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Marcel Rizzo

Palmeiras x River: como clube argentino virou o mais influente na Conmebol

Rodolfo D"Onofrio, presidente do River Plate e dos mais influentes hoje na Conmebol - REUTERS/Jorge Adorno
Rodolfo D'Onofrio, presidente do River Plate e dos mais influentes hoje na Conmebol Imagem: REUTERS/Jorge Adorno

Colunista do UOL

18/12/2020 10h28

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Em agosto de 2016, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) pôs fim à articulação de clubes do continente que buscavam a criação de uma liga independente à entidade. Seria, provavelmente, o fim da Libertadores como conhecemos, torneio que é a galinha de ovos de ouro da confederação.

Como o principal aliado do presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, estava naquele momento Rodolfo D'Onofrio, chefão do River Plate. O time argentino será o rival do Palmeiras na semifinal da Libertadores de 2020, jogos que serão realizados no início de janeiro de 2021.

A insatisfação dos clubes com as cotas que recebiam principalmente pela Libertadores foi consequência do Fifagate, o escândalo de corrupção escancarado por investigação da Justiça dos EUA e que levou dezenas de dirigentes esportivos à prisão, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin. Ficou provado que eles recebiam propina para vender direitos esportivos de competições para determinadas empresas, ou seja, embolsavam valores que deveriam ir aos clubes e às confederações nacionais.

Foram ao menos três reuniões da cartolagem sul-americana entre o fim de 2015 e meados de 2016, que chegaram a reunir 32 clubes dispostos a criar um torneio independente à Conmebol. Entre esses clubes estava o River Plate, presidido desde 2013 por D'Onofrio, um empresário do ramo de seguros que sempre foi considerado um hábil negociador. E foi nele que Dominguez, que havia assumido a Conmebol com a promessa de limpar as contas e aumentar o repasse de dinheiro aos clubes, se escorou para por fim à revolta.

D'Onofrio conseguiu um apoio improvável, do rival Boca Juniors, o que o fez levar a tiracolo a AFA, a associação argentina que tinha sua direção influenciada pelo Boca. Sem os dois grandes argentinos, a revolta foi perdendo força até que novos contratos de direitos comerciais e de transmissão foram apresentados pela Conmebol aos clubes, com muito mais dinheiro envolvido. Dominguez venceu e não teria conseguido sem D'Onofrio.

CARGO NA FIFA
Viajamos agora para 2018. River Plate e Boca Juniors chegaram à final da Libertadores, confronto inédito na decisão entre os dois maiores argentinos. No primeiro jogo, em La Bombonera, empate por 2 a 2. Antes da finalíssima no Monumental de Nuñez, em 24 de novembro, o ônibus do Boca foi apedrejado, a confusão fez com que a segurança ficasse comprometida e a Conmebol optou em cancelar a partida.

Por segurança, a Conmebol decidiu tirar o jogo não só do Monumental de Nuñez, mas também da Argentina. Uma derrota para o aliado D'Onofrio, é verdade. Mas não totalmente. Tudo se encaminhava para a final ocorrer em Doha, no Qatar, sede de um dos principais patrocinadores da Conmebol, a Qatar Airways. Até o presidente do River entrar em cena.

Desde 2017 D'Onofrio faz parte de uma das comissões da Fifa, a de Interesse do Futebol — que faz recomendações ao Conselho sobre todas as esferas relacionadas ao jogo. É raro um dirigente que está na ativa ter cargo nessas comissões. Nas idas a Zurique para essas reuniões, D'Onofrio se aproximou dos diretores do Real Madrid.

Essa boa relação fez D'Onofrio, com apoio do Boca Juniors, sugerir que a decisão ocorresse em Madri e não em Doha. Havia mais sentido, já que há muitos argentinos vivendo na Espanha e atuar no Santiago Bernabéu descaracterizaria menos a decisão. E assim foi, com o River campeão vencendo por 3 a 1.

Em meados de 2019, o River apareceu ao lado do Real Madrid, do Boca e de outros cinco clubes (Auckland City, Mazembe, América do México, Milan e Guangzhou Evergrande da China) na criação da Associação Mundial de Clubes, desta vez com o apoio da Fifa. Foi o pontapé inicial da criação do novo Mundial de Clubes com 24 clubes e que deveria ser jogado a partir de 2021, na China, mas adiado sem previsão de data por causa da pandemia.

Se dentro de campo o River Plate brilha, comandado por Marcelo Gallardo, fora atua tão bem quanto com seu presidente Rodolfo D'Onofrio.