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Opinião

O enigma da cabeça de porco

POR ANTONIO CARLOS SALLES*

A cidade ainda discute como uma cabeça rochochuda e bem cuidada de um porco, foi parar no gramado de Itaquera — a casa do Corinthians, durante o Dérbi paulistano na noite da segunda-feira.

De tão fofa que era, enganou o artilheiro Yuri Alberto, que imaginando tratar-se de um bicho de pelúcia, soltou a bica para afastá-la do gramado e depois reclamou de dores no pé.

A cabeça pesava cerca de 5 quilos.

O enigma remete ao ano de 1977, quando o Corinthians venceu o campeonato paulista contra a Ponte Preta, com o histórico gol de Basilio, o Pé de Anjo e encerrou um tabu de 23 anos sem títulos estaduais.

Naquela noite, sorrateiramente, uma cabeça de macaca foi estrategicamente postada na saída do túnel que dá acesso ao gramado do agora do Morumbi, por onde passariam os jogadores da Ponte.

Pouco ou nenhuma importância se deu ao caso. Isto porque a Ponte tem o apelido de "macaca".

Mas havia um detalhe, que se repetiu no clássico de segunda-feira à noite e que somente agora veio à tona.

Ambas, macaca e cabeça de porco sorriram o sorriso de uma mandinga poderosa, capaz de transformar craques em jogadores comuns, quando os adversários cruzavam seus caminhos.

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No Morumbi, a pequena cabeça negra, de olhos ávidos e expressão cínica, sorriu para o artilheiro Rui Rei, em ótima forma e com fome de gol.

Mas este sorrisinho maroto foi suficiente para uma jornada apagada, sem brilho e com repetidas reclamações, que culminaram com sua expulsão de campo.

E o título estadual veio, mais de duas décadas depois de um imenso e dolorido tabu.

Já em Itaquera a barra era mais pesada, por conta do afinado time palmeirenses onde sobram bons jogadores, nos primeiro e segundo escalões, à disposição do técnico português.

Craques badalados, experiência internacional, nível de seleção brasileira e jóias da base ganhando corpo para futuras transferências milionárias.

Foi preciso então repensar a mandinga. Pensar em como vivem os craques hoje e os hábitos que os fascinam.

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"Tem que ser uma praga eletrônica", disse um feiticeiro moderno.

E assim foi.

Cinco jogadores do Palmeiras foram escolhidos para receber uma foto em seus celulares, minutos antes de entrar em campo.

Flaco Lopes, Felipe Anderson e Rafael Veiga foram os primeiros a dar de cara com uma sorridente cabeça de porco, no esplendor de seus 44 dentes, alvos e perfeitos nos alinhamentos. Uma graça pra mostrar para os parentes e amigos.

A mensagem era simples e singela: boa sorte, meninos!

E a resposta não poderia ser outra, dentro da nova forma de se comunicar: polegar pra cima, responderam os craques postando a imagem.

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À Chico Buarque, a cabeça de porco sorriu um sorriso pontual.

Depois foi a vez de enviar a mesma foto para Caio Paulista e Weverton.

"Grande jogo meus gladiadores". Mais polegares afirmativos nas respostas e oincs oincs de gratidão se fizeram ouvir.

Dentro de campo, vitória corinthiana consumada pela garra invejável do time, e também pelos erros e falta de qualidade nas finalizações palmeirenses, a notícia da cabeça de porco correu de Itaquera à Fazendinha e deixou o presidente do clube insano de entusiasmo.

"Cadê a cabeça, traz a cabeça, eu quero ela aqui", berrava o presidente feliz com o resultado da mandinga.

Mas como sempre acontece, alguém tem que fazer a pergunta difícil.

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"Mas presidente, e se a cabeça de porco lhe presentear com um sorriso largo, já pensou no que vai dar?"

*Antonio Carlos Salles é jornalista.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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