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Opinião

Chorar é fazer lobby

POR PETRONIO FILHO*

No Brasil os que mais choram são os que mais têm. Isso acontece tanto no futebol quanto na política.

Os ricos vivem a reclamar que pagam imposto demais. Eles choram diretamente, ligando para os políticos que os representam, e indiretamente, através das organizações patronais e colunistas de grandes jornais.

Chorar é um tipo de lobby. E a democracia moderna é baseada na ação de lobbies. Quando os ricos e poderosos choram, mesmo que sem razão, o choro ganha manchetes, repercute em todos os jornais. Quando os desfavorecidos choram, eles não são levados a sério. Não saem manchetes.

A mesma coisa acontece no futebol, onde os times mais ricos e mais beneficiados pelos "critérios" de arbitragem, Palmeiras e Flamengo, fazem um chororô ensurdecedor nas raras vezes em que são prejudicados.

A diferença é que a choradeira de Palmeiras e Flamengo nunca é chamada de chororô. Nem a dos outros 17 clubes da série A. Chororô só quem faz é o Botafogo.

Neste brasileiro, o Palmeiras foi beneficiado no jogo contra o Vasco, quando o juiz anulou um gol anotando impedimento no lance anterior ao do gol cruz-maltino. Vários árbitros e jornalistas disseram que naquela situação outro lance havia sido iniciado e a anulação do gol foi incorreta.

Mas a falta que precedeu o segundo gol do Flamengo, que o narrador do jogo denunciou, não foi critério para anular o gol, apesar de ter iniciado o lance do gol.

O mesmo Palmeiras fez um chororô estridente, com protestos oficiais e tudo, no jogo contra o Atlético Paranaense, porque o juizão deu pênalti para o Palmeiras sem expulsar o zagueiro paranaense. O Palmeiras queria vencer o jogo naquele lance, queria um gol e um jogador a mais. A expulsão seria justa, reconheço, mas poucos árbitros dariam o pênalti e a expulsão.

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Loco Abreu foi expulso por provocar a torcida do Flamengo, mas Bruno Henrique, com amarelo, não foi expulso por provocar a torcida do Botafogo nem por dar cotovelada no rosto de um botafoguense.

No jogo Bota X Fla do primeiro turno, o Botafogo jogou o segundo tempo com um a menos porque a juíza Edna expulsou um botafoguense, mas não teve coragem de expulsar o Gabigol, que pisou num jogador caído, nem o atleta do Flamengo que fez falta violentíssima em jogador do Botafogo, falta tão violenta que o Var chamou a atenção da árbitra e nem assim o jogador do Fla foi expulso.

O Flamengo e o Palmeiras estão certos em chorar, protestar e ameaçar árbitros toda vez que são prejudicados. São os dois mais chorões porque são os dois mais poderosos.

A diretoria do Botafogo errou em aceitar que o jogo contra o Flamengo fosse marcado para o sábado, 48h após o retorno de viagem Internacional para a Argentina. O jogo deveria ter sido marcado no domingo. Jogar no meio da semana no exterior é um desgaste enorme. O Botafogo claramente cansou no segundo tempo. Não li nota oficial de protesto do clube. O time errou por chorar de menos. Ah se fosse o contrário...

Não existe uma conspiração da arbitragem a favor de Palmeiras e Flamengo e contra o Botafogo. Mas é inegável que árbitros sob pressão tenham mais receio de contrariar os times mais poderosos e influentes.

Voltando ao início do post. No Brasil os ogros da agro pagam pouco imposto e mamam nas tetas do governo porque vivem a chorar de barriga cheia. Chorar é fazer lobby. E os poderosos choram como ninguém. Tanto na política como no esporte. O que é estranho é ver um jornalista formado em sociologia não entender isso.

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*Petronio Portella Filho é economista pela UNB, com mestrado pela Universidade de Minnesota e doutorado pela UNICAMP, consultor concursado do Senado Federal.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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