'O problema está chegando': o que esperar de Depay no futebol brasileiro
"Você sabe que nós vamos agitar, f**der com tudo
O problema está chegando!"
As frases acima estão no refrão de Asem Beba, música de Memphis Depay. Sim, é isso mesmo: a nova estrela do Corinthians é, além de atacante, artista de rap, já lançou dois álbuns e tem 53 mil ouvintes mensais no Spotify (número que deve se multiplicar rapidamente).
O título da canção, Asem Beba, significa "O problema está chegando". Ela foi lançada em 2023 e, para quem convive com Depay, é um bom resumo da personalidade do holandês.
Memphis — como costuma usar em suas camisetas — é um dos maiores representantes vivos do estilo de jogador de futebol popstar. Ele é extravagante, gosta de ostentação: joias, carrões, iates, e não esconde isso de ninguém nas redes sociais.
Num mundo do futebol mega profissional, com jogadores bem comportados e clubes que trabalham com monitoramento de sono e contam as calorias diárias dos atletas, Depay é mesmo um problema.
Quem viu ele de perto, seja em Manchester, Lyon, Barcelona ou Madri, afirma que o holandês é uma espécie de gênio indomável.
Há muitos episódios que explicam bem o personagem. Um deles aconteceu na Inglaterra, em 2016. Depois de uma primeira metade de temporada ruim no Manchester United, Depay foi enviado para jogar uma partida no time B, repleto de jogadores sub-21.
Wayne Rooney, um dos líderes do elenco do United, aconselhou o holandês a ser mais discreto naquela partida — afinal, era a equipe B e ele estava cercado de jovens.
Depay chegou ao estádio dirigindo um Rolls-Royce, com um casaco de couro e um chapéu de cowboy.
A extravagância tem seu preço: o jogador já teve suas casas roubadas pelo menos duas vezes, em Roterdã e em Barcelona. Nos dois casos, ladrões levaram joias e dinheiro.
A cara do Brasil
No Brasil, Depay tem tudo para se tornar um ícone. O desempenho esportivo depende de vários fatores, alguns deles que escapam do controle do jogador; mas fora de campo o atacante já tem um quê de brasilidade que deve transformar a adaptação em algo mais natural.
Filho de pai ganês, Depay costuma viajar sempre ao país africano, onde tem projetos sociais. Ao contrário da maioria dos jogadores europeus, ele conhece bem a realidade de um país com desigualdade social e sabe o que encontrará em São Paulo.
Memphis guarda boas memórias do país: em 2014, na sua primeira Copa do Mundo, o jovem então com 20 anos marcou dois gols, os primeiros pela seleção principal. Ele eternizou a relação com o Brasil em uma tatuagem do Cristo Redentor no abdômen.
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Quero receberA culinária também não será problema: desde os tempos de Barcelona, ele tem uma cozinheira brasileira. Quem já viu Depay em uma mesa de comida brasileira destaca a admiração dele pelo pão de queijo.
Ousadia e qualidade
Memphis leva o estilo ousado e irreverente para dentro de campo. E, quando está inspirado, costuma ser mesmo um problema — para as defesas adversárias.
Tecnicamente, o holandês nunca foi questionado. No início da carreira, ele era um ponta esquerda rápido e que partia para cima dos rivais. Com o tempo, passou a jogar mais centralizado, às vezes como segundo atacante num 4-4-2, outras como centroavante no 4-3-3.
Durante a maior parte da carreira, Depay não foi um artilheiro. Porém, com ótimo passe e visão de jogo, ele se transformou em um especialista em assistências: liderou o Campeonato Francês na estatística em 2020-21, pelo Lyon.
Foi na passagem pelo clube francês, entre 2017 e 2021, que ele viveu o auge. Era o grande momento da Liga Francesa na mídia, com o PSG de Neymar e Mbappé. Nesse contexto, Memphis conseguiu recuperar o prestígio perdido após uma temporada e meia de calvário em Manchester.
A qualidade técnica é algo que Depay ainda pode entregar no Corinthians, desde que esteja fisicamente bem. Se a capacidade do holandês com a bola nos pés nunca foi colocada em questão, o aspecto físico tem sido um problema nos últimos anos.
Lesões e festas
Memphis chegou a Barcelona em agosto de 2021, a custo zero. Na capital catalã, ele encontrou um time em fase de reconstrução, logo após a saída de Lionel Messi.
Depay jogou 44 jogos, marcou 14 gols e conquistou a Supercopa da Espanha da temporada 2022-23. Ele nunca chegou a ser ídolo, mas foi importante para dar esperanças à torcida num dos momentos mais sombrios da história do clube.
Na cidade, o holandês também ficou conhecido pelas festas. Frequentador assíduo de casas noturnas, ele tornou-se um dos melhores amigos de Daniel Alves — a ponto de ter sido apontado como responsável por pagar a fiança que tirou o brasileiro, condenado por estupro, da prisão até julgamento em segunda instância.
Ao UOL, fontes ligadas a Daniel Alves e a Depay negaram a informação sobre o pagamento.
O último clube do holandês foi o Atlético de Madrid, onde o problema de lesões, que já havia começado no Barcelona, intensificou-se. Na última temporada, entre clube e seleção, ele ficou fora por lesão em 28 jogos.
Foram no total, cinco lesões musculares, a mais grave delas deixou o jogador fora dos gramados por dois meses. A última, na Eurocopa, pela seleção holandesa, tirou Memphis da pré-temporada do Atlético e abriu o caminho para que, sem o contrato renovado e livre no mercado, ele fechasse o acordo com o Corinthians.
Depay está chegando. Ou, como diz a letra de Asem Beba, o problema está chegando. Falta responder uma pergunta: problema para quem?
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