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Opinião

Brazilzilzilzil!

POR LINO CASTELLANI FILHO*

Havíamos começado bem as tratativas de definição de política esportiva para nosso país.

A 1ª Conferência Nacional de Esporte, em 2004, trazia como tema central, "Esporte e Desenvolvimento Humano".

Sim. A pergunta a ser respondida arguia sobre qual era a colaboração do Esporte nos esforços pela emancipação humana, e, a partir daí, o que nós poderíamos fazer por ele para ajudá-lo a alcançar seu objetivo...

Dela, 1ª Conferência, extraímos o tema gerador da segunda, acontecida em 2006: "Construindo o Sistema Nacional de Esporte".

Sim. Sabíamos desse imperativo!

Enquanto outros campos de políticas públicas - Saúde com o SUS, em especial- tinham seus sistemas organizados, há mais tempo uns, menos, outros, o Esporte batia cabeça sem saber das responsabilidades e competências dos entes governamentais, em suas distintas esferas, entre eles e deles com os entes privados, definindo o que caberia a cada um.

Assim sendo, a lógica de gestão a ser levada a efeito nas entidades de administração e prática esportivas, a fonte de seu financiamento, e a formação de seus quadros técnicos, corriam a "deus dará" ...

Enfim, "bagunça" que drenava recursos públicos e privados, desperdiçando-os a rodo.

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Seguíamos a estrada apontada em 2004...

Mas eis que os megaeventos surgem no meio de nosso caminho (Drummondque nos perdoe), para alegria dos adeptos da tese das "Cidades Empresariais", vale dizer o setor imobiliário, as grandes construtoras, e os que se lixavam para o processo de gentrificação que se avizinhava descaradamente à frente...

E, claro! Com apoio total do setor conservador do campo esportivo, constituído por aqueles que orbitavam ao redor dos "senhores feudais" dos "feudos esportivos", assim chamados por conceituado professor do campo liberal esportivo, ícone da sua "direita" ...

E aí a "chave" das Conferências mudou de direção.

Ao invés de ser realizada em 2008 - como deveria ser - a III Conferência se realiza em 2010, trazendo como tema central "Por Um Time Chamado Brasil", tendo como objetivo "projetar o Brasil entre as dez principais potências esportivas do mundo nos Jogos Olímpicos Rio 2016".

Bem... Nas Olimpíadas de Verão Rio/16, ficamos em 13º lugar. Em 2020, no Japão, em 12º. Boas classificações - as melhores brasileiras em sua história de participação olímpica -, não fora o otimismo exacerbado da III Conferência...

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Neste 2024, na França, ficamos em colocação (20º lugar) mais consentânea com um país que acabou com o Ministério do Esporte em 2019, colocando em seu lugar uma Secretaria Especial de Esporte, que vinculada ao Ministério da Cidadania e Ação Social, e disputada pelos campos ideológico e militar do governo Bolsonaro, acabou ficando nas mãos do padrinho de casamento do "01".

Embora tivéssemos o Ministério do Esporte de volta, em 2023, seu ministro, Fufuca, não vem demostrando muito apreço ao cargo, demonstrando estarmuito mais preocupado com o dinheiro que entrará na pasta (!) por conta da tarifação das "apostas on line", do que com a política esportiva propriamente dita, tanto voltada ao alto rendimento, como também, e menos ainda, comaquela direcionada ao trato do Esporte como Direito Social - no tempo e espaço de Lazer - ou como elemento de promoção individual, conforme dita o artigo 217 de nossa Carta Magna.

Se não fora o "Bolsa Atleta" - criado em 2004 - e o "colocar farda" em nossos atletas - em troca da participação deles nos Jogos Mundiais Militares, gambiarra das grandes -, sequer alcançaríamos essa posição.

É muito pouco para uma política esportiva!

Enquanto isso continuamos nos "fufucando", sem sistema nacional de esporte, apontado na "Lei Geral (!) do Esporte" (Lei nº 14.597/23) -, mas no aguardo de regulamentação...

Brasilzilzilzil!

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*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, Unicamp (1999); Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP (1988); Graduado em Educação Física pela USP (1974); Professor Livre-Docente (aposentado) da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp (1986/2011); Professor-Visitante da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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