Botafogo e o futebol (esporte) brasileiro
POR VICENTE PITHON*
Talvez o ditado mais repetido nos últimos dias seja o velho (e real) "há coisas que só acontecem com o Botafogo". O glorioso, que se encontrava em situação pré-falimentar até o começo de 2022, transformou-se em SAF, ganhou investimentos, estrutura e autoestima (embora com um dirigente/dono que replica, por vezes, o padrão do velho cartola brasileiro), montou uma equipe forte e equilibrada e encheu sua torcida de fé e esperança. Porém, o segundo turno trouxe um balde de água fria que, se ainda não retirou do alvinegro carioca a condição de lider da competição, fez reviver os velhos fantasmas que atormentam os corações botafoguenses.
Assim como o Botafogo, no panorama legislativo de nosso futebol, tivemos um começo de certame/ano arrasador. Lá na primeira rodada, conseguimos aprovar a legislação das SAFs, que permite e dá segurança jurídica à atração de novos investimentos e possibilita uma gestão mais profissional e transparente de nossos clubes de futebol. Que goleada!
Depois, ainda no "primeiro turno", veio a evolução de um projeto de liga para o futebol brasileiro, constituição absolutamente fundamental e central para o desenvolvimento econômico e comercial de nosso mercado. Até a própria CBF acaba reconhecendo, forçadamente, a inevitabilidade desse processo. Rumo ao título!
Em sequência, víamos o Ministério dos Esportes ser recriado, resgatando-o como política pública essencial, a nova Lei Geral do Esporte ser aprovada, após anos de discussão, e importantes marcos legais serem finalmente discutidos, como a profissionalização dos árbitros, a regulamentação das apostas esportivas e o necessário aprimoramento e resolução das questões jurídicas advindas com a implantação das SAFs. Lider disparado!
Mas veio o segundo turno (e ele sempre vem). A bola começa a bater na trave e sair. O projeto de liga vira uma disputa interminável de dois grupos/blocos comerciais distintos e rivais, ameaçando a constituição de uma óbvia e necessária liga unificada. Decisões judiciais conflitantes, dirigentes fanfarrões e alguns investidores obscuros acendem o sinal amarelo de algumas SAFs. A Lei Geral do Esporte sofre uma saraivada de vetos e boa parte dela é posta numa incômoda geladeira. Na sequência, há tumultuada e controversa mudança no Ministério dos Esportes, erros grosseiros de arbitragem pululam de maneira crescente e importantes iniciativas de longo prazo sucumbem à urgência do amanhã e aos interesses do atraso.
Novamente, assim como o Botafogo, ainda dá tempo de recuperar a boa fase e voltar a jogar bonito, pra frente.
Ai, ai, ai, ai… tá chegando a hora… o dia já vem, raiando meu bem, Tiquinho Soares é f….
*Vicente Pithon é Consultor Legislativo do Senado Federal.
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