Rei dos passes na Champions é brasileiro e levou 'não' de Fla e Corinthians
O jogador que mais dá passes para gols na Champions League é brasileiro. Igor Paixão, de 24 anos, está na terceira temporada no Feyenoord (Holanda), e já distribuiu três assistências nas rodadas iniciais do maior torneio de clubes da Europa — ele é o líder isolado da estatística entre todas as 36 equipes participantes.
O bom momento na competição continental coroa um novo perfil do brasileiro em campo: formado como atacante, Paixão aprendeu no futebol holandês a ser também um criador de jogadas.
Na atual temporada, ele já deu seis assistências (além das que distribuiu na Champions, foram mais três na Liga nacional) e marcou dois gols em 15 jogos. O número de passes decisivos já iguala o alcançado em 37 partidas na temporada 2022-23, a primeira dele na Europa.
"Hoje eu estou mais à vontade nessa posição. É claro que eu gosto de fazer gols, mas sei que se puder dar assistências e ajudar o grupo, todos vão ficar felizes", afirma Paixão, em entrevista ao UOL.
Sorrisos e "nãos"
A felicidade do time em campo ficou evidente nas duas últimas rodadas da Champions, quando venceu o Girona (3 a 2) e o Benfica (3 a 1), ambos fora de casa. Durante as duas partidas, os jogadores se olhavam e sorriam em campo.
"Jogar com alegria é a melhor coisa, né? Desde criança eu sonhava em jogar uma Champions, que era algo que a gente só via de longe, pela TV. Eu via os melhores jogadores na Champions, e agora estava lá, enfrentando grandes equipes. Por isso o sorriso", explica Paixão.
As primeiras imagens da Liga dos Campeões entraram na vida do jogador quando ele vivia em Macapá. Nascido na capital amapaense, com raízes quilombolas, ele se apaixonou pelo futebol e desde muito cedo sonhava em ser jogador. Então, começou uma jornada que Igor e o pai, José Paixão, fizeram juntos.
"Muitas pessoas não acreditavam. Chamaram meu pai de louco por sair do Amapá e ir pra outros estados atrás de oportunidades. Meus pais largaram tudo pra viver o meu sonho", lembra Paixão.
O sonho começou a virar realidade quando o garoto, então com 14 anos, foi o único aprovado em uma peneira de 40 jovens no Coritiba. Antes, ele tentou a sorte no Flamengo, no Santos e no Corinthians; foi reprovado no três.
"Cada vez que não me aprovavam, era um aprendizado para a vida, pra eu não desistir. Eu sempre pensava que tinha que trabalhar mais, e acabou virando uma motivação. Eu não podia me abater: a gente recebe tanto "não" diariamente, que eu fui atrás do "sim". E ele veio, no Coritiba", conta.
Perrengues e revezamento
O bom desempenho no clube paranaense levou Paixão à Holanda. E, num país frio, de idioma complicado e cultura diferente, adaptar-se foi um desafio. Além do apoio da família, o jovem novato contou com o apoio de um conterrâneo: o atacante Danilo Pereira, hoje no Rangers, da Escócia.
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Quero receber"Quando eu soube que viria para o Feyenoord, entrei no Sofascore e fui olhar o elenco. Daí vi 'opa! tem um brasileiro lá'. Era o Danilo. Ele me deu todo o suporte, me abraçou de uma forma que eu não esperava. Virou um irmão que vou levar pra vida toda", afirma.
O irmão mais velho que a Holanda deu a Paixão fez de tudo um pouco: Danilo foi colega de time, psicólogo, intérprete e guia turístico, entre outras funções.
"Nos três primeiros meses, eu não entendia nada. Falavam comigo e eu ficava mudo. Por isso, minha vida era comer, dormir e treinar", lembra Paixão, citando um dos perrengues do início da aventura em Roterdã — agora na terceira temporada, ele aprendeu inglês e já entende parcialmente o holandês.
Outro desafio, a solidão, é superado graças a um esquema de "revezamento" entre os pais, o empresário e a namorada do jogador. Como nenhum deles tem visto permanente, eles passam períodos de até três meses (a duração do período de turismo na União Europeia) na casa de Paixão.
Seleção é o novo sonho
Sair de Macapá para os principais campos da Europa foi uma parte do sonho de Igor Paixão. O atacante que joga sorrindo repete o gesto quando o assunto é a seleção brasileira.
"É um sonho, sim. É uma das metas que tenho, algo que ainda tenho pendente. Quero trabalhar forte todos os dias, para mostrar que tenho potencial para chegar lá. Espero que o Dorival possa um dia me colocar na lista. Eu vou estar preparado", afirma Paixão.
Em 2023, ele teve o gostinho de vestir a camisa amarela: foi num amistoso da equipe olímpica, comandada por Ramon Menezes, contra Marrocos. O atacante foi titular e atuou os 90 minutos na derrota por 1 a 0.
O caminho para voltar à seleção, agora na equipe principal, passa por continuar brilhando no Feyenoord. Na quarta, a equipe holandesa faz sua quarta partida na Fase de Liga da Champions: recebe o RB Salzburg, na quarta-feira, às 17h (horário de Brasília).
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