Vini Jr. não precisa da Bola de Ouro. É a Bola de Ouro que precisa dele
O chute de Vini Jr. mal havia passado por Kobel, tocando lentamente a rede de Wembley, e a enxurrada começou: nas redes sociais, nos aplicativos de mensagens, nos sofás e nos bares do Brasil (e da Espanha), três palavras se repetiam: "Bola de Ouro".
É natural que o torcedor brasileiro busque o reconhecimento mundial de seu melhor jogador. O último representante do país a ganhar o prêmio foi Kaká, em 2007. Na época, as redes sociais engatinhavam, os aplicativos de mensagem eram outros, o telefone não pipocava de notificações. Daquela época, já distante, só alguns sofás e bares resistiram.
Em 2007, também, não existia na torcida — e na imprensa — brasileiras o fascínio pelo prêmio individual de melhor do mundo. Menos ainda pela Bola de Ouro, da revista francesa France Football, que durante décadas era dado apenas ao melhor jogador europeu, ignorando Pelé, Garrincha, Rivellino, Maradona e Zico para consagrar Denis Law, Oleg Blokhin, Allan Simonsen ou Igor Belanov.
Os tempos são outros, é verdade. A rivalidade entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo levou os prêmios individuais a uma condição de oráculo, em que especialistas decidiam, ano após ano, quem era o melhor entre os dois astros que brilhavam quase sozinhos no universo do futebol.
Classificação e jogos
Entre 2008 e 2017, o tal oráculo deu 5 prêmios para cada um. Uma década inteira em que a festa da Bola de Ouro era uma espécie de jogo à parte, uma final que o mundo parava para assistir. E depois de cada prêmio de Messi, os fãs de Cristiano Ronaldo continuaram pensando que o português era melhor. E vice-versa.
Em 2018, Luka Modric levou o prêmio; em 2022, foi a vez de Karim Benzema. Nos dois casos, não houve a sensação de que o futebol estivesse se renovando. Porque não estava.
O ano da renovação seria 2023, quando Kylian Mbappé e Erling Haaland seriam os favoritos ao prêmio pelo que fizeram na temporada. Mas Messi implodiu a disputa com o título da Copa do Mundo de 2022.
Coube a 2024 ser o marco inicial, o ano domini de um futebol que já se despede de Messi e Cristiano Ronaldo, ambos exilados em terras distantes da elite mundial.
O vencedor deste ano, portanto, será o rosto dos próximos anos da elite do esporte mais popular do mundo.
A temporada de Vini Jr já é histórica. Decisivo nos momentos mais importantes da temporada do Real Madrid, capaz de desequilibrar uma final de Champions League, de marcar três gols contra o Barcelona na Supercopa da Espanha, de se transformar em um atacante mais versátil, de manter no topo um clube que trocou Karim Benzema por Joselu.
Fora de campo, o brasileiro encampou uma batalha que ganhou reconhecimento mundial, e que faz seus detratores mais raivosos ficarem cada vez mais em evidência pelo que são: racistas.
Para a Bola de Ouro, seria importante premiar um jogador jovem, do país mais vencedor do futebol mundial, e que — além de ter feito uma temporada com todos os feitos descritos acima — carrega uma mensagem forte num contexto em que cada vez os jogadores falam menos e os racistas gritam mais.
Para Vini Jr, ganhar a Bola de Ouro seria transformar em troféu o reconhecimento que ele já tem da torcida do clube mais vencedor do mundo, e que começa a ter cada vez mais dos torcedores da seleção mais vitoriosa da história. Um reconhecimento que, a rigor, não precisa de troféu nenhum. Ninguém jogou mais bola que o brasileiro nesta temporada até aqui (a Eurocopa e a Copa América podem maquiar esse cenário, mas mudá-lo é improvável), e não é um prêmio que dirá o contrário.
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Quero receberVini Jr. não precisa da Bola de Ouro para ser o líder técnico da seleção brasileira no ciclo até a Copa de 2026. Nem para ser um ídolo mundial como o símbolo do estilo que consagrou o futebol pentacampeão.
A Bola de Ouro não fará de Vini Jr. melhor jogador do que ele já é. Mas ele pode fazer dela um prêmio mais relevante, inaugurando uma nova era no futebol.
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