A magia da camisa 8 corintiana
POR RAFAEL CASTILHO e PAULO ROBERTO BASTOS PEDRO*
Quando se olha para o número 8 uma simbologia permeia nossa mente: o infinito!
O número 8 se desenha de uma forma em que sua representação geométrica nos impede de definir um ponto de início ou um ponto de fim. Trata-se de uma representação contínua, infinita e permanente.
Infinito é o nosso amor pelo Corinthians.
O Corinthians se desfaz e se reinventa de maneira contínua e permanente. Em nossa história, inevitavelmente alternamos ciclos, vivemos, morremos, renascemos. Quando alguns incautos supõem que viram nosso fim, como que em um oito encontramos alguma maneira de nos reinventar.
Na numerologia, o 8 representa o equilíbrio entre duas forças similares, ou de duas partes de um todo. Não é difícil concluir que a interdependência entre a torcida e o jogo jogado dentro das quatro linhas é absolutamente existente. Ninguém sabe onde termina a torcida e começa o time. O Corinthians joga o jogo como a gente vive a vida. O Corinthians joga a vida, enquanto a gente vive o jogo. A torcida não vive o Corinthians apenas quando está dentro do estádio, tem o Corinthians dentro de si em cada minuto de sua vida cotidiana. O time que joga o jogo jogado dentro do campo não pode existir sem uma convergência cósmica, com um fluxo de energias contínuas, permanentes e infinitas. É uma coisa só!
Dizem ainda os numerólogos que o 8 está ligado à prosperidade, à vitória e à superação! Quem somos nós para discordar?
O 8 é muito Vai Corinthians! Vejamos:
Algumas camisas são emblemáticas e carregadas de simbolismos, seja no futebol, seja em outros esportes coletivos onde a numeração serve para identificar o atleta competidor.
Quem não se lembra de Michael Jordan e a mística camisa 23 do Chicago Bulls, ou a camisa 32 de Magic Jonhson pelo Los Angeles Lakers?
No futebol, diversos são os exemplos de camisas vinculadas a craques. Para os times normais o número 10 indica o craque.
Pelé, o maior jogador da história do futebol eternizou a camisa 10 do Santos e da Seleção Brasileira e se confunde com o que se entende por Brasil mundo afora.
Na seleção argentina, quando todos achavam que não haveria outro digno de vesti-la a altura de Maradona, Messi mostrou o quanto aquela camisa lhe caia bem.
A camisa 10 do Flamengo está umbilicalmente vinculada ao maior jogador da história do clube, Zico é e sempre será o dono daquela camisa 10.
No Vasco da Gama, Roberto Dinamite simboliza como ninguém a mística da camisa 10 vinculada ao craque do time.
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OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberNo Botafogo a camisa 7 de Mané Garrincha até os dias de hoje pesa toneladas.
Mesmo em times de grife, como o Real Madrid, a camisa mística também tem o n. 7, esta já foi vestida por Raul e Cristiano Ronaldo, agora tem sido vestida por Vini Jr.
Mas no Corinthians, pra variar, tudo é diferente!
Se existe um número de camisa marcante, que representa todas as nossas complexidades, infinitudes, genialidades e até mesmo os nossos enigmas é a camisa n. 8.
Evidente que tivemos jogadores geniais com outras camisas, Rivelino, Neto e Zenon são gênios da camisa 10, porém, a camisa 8 é mágica para os Corinthianos.
Na década de 50 o craque do Corinthians era Luís Trochillo, mais conhecido como Luizinho, o Pequeno Polegar.
Crescemos ouvindo de nossos pais e avós as proezas do pequeno gigante polegar, com dribles desconcertantes, gols decisivos e títulos.
Luizinho recebeu uma das mais lindas homenagens que um jogador merece, em 1996 jogou alguns minutos em um amistoso entre Corinthians e Coritiba que marcava a estreia de Edmundo no Corinthians. Naquele dia o Pequeno Polegar entrou em campo pela última vez com sua camisa 8, jogou, mesmo já com bastante idade, driblou os adversários e foi substituído pelo estreante que lhe aguardava na beira do gramado com flores e muitos aplausos de sua agradecida Fiel Torcida.
