Em dois anos, nigeriano foi de volante na várzea a atacante no Espanhol
Se alguém fizesse um filme com a história de Christantus Uche, de 21 anos, correria o risco de ser criticado por exagerar nas reviravoltas do roteiro.
O nigeriano foi o atacante titular do Getafe nas duas primeiras rodadas do Campeonato Espanhol e marcou o único gol a equipe até aqui na competição, no empate por 1 a 1 com o Athletic Club, na estreia — na segunda rodada, a equipe madrilenha ficou no 0 a 0 com o Rayo Vallecano.
Um atacante que faz um gol em dois jogos por uma equipe de meio de tabela não costuma chamar a atenção. Mas o caso de Uche é totalmente diferente.
É aí que entram as reviravoltas, porque há dois anos, ele não era jogador profissional.
Na verdade, há duas semanas, ele não era nem atacante.
Editando o sonho
Para entender o tamanho da história, é preciso voltar no tempo, mas não muito. Em 2022, Uche chegou à Espanha para defender o Moralo, um time da cidade de Navalmoral de la Mata, de 17 mil habitantes, em Extremadura.
A equipe espanhola chegou até ele de uma forma curiosa: Uche jogava em ligas amadoras da Nigéria e editava, ele mesmo, os vídeos de seus melhores momentos.
Eram imagens instáveis, em campos de terra e com círculos toscos (que o jogador-editor fazia para mostrar quem era ele), mas a diretoria do Moralo não tinha nada a perder.
O início foi no time B, que jogava uma liga regional extremenha; depois de dois jogos, Uche chegou à equipe principal, que disputava a Tercera Federación, a quinta divisão do futebol espanhol. Na época, ele ganhava um salário de 800 euros (R$ 4.600).
O sonho de jogar na Europa estava sendo realizado, mas Uche queria mais. Logo na primeira temporada ele se destacou e chamou a atenção do Ceuta (não confundir com o Ceta, de Vigo).
Por mil euros (cerca de R$ 6 mil), Uche foi jogar na equipe, que estava na Primeira Federación, a terceira divisão local.
Era, pela segunda vez em meses, a grande chance da vida. O nigeriano aproveitou: colocou os dois pés no time titular e, com 1,90m de altura, força física e boa movimentação em campo, passou a chamar a atenção de equipes maiores.
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Quero receberA primeira a se interessar foi o Bétis, mas o negócio não andou. Em fevereiro deste não, o Getafe chegou com uma proposta de 500 mil euros (cerca de R$ 3 milhões), e o Ceuta aceitou. O contrato começaria em julho, no início da temporada 2024-25.
Só tem tu, vai tu mesmo
A ascensão meteórica havia levado Uche à elite do futebol espanhol, mas as primeiras notícias no Getafe não foram animadoras. Com problemas para adequar-se ao fair play financeiro de La Liga, o clube de Madri só tinha 15 jogadores inscritos para a primeira rodada.
Nenhum deles era centroavante.
O técnico José Bordalás, sem ter mais opções, colocou o novato Uche para exercer a função. O nigeriano fez um belo gol de cabeça, em pleno San Mamés — um dos estádios mais míticos da Espanha — em sua partida de estreia.
Foi apenas o segundo gol da carreira dele.
"Eu não sabia o que fazer depois do gol, não sabia nem como comemorar. Foi incrível", disse Uche, que usa a camisa número 6, tradicional de volantes e meio-campistas na Espanha.
Na partida seguinte, contra o Rayo Vallecano, o nigeriano voltou a ser escalado como atacante. A partida terminou 0 a 0, mas ele foi o melhor do Getafe em campo.
Neste domingo, Uche disputará sua terceira partida na Liga Espanhola, contra a Real Sociedad, no Coliseu de Getafe, às 14h15 (horário de Brasília).
O volante que editava os próprios vídeos na várzea continua vivendo o sonho.
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