Crime que provocou Primeira Guerra faz torcida ser banida 111 anos depois
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Em 28 de junho de 1914, o assassinato do príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, na cidade de Sarajevo, deflagrou uma série de conflitos que atingiram uma escala global e deram origem à Grande Guerra — posteriormente chamada de Primeira Guerra Mundial.
Na outra ponta da arma que disparou contra o arquiduque estava Gavrilo Princip, um sérvio-bósnio de 19 anos, parte de um grupo nacionalista que lutava por um estado iugoslavo unificado e independente dos austro-húngaros, que governavam a região à época.
Mais de um século depois, o crime voltou a ser assunto na Europa. E, por mais improvável que possa parecer, num contexto relacionado ao futebol.
Hoje, Rapid Viena e Borac Banja Luka — clube da parte sérvia da Bósnia — disputam na capital austríaca o duelo de volta das oitavas de final da Uefa Conference League, o terceiro torneio em importância no futebol europeu. No primeiro jogo, em Banja Luka, os times empataram por 1 a 1.
O duelo em Viena não terá presença de torcida visitante. No comunicado em que baniu a torcida do Borac Banja Luka do estádio, a Uefa cita incidentes da fase prévia às oitavas de final, contra o Olimpija Ljubljana, na Eslovênia, além de outros precedentes que tornariam a presença dos torcedores sérvio-bósnios uma ameaça à segurança da partida.
Diante do rival esloveno, a torcida do Borac Banja Luka protagonizou uma guerra de sinalizadores nas arquibancadas, que forçou a arbitragem a suspender o confronto por 19 minutos.
Não foi a primeira vez que os torcedores do Borac causaram problemas em competições europeias. Em 2024, a ala "ultra" da torcida atacou torcedores do Ferencvaros, da Hungria, e três homens acabaram feridos.
Em 2023, o mesmo grupo de torcedores — de ideologia fascista e conduta ultraviolenta — passeou pelas ruas de Viena com uma bandeira que estampava o rosto de Gavrilo Princip, antes de um duelo contra o Austria Viena, pelos playoffs de classificação para a Conference League.

No segundo jogo, em Banja Luka, os torcedores locais cantaram o nome de Gavrilo Princip, em provocação aos rivais. Para os austríacos, a mensagem é ainda mais forte, já que a vítima do assassinato foi um líder local. Uma nova bandeira, com a imagem de Princip segurando uma arma, voltou a aparecer no estádio do clube nas últimas semanas.
A imagem de Princip foi apropriada por grupos da extrema-direita na antiga Iugoslávia. No caso dos ultras do Borac Banja Luka, a mensagem política dominante é a de uma "grande Sérvia", que englobaria todas as regiões em que há população de etnia sérvia: o que inclui (além do atual território sérvio) a Bósnia, o Kosovo, parte da Croácia e regiões de Albânia, Bulgária, Hungria e Romênia.
Apesar de jogar como representante da Bósnia e Herzegovina, o Borac Banja Luka é um clube da República de Srpska, uma entidade política composta por regiões de maioria étnica sérvia dentro do território bósnio. Banja Luka é uma espécie de capital informal da República, onde fica a sede do governo.
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