Por que o novo Bernabéu virou um problema milionário para o Real Madrid
Quando os jogadores do Real Madrid se perfilarem em Anfield, na quarta-feira (27), para enfrentar o Liverpool, pela quinta rodada da Champions League, haverá algo bem diferente dos duelos no Santiago Bernabéu — e não se trata apenas da tradicional "You'll Never Walk Alone", cantada pela torcida.
O hino da Champions League, os anúncios do sistema de som do estádio e, claro, cântico tradicional dos Reds, estarão com o volume muito mais alto do que nos jogos em casa, capital madrilenha.
Construído para ser uma máquina de fazer dinheiro com eventos para além do futebol, o Santiago Bernabéu transformou-se num estádio condenado ao silêncio. E num problema de milhões de euros para o clube mais vencedor do futebol mundial.
O feudo merengue ocupa um quarteirão inteiro do bairro de Chamartín, um dos mais tradicionais da capital espanhola, e está em uma área de predominância residencial. Aí que mora o problema, literalmente: o ruído em dias de jogos sempre causou debate entre os moradores vizinhos, mas nunca levou o clube a ter maiores problemas; só que a reabertura do Bernabéu e o calendário de shows musicais mudaram o cenário.
Uma faixa colocada na janela de um prédio em frente a uma das entradas do estádio dá o tom das queixas. "Bernabéu sim, concertos não" diz a mensagem. Nos últimos meses, os moradores do bairro entraram com dezenas de denúncias contra o clube.
Uma lei municipal de proteção acústica estabelece um limite de 55 decibéis — os shows chegavam a 90, segundo diversas medições da polícia local. O resultado: o Real Madrid teve de reduzir o volume dos megafones do Santiago Bernabéu em dias de jogos, além de suspender os shows programados para o estádio até abril de 2025.
"O Real Madrid comunica que decidiu mudar, de forma provisória, a agenda de eventos e shows no estádio Santiago Bernabéu. A decisão faz parte de um conjunto de medidas para que sejam cumpridas as leis municipais", disse o clube, em uma nota oficial publicada em setembro.
A solução para o problema seria melhorar o isolamento acústico do estádio, o que significaria uma nova obra, e um aumento considerável no custo final do projeto. Uma das opções consideradas pelo clube é criar uma espécie de "escudo acústico" com lonas, para que o ruído chegue com menos intensidade aos vizinhos.
O clube chegou a tentar reduzir a potência dos amplificadores durante o show do cantor Romeo Santos, mas as medições de decibéis continuaram muito acima do limite permitido. Até que não haja uma solução efetiva, o estádio continuará vetado para eventos musicais.
A limitação dos shows e eventos é um golpe duro no planejamento do Real Madrid. Segundo um "plano de reformas" divulgado pelo presidente Florentino Pérez durante as obras, a ideia era receber cerca de 200 eventos anuais.
A previsão de faturamento com "estádio e sócios" era de cerca de 400 milhões de euros (cerca de R$ 2,4 bilhões) durante a temporada 2024-25, incluindo os concertos, eventos e outras atividades relacionadas ao Bernabéu.
Apenas com dois shows de Taylor Swift, em maio deste ano, o clube faturou cerca de 9 milhões de euros (R$ 54 milhões). Embora os concertos não estejam entre as principais fontes de renda do clube, eles eram apontados como um ponto diferencial do novo estádio.
Sem eles, e ainda procurando uma forma de reduzir o efeito dos ruídos na vizinhança, o Real Madrid vê sua casa ser obrigada a "gritar baixo". Juanito, ídolo do clube, disse certa vez que "90 minutos no Bernabéu são muito longos". Na atual temporada, os minutos são silenciosos, também.
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