Afetados pela guerra, jogadores pedem que G20 discuta paz na Ucrânia
A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2014 e intensificada com a invasão russa em fevereiro de 2022, é um dos temas centrais da geopolítica mundial. Mas, pelo menos segundo declarações do presidente Lula, ela não deverá ser pauta de discussão na reunião do G20, no Rio de Janeiro.
O encontro, que reunirá alguns dos principais líderes do planeta, acontecerá na segunda e terça-feira. Segundo Lula, o Brasil "não quer transformar a reunião em uma discussão sobre guerras", referindo-se também ao conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, na Faixa de Gaza.
Há, entretanto, uma parte dos líderes que pretende abrir um debate sobre os conflitos. E é essa a expectativa de atletas brasileiros diretamente afetados pela invasão russa na Ucrânia.
"O G20 é o grupo de países mais influentes do mundo. Se esse grupo não tem poder para influenciar na busca pela paz, quem tem?", questiona Júnior Moraes, ex-atacante do Shakhtar Donetsk e da seleção ucraniana, em conversa com o UOL.
"Esse tema precisa ser discutido com certeza, é um assunto prioritário. A gente tem muita expectativa nesse encontro do G20. Esse tema precisa ser debatido lá, porque se esses países não se posicionarem em favor da paz, amanhã pode ser um deles sofrendo com uma guerra", acrescenta Moraes.
Quando o conflito se intensificou, em fevereiro de 2022, o atacante deixou o país e voltou ao Brasil. No país, ele ainda teve uma passagem pelo Corinthians, antes de interromper a carreira para ajudar em iniciativas para promover a paz na Ucrânia.
Conhecido por ter ótima relação com o Brasil, o Shakhtar conta atualmente com sete brasileiros no elenco. Marlon Gomes, ex-Vasco, foi um dos que chegaram no início deste ano.
Apesar do pouco tempo no país, ele já nota o quanto a guerra muda a rotina dos ucranianos e de quem vive por lá. Por isso, espera que a busca de um caminho para a paz esteja no centro da discussão do G20.
"É um assunto inevitável. É uma guerra que dura anos, afeta todo o contexto da Ucrânia, da Rússia, dos países vizinhos. É um assunto muito grande, que tem que ser discutido, e espero que possa entrar na pauta e que seja uma conversa no sentido de colocar fim à guerra", afirmou o meio-campista ao UOL.
"Já morreram muitas pessoas, muitas crianças, muitas famílias foram afetadas. Espero que essa reunião possa focar nisso, entre outros assuntos importantes, para que tudo isso termine da melhor maneira possível", acrescenta o jogador, que disputou o torneio pré-olímpico pela seleção brasileira.
A pauta no G20
As reuniões do G20 são entendidas como um fórum em que não se deve tratar especificamente de guerras, mas também que elas não podem ser ignoradas. Sendo assim, a abordagem dos conflitos nas pautas das reuniões não é um tema obrigatório.
No caso do conflito entre Rússia e Ucrânia, há uma tensão ainda maior porque os dois lados têm representação forte no G20: os russos são uma das principais potências do grupo, enquanto os ucranianos têm o apoio de grande parte da União Europeia.
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Quero receberUm dos argumentos usados recentemente por Lula para não colocar o conflito como assunto na reunião é o fato de os dois presidentes não estarem no Rio de Janeiro. Na ausência de ambos, há quem entenda que a discussão sobre a guerra perderia importância.
Espera-se, entretanto, que o documento final da reunião — a ser divulgado na quarta-feira (20) — traga um resumo sobre os principais desafios mundiais, o que deve incluir tanto a situação da Ucrânia quanto a guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza.
Um dos principais desafios diplomáticos do grupo é escolher as palavras para referir-se aos conflitos em seus documentos oficiais. No G20 de 2023, na Índia, a falta de um consenso sobre a terminologia usada no texto final quase impediu a sua publicação.
Driblando o conflito
Esportivamente, a situação do Shakhtar Donetsk e dos jogadores brasileiros do clube é de exceção há uma década. A equipe, que chegou a ter 15 atletas do país em seu elenco, teve de deixar sua cidade em 2014 devido à guerra na região de Donbas.
Desde então, entre mudanças de centro de treinamento e de estádios onde recebia seus jogos, o Shakhtar passou por Kiev, Kharkiv e Lviv, onde encontra-se atualmente.
Os sete brasileiros do elenco moram na cidade, próxima à fronteira com a Polônia e distante das áreas de invasão russa. Devido às restrições de tráfego aéreo, os deslocamentos internos para partidas são realizados de ônibus, em trajetos que duram até 12 horas.
Para os duelos fora do território ucraniano, a delegação cruza a fronteira com a Polônia de ônibus, e então usa os aeroportos do país vizinho para viajar.