Luizinho foi o grande craque do título de 1954 e a partir daí vieram 22 anos e oitos meses de longa espera.
Até que em 13 de outubro de 1977 um gol libertador fez a Fiel novamente comemorar um título, para muitos, aquele gol é o mais importante da história do clube.
Naquele dia a camisa 8 era vestida por José Roberto Basilio, que no jogo anterior jogou com a camisa 7, mas, naquele dia estava vestindo uma camisa que mais parecia a armadura digna de grandes batalhas.
Basílio poderia não ter a habilidade do pequeno polegar, aliás, nem eram da mesma posição, mas, naquele dia Basílio se tornou imortal, algo, que o Pequeno Polegar já era há algumas décadas e passou a habitar do coração de cada corinthiano, até os que nasceram anos depois daquele jogo.
O gol poderia ter saído do chute de Vaguinho, mas, ele estava com a camisa 7, o gol poderia ter saído no rebote quando Vladimir, camisa 4, cabeceou com força e o zagueiro tirou em cima da linha, mas os sempre lembrados Vladimir e Vaguinho não usavam a camisa 8.
No bate rebote mais visto de toda a história, a bola sobrou para o predestinado Basilio, trajando a mágica camisa preta com listras brancas e o n. 8 nas costas, sim, tinha que ser ela, para fazer a torcida corinthiana explodir de emoção.
Alguns anos depois a camisa 8 virou simplesmente a camisa do Dr. Sócrates, momento em que títulos, passes de calcanhar, gols, e jogadas de um gênio, passaram a ser divididas com outros assuntos importantes.
Mais do que gols e jogadas geniais, e como ele fazia jogadas geniais, Dr. Sócrates, o Magrão, se tornou importante agente político, mostrando ao povo brasileiro o significado da palavra Democracia.
Os títulos paulistas de 1982 e 1983 são conquistas históricas, pois, além da genialidade do nosso camisa 8 em campo, havia uma mensagem muito importante sendo transmitida naquele momento, era a Democracia Corinthiana.
Dr. Sócrates também usou a camisa 8 da seleção brasileira na Copa de 1982, com toda a certeza, naquele momento, a camisa canarinho nunca foi tão alvinegra.
O título paulista de 1988 (ah, os oitos) é celebrado até os dias de hoje e lembrado pela mídia pelo gol de Viola, o então garoto camisa 9 que surpreendeu a todos naquelas finais, porém, naquele campeonato o craque do time se chamava Éverton, jogador habilidoso e que usava uma certa camisa 8.
No quadrangular final daquele campeonato, em uma tarde fria de julho, Corinthians e São Paulo se enfrentaram no Pacaembu, o primeiro tempo terminou 0x2 para os adversários.
O jogo era difícil e o adversário poderia ter ampliado algumas vezes, porém, aos 35 (3+5) do segundo tempo, Éverton, o craque da camisa 8 marcou de cabeça o gol que fez o Pacaembu explodir e dar aos torcedores a certeza de que o empate chegaria, até que aos 46 minutos aquela camisa 8 novamente fez o torcedor explodir em um golaço de Éverton, que estafado correu para a bandeira de escanteio, naquela curva do Estádio do Pacaembu que todos sabemos onde fica, e com certeza, naquele momento Éverton passou a habitar o coração de cada torcedor alvinegro.
Mas, o supercampeão estadual precisava de um título nacional, ele veio em 1990, e todos sabemos que o craque daquele time usava a camisa 10.
Neto é o nome de 1990, o craque do futebol brasileiro naquela época, responsável por lindos gols e maravilhosos gols de faltas, sim, ele fazia gol de todos os jeitos, e por nos colocar na final daquele campeonato.
Porém, na noite de 13.12.1990 o campeonato brasileiro começou a se tornar real para os corinthianos, naquele jogo, Wilson Mano, que jogou com todas as camisas alvinegras dos números 2 até 11 (naquele tempo não era utilizados números fixos e os times entravam em campo com a numeração de 1 a 11), usava a camisa mágica.
