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Marcel Rizzo

El Presidente: série da Amazon sobre Fifagate diverte com cartola caricato

Comediante inglês joga notas no presidente da FIFA Joseph Blatter durante coletiva de imprensa na sede da entidade - Arnd Wiegmann/Reuters
Comediante inglês joga notas no presidente da FIFA Joseph Blatter durante coletiva de imprensa na sede da entidade Imagem: Arnd Wiegmann/Reuters

Colunista do UOL

23/05/2020 04h00

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A imagem acima se tornou símbolo do escândalo de corrupção que abalou o futebol a partir de 2015 e que ficou conhecido como Fifagate. Em julho daquele ano, o então presidente da Fifa, Joseph Blatter, entrou na sala de entrevistas da sede da entidade, em Zurique, para anunciar novas eleições e acabou recebido por um comediante que jogou dólares para o alto em sua direção. Os fotógrafos não vacilaram ao registrar o momento.

É Blatter envolto pelos dólares voadores a cena inicial da série "El Presidente", que o Amazon Prime Vídeo estreará mundialmente em 5 de junho e que é baseada na história do Fifagate, desde as maracutaias da cartolagem chegando à investigação do FBI — a direção e roteiro é do argentino Armando Bó, vencedor do Oscar pelo roteiro original de "Birdman". Mas "El Presidente" do título não é Blatter, nem outro figurão do futebol sul-americano à época, o foco da série, como o argentino Julio Grondona ou o paraguaio Nicolás Leoz.

O protagonista é Sergio Jadue. Quem? O chileno Jadue nunca esteve entre os mais influentes dirigentes de futebol da América do Sul. Longe disso. Ele chegou à presidência da ANFP, a CBF do Chile, após dirigir o pequeno Unión La Calera, que por anos amargou a segunda divisão local. Usado, num primeiro momento, pela oposição a Harold Mayne-Nicholls como opção mais viável a assumir a ANFP com apoio dos clubes menores, teve a indigesta missão ao assumir de demitir o técnico Marcelo Bielsa, queridinho da torcida.

Jadue, aos poucos, se enturma com a velha guarda da cartolagem sul-americana e é com esse gancho, da ascensão à queda de Jadue em míseros quatro anos, que a série conta a história do Fifagate. O blog assistiu aos quatro primeiros episódios, de um total de oito, e para quem conhece os personagens e acompanhou de perto o escândalo a série com certeza será um ótimo passatempo em tempos de quarentena.

Jadue é interpretado pelo colombiano Andrés Parra. Quem viu Parra se transformando em Pablo Escobar na série "El Patrón del Mal" ou em Hugo Chávez na "El Comandante" não se surpreende com a caracterização de Jadue feita por Parra. Em "El Presidente", Jadue se mostra um sujeito indeciso, que tem na mulher, Maria Inês (Paulina Gaitán), seu lado, digamos, ambicioso.

Os cartolas sul-americanos são caricatos, o que é uma diversão à parte. Pense num dirigente de futebol que está há anos no comando de uma federação. Mulherengo? Só pensa em dinheiro? Nem aí para a ética? Pois assim eles são retratados, inclusive os brasileiros Ricardo Teixeira e José Maria Marin.

Marin foi um dos presos em Zurique, na Suíça, em maio de 2015, acusado de receber propina para vender direitos comerciais de campeonatos à empresas de marketing esportivo. Ele nega até hoje, mas foi condenado pela Justiça dos EUA (o dinheiro transitou por lá). Em março ele acabou liberado a voltar ao Brasil pelo risco de se contaminar com o coronavírus — aos 87 anos, Marin faz parte do grupo de risco.

Jadue e suas indecisões são os momentos cômicos da série, que vai agradar também quem gosta de seriados policiais. A atriz mexicana Karla Souza interpreta Lisa, agente do FBI responsável por investigar a cartolagem. Ela se infiltra como garçonete no hotel que a Conmebol tem anexo a sua sede, em Luque, no Paraguai, para poder achar um ponto fraco entre as raposas velhas. Jadue acaba sendo seu foco.

Na série, Jadue se torna informante do FBI antes de estourar o Fifagate, encantado por Rosarito, o disfarce de Lisa. Na vida real, porém, Jadue se torna delator somente após as prisões de dezenas de cartolas. Em novembro de 2015, meses depois de o Chile ser sede da Copa América, ele embarcou em um voo para Miami, onde ficou aos cuidados da Justiça americana. Admitiu os crimes, pagou multa milionária e hoje vive em liberdade.