Casos de família: mãe de Yamal venceu o pai e fez filho defender a Espanha
Quando a seleção da Espanha entrar em campo para encarar a Alemanha nesta sexta-feira, às 13h (horário de Brasília), os olhos do futebol mundial estarão em Lamine Yamal. Aos 16 anos, ele já se tornou o mais jovem atleta a jogar e dar uma assistência em uma edição da Eurocopa — tanto na fase de grupos quanto no mata-mata.
Se fizer um gol, o ponta-direita do Barcelona colocará mais um recorde em sua lista. Mas, mesmo que a Espanha seja eliminada pelos alemães e Yamal não balance a rede, a maior vitória já foi conquistada: fazê-lo vestir a camiseta da seleção espanhola.
O caminho que fez o melhor jogador sub-17 do mundo escolher a Espanha incluiu reuniões, discussões e até uma disputa dentro da família do jogador. Mas comecemos do princípio: Esplugues de Llobregat, 13 de julho de 2007.
Lamine Yamal nasceu na cidade da zona metropolitana de Barcelona, filho do marroquino Munir Nasroui e da equato-guineense Sheila Ebana. Na infância, por influência do pai, torcia pela seleção marroquina. Uma paixão que virou polêmica durante a Copa de 2022, no Qatar.
Aos 15 anos, Yamal jogava pela equipe sub-19 do Barcelona quando Marrocos eliminou a Espanha nas oitavas de final, em decisão por pênaltis. No dia seguinte à partida, ele apareceu nos vestiários com uma camiseta da seleção marroquina, provocando os colegas. No fim do vídeo, Yamal beijava o escudo marroquino.
Apesar da declaração de amor ao país do Norte da África, o jovem já colecionava convocações para seleções espanholas na base: em 2021, foi chamado para o time sub-16; em 2022, para o sub-15, sub-17 e sub-19, algo inédito na história do futebol do país ibérico.
O ataque marroquino
No início de 2023, dias após o vídeo e quando Lamine já começava a treinar com o time principal do Barcelona, os dirigentes marroquinos começaram a se mexer.
Em março, na prévia do amistoso contra a seleção brasileira, um dirigente da federação local disse ao UOL que havia um plano para tentar convencer o jogador do Barcelona. Dias depois, o técnico da seleção, Walid Regragui, aterrissou na capital catalã para reunir-se com o jogador e com o seu pai.
Sobre a mesa, havia uma proposta de defender Marrocos, uma espécie de plano de desenvolvimento dentro da seleção e outros benefícios. O garoto, então com 15 anos, escutou, agradeceu e voltou para casa.
Foi então que começou outra disputa: o pai queria que o filho jogasse por Marrocos; a mãe dava total liberdade para o garoto decidir. Àquela altura, Lamine já estava integrado às categorias de base da seleção espanhola e gostava das perspectivas de futuro — principalmente porque Luís de la Fuente, o novo treinador, tinha planos de aproveitar jovens atletas da base.
A equação poderia ser ainda mais complicada, caso a Federação de Guiné Equatorial entrasse no páreo. Afinal, Lamine teria direito de defender o país onde nasceu a sua mãe. Essa possibilidade, porém, nunca existiu.
"A Federação de Guiné Equatorial acordou tarde. Quando souberam que Lamine poderia jogar pelo país, ele já tinha estreado no Barcelona e tinha Marrocos e Espanha atrás dele", disse ao UOL Juvenal Edjogo, ex-capitão da seleção equato-guineense.
A decisão
Com a pressão paterna crescendo, novas reuniões e a investida de Marrocos cobrando uma resposta urgente, a tensão na casa de Lamine Yamal aumentou nas férias pós-temporada 2022-23.
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Quero receberNo fim de agosto, a seleção africana seria convocada para dois amistosos, e o técnico Walid Regragui queria colocar o prodígio na lista. Mas, na queda de braço dentro da sala de casa, a mãe de Lamine levou a melhor sobre o pai.
Com a promessa de que a Federação Espanhola (RFEF) cuidaria do garoto e faria de tudo para que ele se adaptasse aos poucos à equipe principal, Sheila passou a ser uma aliada. Ela conteve os ânimos do marido Munir e ambos chegaram a um consenso de que a decisão teria de ser 100% do filho.
Quando a lista de convocados de Marrocos para os amistosos saiu em 31 de agosto, o nome de Lamine Yamal não estava presente. O assunto foi o principal tema da entrevista coletiva após a convocação, e o técnico Walid Regragui jogou a toalha. "Estamos trabalhando nisso, não posso obrigar ninguém a jogar por Marrocos", afirmou.
No dia seguinte, Luís de la Fuente incluiu Yamal na lista de convocados para os duelos contra Geórgia e Chipre, pelas Eliminatórias da Euro. Lamine estreou e fez gol diante dos georgianos; mas ainda não seria o fim da história.
Nos meses seguintes, a seleção marroquina tentou de tudo para ficar com ele, até mesmo oferecer dinheiro à família. Mas Lamine já tinha tomado uma decisão. Em novembro, novamente contra Chipre e Geórgia, ele chegou a quatro jogos pela Espanha, ultrapassando o limite de três permitidos pela Fifa antes de uma mudança de seleção.
Diante da Alemanha, Lamine fará seu 12º jogo pela seleção espanhola. Ele já marcou dois gols e deu cinco assistências — duas delas nesta Eurocopa.
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