Naquela noite o joelho direito de Wilson Mano, trajando a camisa preta com listas brancas de n. 8, igualzinha a de Basílio em 1977, encontrou a bola cruzada pelo craque do time e estufou a rede adversária.
Wilson Mano não tinha a genialidade de Luizinho ou do Dr. Sócrates, porém, Wilson Mano era o gênio da raça alvinegra, jogador que como poucos conseguiu internalizar o sentimento alvinegro e naqueles jogos finais a raça alvinegra tinha a magia da camisa 8 associada.
No final daquela década um colombiano de futebol refinado chegou ao Corinthians, no começo até a camisa 10 ele vestiu, porém, ao colocar a camisa 8, certamente percebeu o quanto lhe caia bem.
O bicampeonato brasileiro de 98/99 e o Mundial de 2000 tinham Fred Rincón vestindo a mágica camisa 8, Rincón era o capitão do time no campeonato mundial, foi dele, usando a camisa 8, o gol decisivo que nos colocou na final.
Naquele 14.01.2000, Rincón, camisa 8, levantou a taça de campeão mundial no estádio do Maracanã.
Já nos doces anos de 2011/2012 a camisa 8 se tornou ainda mais decisiva, Paulinho, o volante que defendia e atacava, que desarmava adversários e fazia gols, usava aquela camisa 8, aliás, aquela camisa 8 parecia estar em todas as partes do campo, era impressionante.
A noite de 23.05.2012 foi épica, o jogo era dificílimo, o Vasco da Gama tinha um time fortíssimo, afinal era o Campeão da Copa do Brasil de 2011 e jogava contra o Corinthians, Campeão Brasileiro de 2011, e que jogo espetacular!!!!
Naquela noite comemoramos uma defesa de Cássio como se fosse um gol, e foi, porém, no final daquele jogo todos prenderam a respiração para ver Paulinho subir no segundo andar e cabecear de forma linda e certeira e nos colocar nas semifinais da Libertadores da América.
Quem não se lembra de Paulinho, camisa 8 subindo mais que todos na grande área adversária?? Quem não se lembra da camisa 8 abraçar o torcedor que se pendurou no alambrado??
Paulinho não parou por aí, foi ele quem iniciou a jogada que terminou no gol do título mundial, gol marcado por Paolo Guerrero, camisa 9, mas com um toque da camisa 8 naquela jogada fantástica em Yokohama.
Após ser negociado com o futebol europeu a camisa de 8 passou a ser usada por Renato Augusto que em 2015 foi o principal jogador da campanha do hexacampeonato brasileiro, aliás, como jogou o nosso craque naquele ano!!.
Com certeza aquele campeonato garantiu a participação de Renato Augusto nas Olimpiadas de 2016 e na Copa do Mundo de 2018, onde novamente a camisa 8 canarinho parecia mais alvinegra.
Ao retornar ao futebol brasileiro, Renato Augusto pediu para usar novamente a camisa 8 e desde 2022 tem nos dado prazer em vê-lo atuar, o time com ele é outro, todos sabemos, porém, não é só a genialidade, tem uma química no ar, os dois gols contra o São Paulo no último jogo tiveram mais do que inteligência e leitura tática, os gols foram em momento decisivos, com o adversário criando dificuldades, os gols foram de desafogo, mudaram a atmosfera do Estádio, incendiaram a torcida.
Na verdade, Renato Augusto parece ter a genialidade de Sócrates e Luizinho, a aplicação tática e os passes certeiros de Basílio, a raça de Éverton e Wilson Mano, a inteligência de Rincón e de Paulinho.
Renato Augusto é um craque, um gênio da bola, um representante da Fiel em campo, que parece ter um pouco de cada camisa 8 citado acima.
A camisa 8 do Corinthians é única, é pesada, ela é mágica!!!!
*Rafael Castilho é Sociólogo, conselheiro do Corinthians Paulista e coordenadou do Núcleo de Estudos do Corinthians - NECO; Paulo Roberto Bastos Pedro é advogado e conselheiro do Corinthians.
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