Barça ou Morte: marca usa futebol para denunciar "maior cemitério europeu"
Em 2023, pelo menos 6.618 pessoas morreram na travessia do norte da África até a Espanha. O número mostra a dimensão da crise humanitária dos refugiados no Mar Mediterrâneo e está estampado nas costas de uma camiseta que usa o futebol para dar visibilidade ao drama dos refugiados.
A peça, chamada "Barça o Barzakh", foi idealizada e fabricada pelo grupo TopManta, um coletivo de vendedores ambulantes de origem africana de Barcelona, chamados popularmente de "manteros". A história por trás dela é a dura realidade de milhões de famílias em alguns dos países mais pobres do mundo.
"A frase "Barça o Barzakh" (em português, "Barça ou Morte") é dita por jovens senegaleses antes do início da travessia. É uma frase que marca a saída deles de seu país, onde foram estrangulados pelas consequências do colonialismo, em busca de uma vida melhor", explica Lamie Sarr, porta-voz do TopManta, ao UOL.
A palavra Barça é uma referência não apenas à cidade de Barcelona, mas ao clube de futebol.
Para os africanos que arriscam a vida em barcos improvisados ou cruzam o deserto sem rumo, Barcelona — clube e cidade — é a palavra que sintetiza o final exitoso da travessia; é a forma de dizer, em uma palavra, que uma nova vida pode começar.
A camisa começou a ser vendida nesta semana, nos modelos preto e azul e grená (cores do Barcelona), e custa 55 euros (cerca de R$ 310) na loja do TopManta. A produção inicial é de 800 unidades — 400 de cada modelo.
A ideia dos criadores ao associar o futebol ao drama dos refugiados é atrair mais atenção para o tema. "O que tentamos fazer é, de certa forma, "hackear o sistema": nós já temos muita gente que nos apoia, mas precisamos atingir um novo público. O público do futebol, em sua maioria, não sabe o que está acontecendo com os refugiados. O Mediterrâneo é, hoje, o maior cemitério europeu", afirma Sarr.
A arrecadação com as vendas será destinada a projetos com imigrantes africanos. Criado em 2019, o TopManta é uma organização que tem como objetivo não apenas organizar os vendedores ambulantes e produzir roupas.
"Nossa ideia é integrar e educar nossos irmãos que chegam de outros países, além de ajudá-los a legalizar sua situação. Já conseguimos legalizar mais de 200 imigrantes africanos na Espanha", conta o porta-voz.
"Não estamos vendendo uma camiseta. Estamos vendendo uma história, um grito para sermos ouvidos. Olhamos para esse número, 6.618, e temos que lembrar que são pessoas. E mais: além dos mortos, há também o luto e a tristeza das famílias, dos amigos", acrescenta Sarr.
Grupo aguarda apoio do futebol
A iniciativa que usa o futebol para dar visibilidade à travessia dos imigrantes africanos já conta com o apoio de grupos políticos e artistas.
O trailer da coleção "Barça o Barzakh" tem a participação das cantoras Mushkaa e Maria Hein, além dos atores catalães Miki Esparbé e Carlos Cuevas — o último ficou famoso no Brasil pela série "Merlí".
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Quero receberO próximo passo é chamar a atenção do mundo do futebol. Para Lamine Sarr, a presença cada vez maior de jogadores com ascendência africana nos grandes clubes da Espanha pode abrir um caminho.
"Ainda não chegamos aos jogadores de futebol, mas esperamos que essa campanha chegue até eles. Seria um apoio importante", afirma o porta-voz do TopManta.
Dois dos principais jogadores da seleção espanhola na Eurocopa são descendentes de africanos: Nico Williams é filho de refugiados de Gana; Lamine Yamal tem o pai marroquino e mãe de Guiné-Equatorial.
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