Destaque na Premier, ex-Fla ganhou tudo com Vini Jr. e quase quebrou Neymar
O time do Flamengo que ganhou tudo nas categorias de base entre 2014 e 2017 tinha como destaques dois garotos chamados Vinícius. Um deles era Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior, hoje mundialmente conhecido como Vini Jr., melhor jogador da Champions League e favorito aos prêmios individuais na temporada.
Mas, para que Vini Jr. pudesse brilhar, alguns metros atrás no campo havia um xará, Vinícius de Souza Costa, um meia que virou segundo volante, depois passou a jogar ainda mais atrás. Era ele que roubava as bolas e carregava o piano para os colegas naquela equipe que "zerou" os títulos nas categorias inferiores.
Longe dos holofotes do Real Madrid campeão europeu, Vini Souza, o outro Vinícius daquele Flamengo, também vai ganhando espaço no futebol do Velho Continente. Na temporada 2023-24, ele defendeu o Sheffield United e foi um dos destaques individuais do time, apesar do rebaixamento para a Championship, a segunda divisão inglesa.
Mesmo com o resultado coletivo ruim, o desempenho de Souza chamou a atenção. Por isso, ele já está na mira de outros times ingleses para permanecer na elite do país: o Aston Villa é um dos candidatos. Fora da Premier League, o Milan também monitora a situação do volante, que deve disputar uma das grandes ligas europeias em 2024-25.
Vini chegou ao Sheffield depois de uma temporada no Espanyol — na Catalunha, ele também teve bom desempenho individual, mas viu o time cair para a segunda divisão. Antes, passou pelo futebol da Bélgica, depois de viver de perto (mesmo sem muitas chances de jogar) o ano mágico de 2019 no Flamengo.
Em seu primeiro ano na Premier League, destacou-se pelos desarmes: com uma média de 3,5 por jogo, ele foi o terceiro na estatística na liga, atrás apenas do português João Palhinha, do Fulham (4,6) e do colega João Gomes, do Wolverhampton (3,8).
O UOL falou com Vini Souza na reta final da temporada na Inglaterra. Além de uma análise da estreia na Premier League e da projeção para o futuro, o volante comentou sobre a amizade com Vini Jr e lembrou o dia em que foi chamado para treinar com a seleção brasileira — e quase machucou Neymar.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
O primeiro ano na Premier League
Realmente foi melhor do que eu esperei individualmente. Eu sabia que seria bem diferente da La Liga, que tem um jogo mais posicional, de mais posse de bola. Na Premier o jogo é totalmente de contato, muita velocidade, muito jogo de contra-ataque, também. Mas realmente eu posso dizer que aproveitei muito, sabe? Eu gostei demais de jogar na Premier League. E espero ficar jogando mais em alto nível, igual foi esse ano.
Diferenças do jogo na Liga Inglesa
Dois segundos aqui na Premier League é muita coisa, então quanto menos tu pensar e tentar jogar o mais rápido possível, melhor. Também tem muito lance de contato, né, que aqui é bem forte. Acho que o fato de ter jogado na Bélgica (atuou no Lommel e no Mechelen) já me preparou muito, porque a Liga Belga é bem mais forte fisicamente. Quando eu fui pra Espanha eu já melhorei em relação ao posicionamento. Na Premier League as duas coisas se misturaram. Isso facilitou a minha adaptação.
Estilo mais físico casou com a Premier
Realmente é um jogo que eu gosto muito, assim, de contato. Mas é bom também que aqui na Premier League tu joga muito também com a bola, né? É muito bom. E eu acho que o que eu mais gosto é jogar. Se eu falar que eu quero ficar defendendo o tempo todo, eu não quero, né? É muito difícil.
Aqui o nível é muito alto, tu pega os times e tem sempre ótimos jogadores. Se sai para pressionar, os caras já fizeram uma tabela nas tuas costas, as coisas acontecem bem rápido. Mas eu achei bem fácil e bem rápida a minha adaptação.
Parecia que eu já vinha jogando aqui há um tempo.
Jogando contra as estrelas da Liga Inglesa
Eu gostei muito de jogar contra o Salah, acho que fui bem, ganhei o prêmio de melhor em campo. Isso vendo pelo lado bom, digamos assim. Mas também teve os caras que me causaram dificuldades: no segundo jogo contra o Arsenal, o Odegaard foi muito bem, e foi bem difícil de defender, eles jogaram praticamente com dez no nosso campo.
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Quero receberInfelizmente eu não consegui jogar contra o De Bruyne porque ele estava lesionado, era um cara que eu queria jogar muito contra. Contra o Madison do Tottenham foi muito bom, também, um jogador que se movimenta muito, tenta muito jogar na costa do adversário.
