Juca Kfouri

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Reportagem

Sob calor desumano, Nova Iguaçu supera o Vasco e está na final

Nova Iguaçu e Vasco jogaram no Maracanã sob calor digno do Qatar, com a diferença de que lá os estádios são climatizados.

Impossível avaliar tecnicamente um jogo em tais condições porque, segundo o diretor de competições da federação carioca, Marcelo Lima, 15 minutos antes de seu começo, com 70° sob a marquise do Maraca.

Daí a classificação do Nova Iguaçu para a final do Carioquinha, ao vencer o Vasco, fica por conta mesmo do que fez até aqui e merece elogios, apesar da nova frustração dos vascaínos que mais uma vez compareceram com mais de 60 mil torcedores e viram o solitário gol de Bill, aos 31 minutos do segundo tempo.

Diga-se que esforços não faltaram dos dois lados, mas com a cabeça fervendo é impossível dar bom espetáculo, como sabemos, no mínimo, desde que a FIFA fez Brasil e Itália decidirem a Copa do Mundo de 1994 ao meio-dia e meia em Los Angeles, 40° à sombra, mais de 50° no gramado.

O que o francês Payet pensará sobre tudo isso?

Flamengo e Nova Iguaçu farão as finais, espera-se que à noite.

Fica o protesto em forma de versos do imortal Paulo Mendes Campo, em seu livro "O gol é necessário":

O título do poema é "Vai da valsa" e tem uma justificativa, dada pelo próprio autor: "Versos ingênuos, mas sinceros, que um jogador envia, por nosso intermédio, aos dirigentes de futebol que obrigam os profissionais a disputar as partidas mais sérias do campeonato num calor selvagem".

Domingo, no jogo, que cansa, na dança, do fogo, ficaste de longe, bebendo gelado, sorvendo sorvete, jogado no tapete moderno, defronte a televisão;

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mas eu no inferno, na chama da grama, o craque, basbaque, driblava, suava, corria, sofria, mais que um cão.

Quem dera que sintas as dores, calores que nunca sentiste! Quem dera que sintas! Não negues, não mintas? — Fugiste!

Te digo que luto, que chuto, que passo, que faço, que esbaldo me esqueço me escaldo; te digo que brigo sem brisa, sem bicho, disputo capricho só por amor;

mas queres que finto, requebre, requinte, me bata, rebata, que marque, que volte, que corte, que chute, dispute com este calor!?

Queria, cartola, te ver sem tevê, na chama, na grama, batendo na bola, correndo, gemendo, suando, gritando, de espanto com tanto calor!

Um só minuto que fosse, se tanto, queria te ver! Ah pobre cartola, rebola no fogo do jogo da bola! Eu juro que logo suado, cansado, gritavas por tua mamã: quem dera que jogues fumando charuto só esse minuto no Maracanã!

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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