Sonho de brasileiros, Mundial vira 'elefante na sala' para clubes europeus
Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras já têm marcados no calendário os meses de junho e julho de 2025. O primeiro "Super Mundial" da Fifa com 32 clubes é, para os brasileiros, o sonho de se impor diante de clubes europeus e fazer história com o título de um torneio sem precedentes por sua magnitude.
Na quinta-feira (5), o sorteio dos grupos mobilizou clubes, imprensa e torcedores. Confrontos como Palmeiras x Inter Miami, Botafogo x PSG, Flamengo x Chelsea ou Fluminense x Borussia Dortmund já estão no horizonte, cercados por expectativa.
Para os principais europeus, o megatorneio da Fifa causa bem menos fascínio. O Mundial pode causar, inclusive, uma crise incomum na elite do futebol, envolvendo alguns dos principais jogadores do mundo.
Nos últimos meses, as críticas ao evento ganharam corpo. Kevin de Bruyne, meio-campista do Manchester City, puxou a fila, reclamando do calendário intenso de jogos, que será aumentado com a nova competição.
"Sabemos que haverá somente três semanas de descanso entre a final do Mundial e a primeira rodada da Premier League. Nós, jogadores, podemos tentar fazer alguma coisa, mas nenhuma solução foi encontrada. Eles não se importam, o dinheiro fala mais alto", disse, durante uma entrevista coletiva em setembro.
Vencedor da Bola de Ouro, o espanhol Rodri — também do Manchester City — juntou-se à causa. "Acho que são jogos demais. Alguém precisa cuidar dos jogadores, porque somos as estrelas do espetáculo", afirmou o meio-campista, que está fora da temporada por causa de uma lesão de ligamentos do joelho.
Sem mencionar o Mundial, Vini Jr. também manifestou-se contra o calendário de jogos recentemente, após uma lesão muscular que o afastou de partidas importantes do Real Madrid.
Em conversas entre jogadores, não está descartada a possibilidade de uma espécie de greve: a ideia seria recusar-se a jogar por um período, para abrir negociações com os clubes, ligas e confederações.
Além do Mundial da Fifa, a Uefa também incrementou o calendário europeu, com uma nova Champions League que acrescentou duas rodadas a mais na fase de grupos (agora chamada fase de liga) e um playoff com ida e volta, o que pode resultar em até quatro datas além das que havia até a temporada passada.
Preocupação, interesses e milhões
Quem também observa atentamente os preparativos para o "Super Mundial" são as ligas, que organizam campeonatos nacionais. Presidente da Liga espanhola, Javier Tebas é um inimigo declarado do torneio e já pediu mais de uma vez a exclusão do torneio do calendário.
Recentemente, ele ganhou apoio do comissário da MLS, Don Garber. Durante uma apresentação em um congresso de líderes do futebol, o dirigente mostrou-se preocupado com "as consequências que mais jogos no calendário podem ter nos jogadores".
Tebas e Garber têm interesse direto na discussão. Com mais um campeonato no horizonte, os torneios nacionais poderiam perder peso e teriam jogadores mais cansados, poupados ou lesionados — o que afetaria diretamente no nível técnico das ligas domésticas.
O risco de perder jogadores pelo excesso de partidas já existe e é uma realidade que se impõe nas últimas temporadas. Os casos de lesões graves se proliferam.
O Real Madrid, por exemplo, já perdeu Dani Carvajal e Éder Militão até o fim da temporada. Antes mesmo das lesões de seus defensores, o técnico Carlo Ancelotti havia manifestado seu desgosto com a inclusão do "Super Mundial" no calendário, chegando a dizer que o clube não disputaria o torneio.
No mesmo dia, o Real Madrid divulgou nota contradizendo o treinador e reafirmando sua intenção de participar. Da porta para fora, o clube da capital espanhola diz que tem "orgulho em participar do torneio".
Nos bastidores, a ida aos Estados Unidos não é vista com tanto ânimo. A premiação milionária é uma motivação: a Fifa deve pagar 50 milhões de euros (cerca de R$ 310 milhões) por participação a cada clube, e o valor pode ser multiplicado por dois no caso do time campeão.
Só que, para os gigantes europeus, uma pré-temporada feita às pressas pode levar a uma temporada ruim, com prejuízos esportivos e financeiros em valores ainda mais altos do que os pagos pela Fifa. É essa equação, somada à possibilidade de greve de jogadores, que os gigantes europeus têm diante de si.
Até junho de 2025, enquanto os clubes brasileiros estarão olhando para o calendário, esperando alguns dos confrontos mais aguardados de suas histórias, os europeus tentarão resolver o quebra-cabeças com atletas e ligas.
O elefante está na sala. Os clubes mais ricos do mundo têm pouco mais de seis meses para decidir o que fazer.
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