Juca Kfouri

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Opinião

Uma proposta de solução definitiva para o Corinthians

Se há uma crítica injusta e recorrente ao papel da imprensa, seja na politica, na economia ou no futebol, é a de que jornalistas denunciam erros e não apresentam soluções.

Pois eis que há soluções para a crise corintiana, embora difíceis, mas possíveis.

Elencamos, com o auxílio de juristas da área do futebol, caminhos para tirar o Corinthians do mar de lama em que se encontra.

O impeachment de Augusto Melo, apesar de aparentemente inevitável, não resolverá a situação do Corinthians.

O substituto, independentemente do grupo político de que faça parte, não se libertará do sistema que vem destruindo o segundo clube de maior torcida do país.

Pior: para governar, terá que se associar a outros grupos que participaram da destruição. Isso se não fizer parte de um deles.

Mas há caminho para uma solução definitiva.

Primeiro, associados e/ou conselheiros do clube promovem uma ação judicial e requerem, liminarmente, intervenção judicial, de natureza provisória, na administração do clube.

Sabe-se que, em matéria societária e associativa, o judiciário costuma adotar o princípio da intervenção mínima, que se justifica apenas em situações excepcionais.

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No caso do Corinthians, que passou a frequentar as notícias policiais, que passa por uma crise sem precedentes de credibilidade, que vem perdendo contratos e jogadores, as motivações (assim mesmo, no plural) justificam a excepcionalidade. Mais do que isso: seria uma providência salvadora.

O interventor exerceria, durante a intervenção, a administração do clube.

Ele poderia ser uma empresa acima de qualquer suspeita, como uma das chamadas big four (que são as quatro maiores auditorias do planeta) ou alguma gestora atuante no mercado financeiro.

Portanto, a intervenção não se operaria em favor de um ou outro grupo político, ou de um ou outro candidato a salvador da pátria, mas do Corinthians.

O interventor contrataria imediatamente um diretor de futebol externo, respeitado no ambiente futebolístico, para tentar estancar a crise no vestiário.

Paralelamente, faria um diagnóstico isento da real situação do clube e retomaria conversas com credores, patrocinadores, fornecedores e outras partes interessadas, para igualmente tentar estancar a crise externa.

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Segundo, o interventor requereria a recuperação judicial do clube, providência que, desde o surgimento da Lei da SAF, passou a ser o caminho de salvação de times em crise extrema, como Cruzeiro, Botafogo e Coritiba.

O plano de recuperação judicial preveria a constituição de uma SAF, da qual o clube permaneceria acionista minoritário, com o propósito de resguardar a história, a tradição e outros elementos que o fazem a agremiação ser o que é (apesar do esforço de muitos dirigentes nos últimos anos para que deixe de ser).

A SAF Corinthians, que se tornaria a entidade de prática do futebol (a exemplo, no Brasil, de Atlético Mineiro, Cruzeiro, Botafogo e Bahia; e, na Europa, de Manchester City, United, Liverpool, PSG, Benfica, Porto, Atlético de Madri, Milan, Roma, Bayern e Borussia), seria responsável pelo planejamento, administração e financiamento do futebol, e alimentaria o clube em recuperação judicial de recursos, mediante pagamento de royalties, dividendos e outros, para cumprimento do plano de recuperação.

O plano também preveria que a SAF Corinthians deveria encontrar um acionista de referência, com reputação ilibada, para reorientar o futebol e torná-lo, novamente, viável e vencedor.

Terceiro, com a estabilização da situação, a SAF Corinthians abriria seu capital e ofereceria ações PRIORITARIAMENTE a torcedores, sócio-torcedores e outras instituições ligadas ao Corinthians.

A abertura de capital preservaria o acionista de referência, com credibilidade para locomover-se no intrincado ambiente do mercado financeiro e de capitais e, assim, viabilizar o acesso a recursos para desenvolvimento do futebol.

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Também seria instituído um modelo de governança que, ao mesmo tempo, impedisse a interferência do clube na SAF Corinthians e, por outro lado, oferecesse ao próprio clube os meios adequados para resguardar a história e a tradição corintiana.

Quarto movimento (que poderia ocorrer a qualquer momento durante os movimentos anteriores ou após a sua consumação): com o fim da intervenção provisória, que se verificaria quando o diagnóstico estivesse concluído e as medidas corretivas definidas, seriam convocadas eleições para escolha do presidente que se ocuparia do clube social, dos demais esportes e da relação com a SAF Corinthians.

Essa proposta envolve uma série de situações jurídicas que se desdobarão em outras, até sua implementação.

Não será um caminho simples.

Mas não deverá ser mais complicado do que destruir o segundo clube do Brasil que, em passado recente, também foi o melhor da América do Sul e até campeão do mundo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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