Aprendendo em campo com Rodri
Tem muito jogador bom aqui, mas o Rodri é um cara que deu pra admirar mesmo durante o jogo. Ele caiu muito no meu setor, mesmo ele sendo um volante. Em campo, parecia que ele tava meio em câmera lenta, sabe? Muitas vezes ele está pressionado, e mesmo assim, ele consegue achar uma solução bem rápida. E depois ele chega na frente e aproveita as chances, pode ver que, na maioria das vezes, ele faz os gols decisivos do City. Contra a gente, foi da mesma maneira: ele fez o gol decisivo nos dois jogos. Então foi um cara que eu consegui aprender legal.
Muitas oportunidades na estreia
Eu queria jogar todos os minutos, tinha jogo que eu saía e eu já ficava meio triste, porque eu queria jogar até o final mesmo, muito cansado. E, cara, tentei aproveitar ao máximo. Na Premier League, até mesmo nos jogos ruins você aprende. Então foi super incrível ter essa quantidade de jogos na primeira temporada.
Os confrontos com Vini Jr. na Espanha
Na primeira vez foi engraçado. A gente sempre se fala, mas naquela semana ficamos em silêncio. Eu pensei "não falei não vou com ele, eu sei que ele também não vai falar comigo". Chegamos no campo e eu não quis nem saber, se ele fizesse alguma graça, eu ia chegar nele. Mas foi bem de boa, eu brinco até ele sobre isso, que muitas vezes ele foge de mim no campo. A maioria das vezes ele ia pro outro lado dos caras e passava, porque é muito rápido. Mas foi bem prazeroso poder jogar contra ele e no momento que ele tá hoje é muito legal ver o que tudo aconteceu na vida do Vinícius. Eu fico muito feliz por ele.
O estilo de Vini Jr. e o racismo
Desde o início o Vinicius sempre foi um jogador de escutar e não ficar calado, né? Ele sempre bateu boca e sempre ia pra cima dos jogadores e isso deixava os jogadores muito mais bravos. É justamente isso foi o que aconteceu na Espanha, que eu acho super normal do futebol, né? Só que o pessoal acabou levando pro racismo.
É triste, porque sei de onde ele saiu, tudo que ele conquistou? e ser recebido dessa maneira, é muito triste mesmo, mas ele sabe que todos nós estamos com ele e que ele vai conseguir passar por cima disso e vai só demonstrando dentro de campo como ele vem fazendo.
Mal-acostumado com ganhar tudo
No Flamengo, a gente ganhava tudo. Daí nos primeiros seis meses que eu estava no Lommel (da Bélgica) eu vi que para eles parecia normal empatar ou perder. No vestiário, depois de uma derrota, todo mundo estava normal. Eu ficava estressado com aquilo. Pô, no Flamengo a gente ganhava de 1 a 0 e tava ruim.
Meu pai me ajudou bastante, falava comigo pra eu me acalmar. Quando fui jogar no Mechelen, tinha outro brasileiro, o Igor Camargo, e ele me falava "cara, quando acabar o jogo, toma banho e já vai embora, vai pra casa". Eu comecei a fazer isso e aos poucos fui aprendendo. Mas os primeiros meses foram difíceis, porque saí do Flamengo, onde ganhamos tudo na base, e depois em 2019 também no profissional.
Planos para o futuro
Eu sou um cara que vive muito o presente. Eu converso muito com meu pai, meu pai sempre me ensinou, junto com a minha mãe, de pensar no presente. Faz um ano que não vou pro Brasil, quero encontrar minha família, ficar uns dias meio off e depois começar a conversar sobre o futuro.
Invasão brasileira na Premier League
Acho que toda rodada eu enfrento algum brasileiro. Isso é super legal, porque antes os brasileiros tinham a fama de ser preguiçosos, de não trabalhar, e isso agora mudou. Hoje você vê os jogadores brasileiros nas melhores equipes, e isso é muito prazeroso.
O dia em que quase quebrou Neymar
Eu estava na base do Flamengo, acho que no primeiro ano de sub-20. Daí precisavam de gente pra completar um treino da seleção brasileira e me chamaram. Chegando lá, o nível é altíssimo de treino, cara? Os caras levavam a sério, faziam umas coisas que no Flamengo a gente não fazia, né?
Era tipo um mini jogo, um sete contra sete. E o Thiago Silva, cara, dava um, dois, três carrinhos, todo mundo treinando muito forte. Eu fui gostando daquilo, fui me soltando, e uma hora o Neymar tava parado na minha frente, o Thiago Silva gritou "pega" e quando ele passou eu dei por trás nele. O mais engraçado foi depois: eu vi que tava tudo bem e meti o pé, nem pedi desculpas nem nada.
Quando acabou o treino, eu queria pedir uma foto com ele, mas não sabia nem como pedir. Ele estava cercado de fisioterapeutas e eu pensando "meu irmão, o que eu fiz?". Mas depois eu cheguei, pedi uma foto, ele estava tranquilo comigo, tiramos uma foto e guardei aquele dia pra sempre.
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