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Poucas chances e fogo amigo: como Vitor Roque foi de promessa a emprestado

Quando Vitor Roque foi apresentado pelo Barcelona, em janeiro deste ano, as redes sociais do clube não economizaram elogios. Nos bastidores, dirigentes mais animados também não continham a alegria com o jogador, contratado por 30 milhões de euros, mais 31 milhões em variáveis (um total que poderia chegar a R$ 360 milhões).

"Temos o 9 do futuro", disse um diretor mais empolgado.

Menos de 9 meses depois, o atacante brasileiro está emprestado ao Real Bétis, depois de 16 jogos — apenas dois como titular — e dois gols marcados com a camisa azul e grená. Ele pode estrear pelo clube sevilhano no domingo, contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu.

No intervalo entre a apresentação e o empréstimo, o jogador de 19 anos teve de lidar com alguns dos momentos mais complicados da carreira.

Uma história que envolveu disputas de poder dentro do Barcelona, críticas de colegas pelas costas, poucas oportunidades de jogar e um silêncio constante de Xavi Hernández, então treinador do clube.

Vitor Roque em sua estreia pelo Barcelona, no jogo contra o Las Palmas, pelo Espanhol
Vitor Roque em sua estreia pelo Barcelona, no jogo contra o Las Palmas, pelo Espanhol Imagem: Angel Martinez/Getty

No início, a pressa

O acordo entre Vitor Roque e o Barcelona foi fechado em julho de 2023, com a ideia do jogador só se apresentar um ano depois — ele ficaria emprestado ao Athletico no período. Quando o contrato foi fechado, Deco era um consultor do clube para o mercado brasileiro; meses depois, ele se tornou diretor de futebol.

Nos últimos meses de 2023, a situação no Barcelona foi criando um contexto favorável, em teoria, para que o atacante brasileiro pudesse antecipar a saída: a lesão de Gavi abriu uma vaga para inscrição de jogador, e Xavi não morria de amores por Robert Lewandowski, o dono da posição de centroavante.

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A mudança de planos poderia ter ajudado Vitor Roque, mas teve um efeito contrário. O jogador chegou a Barcelona recuperando-se de uma lesão e, segundo relatos de funcionários do clube, demorou para entrar em forma.

Segundo uma fonte do clube, Xavi não havia pedido a contratação, mas foi a favor da chegada do atacante em janeiro e tinha pressa para usá-lo. Essa pressa é apontada por quem acompanhou o processo de perto como um dos grandes problemas: Vitor Roque ganhou chances quando ainda não estava 100% fisicamente, nem adaptado ao estilo de jogo do clube.

O brasileiro estreou antes mesmo da apresentação: jogou 12 minutos contra o Las Palmas, pelo Campeonato Espanhol, em 4 de janeiro; três dias depois, mais 26 minutos diante do Barbastro, pela Copa do Rei. Ele saiu do banco em cinco dos oito jogos seguintes; nos outros três, não teve chances; no período, marcou dois gols.

Árbitro dá segundo amarelo a Vitor Roque, expulso contra o Alavés
Árbitro dá segundo amarelo a Vitor Roque, expulso contra o Alavés Imagem: Ander Gillenea/AFP

No meio, o silêncio

A tão esperada chance como titular só aconteceu em 17 de fevereiro, contra o Celta, jogando na ponta esquerda — com Lamine Yamal na direita e Robert Lewandowski como centroavante. O brasileiro foi substituído aos 13min do segundo tempo; o polonês marcou os dois gols na vitória por 2 a 1.

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Xavi, que no início deu oportunidades em sequência, mudou de ideia. O relato de pessoas que acompanham os treinamentos do clube é que o treinador passou a não gostar do desempenho de Vitor Roque. Mais do que isso, ele não conversava abertamente com o brasileiro, para explicar a situação.

André Cury, empresário do jogador, definiu a abordagem de Xavi como "implicância", em entrevista ao UOL. Segundo o agente, o treinador nunca deu qualquer justificativa para o comportamento com Roque.

O atacante ainda foi escalado mais uma vez como titular em 13 de abril, contra o Cádiz, desta vez em posição central, mas foi substituído aos 17min da segunda etapa. O Barcelona, com um time cheio de reservas, venceu por 1 a 0.

A situação com o treinador teve impacto em Vitor Roque. De acordo com um dirigente do Barcelona, o jogador ficou abalado com o tratamento recebido e chegou a chorar mais de uma vez.

O técnico Xavi Hernández durante partida do Barcelona
O técnico Xavi Hernández durante partida do Barcelona Imagem: NurPhoto/NurPhoto via Getty Images

No fim, o fogo amigo

Nos últimos meses de Vitor Roque no Barcelona, a situação se agravou. Dentro do próprio vestiário, o brasileiro passou a ser criticado por colegas — sempre pelas costas. Em conversas privadas, mais de um jogador comentou que o atacante não estava no nível necessário para jogar pelo clube catalão.

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O principal tema das críticas era uma suposta falta de adaptação ao jogo coletivo de passes do Barcelona. Além disso, segundo seus detratores, o Vitor Roque teria uma deficiência para dominar a bola.

Com a chegada de Hansi Flick e a pré-temporada, o atacante poderia ter uma nova oportunidade de mostrar serviço, mas as chances foram raras. Ele foi titular em dois amistosos — contra Manchester City e Olot — e jogou apenas o primeiro tempo; diante de Milan e Real Madrid, entrou nos minutos finais.

Ao UOL, o empresário André Cury afirmou que a situação financeira do clube pesou na decisão. "Por causa dessa crise econômica, eles estavam sem poder inscrever jogadores, então nem fizeram muita propaganda dele para o novo treinador. Ele não teve nem tempo", afirmou.

O Barcelona tem tido dificuldades para inscrever jogadores por causa das regras de fair play financeiro de LaLiga. De acordo com o regulamento, o clube precisa aumentar o faturamento ou aliviar a folha salarial para poder registrar atletas — emprestar jogadores, como é o caso de Vitor Roque para o Bétis, tem sido uma forma de reduzir os gastos com folha de pagamento para se adequar aos limites financeiros.

A reportagem do UOL entrou em contato com membros da comissão técnica de Xavi, para perguntar sobre a relação do ex-treinador com o brasileiro. "Não queremos comentar o assunto", disse um dos integrantes da equipe.

Reportagem

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