da Bósnia.

O clima de tensão entre as entidades é constante: a República de Srspka chegou a se declarar independente entre 1992 e 1995, durante o conflito. A principal reivindicação histórica é que ela seja integrada à Sérvia, para a criação da chamada Grande Sérvia — uma tentativa de integrar os sérvios que vivem em diferentes países vizinhos, e apontada por especialistas como um dos estopins da Guerra dos Balcãs.

Debate na ONU e fake news

O uso político do gesto solidário de Rodrygo tem explicação nas notícias recentes da região balcânica. Nas últimas semanas, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem debatido a possibilidade de criar uma data para lembrar o massacre de Srebrenica, considerado um dos maiores crimes de guerra da segunda metade do século 20.

Milorad Dodik, o presidente da Republica de Srpska, entidade política da Bósnia e Herzegovina.
Milorad Dodik, o presidente da Republica de Srpska, entidade política da Bósnia e Herzegovina. Imagem: Laura Boushnak/The New York Times

Em julho de 1995, o exército de República de Srpska, com a ajuda de uma unidade paramilitar da Sérvia, invadiu a cidade de Srebrenica e matou mais de 8 mil homens bósnios muçulmanos.

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A tentativa da ONU de criar uma data-homenagem encontra forte resistência entre os políticos da República de Srpska, sobretudo o presidente da entidade, Milorad Dodik.

Na semana passada, durante a celebração da Páscoa ortodoxa, Dodik fez um discurso em que pediu orações para a República de Srpska — o que em inglês poderia ser traduzido para "Pray for RS". Dodik costumeiramente fala sobre um complô internacional para destruir a entidade política que preside: uma suspeita que encontra poucas evidências no mundo real.

A notícia (obviamente falsa) que corria entre os simpatizantes de Dodik era que Rodrygo estava prestando solidariedade ao povo da República de Srspka.

A fake news se alastrou de tal forma que o Sport Sport, um dos maiores sites esportivos do país, precisou publicar uma reportagem para explicar a situação.

"É importante deixar claro imediatamente: se você acha que Rodrygo enviou uma mensagem de apoio à entidade bósnia da República de Srpska, que tem RS como abreviatura, você está errado", diz o texto do site.

"O Brasil tem passado por uma situação difícil nos últimos dias, com enchentes, um alto número de vítimas e desabrigados. A região afetada é o Rio Grande do Sul, que tem RS como abreviatura, e Rodrygo estava enviando uma mensagem a seus compatriotas", conclui.

Reportagem

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