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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Jogadores planejam manifesto contra a Copa América, mas boicote perde força

Casemiro fala em posição unânime da seleção sobre disputa da Copa América - Transmissão - Globo - 04/06/2021
Casemiro fala em posição unânime da seleção sobre disputa da Copa América Imagem: Transmissão - Globo - 04/06/2021

Colunista do UOL

07/06/2021 08h43

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Os capitães das dez seleções que participarão da Copa América no Brasil elaboram manifesto no qual pretendem demonstrar insatisfação por disputar a competição em meio à pandemia. A possibilidade de um boicote coletivo, entretanto, perdeu força no fim de semana.

A Conmebol tem conhecimento desse documento e não pretende interferir. Manifestações durante os jogos ou treinos quando a competição estiver em andamento são proibidas pela Fifa, que não permite atos considerados políticos, mas os jogadores avaliam gestos coordenados, como abraço dos 22 em campo durante o minuto de silêncio pelas vítimas da covid-19.

O teor do texto não está fechado. O foco deve ser solidariedade a todas as vítimas da covid-19 e pedido por segurança para o futebol acontecer em meio à pandemia. Como a Fifa proíbe manifestações políticas não deve haver críticas diretas à Conmebol ou associações, mas a ideia é que o documento deixe claro a insatisfação pelo não adiamento da Copa América.

As associações e a Conmebol monitoram há algumas semanas a chance de jogadores boicotarem a Copa América, como revelou o blog. Já havia preocupação quando o torneio estava marcado para Argentina e Colômbia, as sedes originais, e cresceu com a alteração para o Brasil, país do continente com maior número de mortes pela doença por milhão de habitante.

A situação ficou mais crítica após escancarar a crise da comissão técnica e elenco da seleção brasileira com o presidente da CBF, Rogério Caboclo. O grupo se irritou porque não soube com antecedência que o torneio viria ao Brasil e houve movimentação para não participar da competição. Aliou-se a isso uma relação conturbada entre Tite e Caboclo que existe há algum tempo — como revelado pela ESPN, após a Copa de 2018 Caboclo quis mexer em toda a comissão técnica de Tite, mantendo só o treinador.

O afastamento neste domingo (6) de Caboclo pelo Comitê de Ética da CBF, acusado de assédio sexual por uma funcionária, como mostrou o Ge.com, foi recebido na Conmebol com entusiasmo. Apesar de ele ser membro do Conselho da entidade e estar na linha de frente da organização da Copa América, havia pressão para que ele deixasse essa função justamente para apaziguar o ambiente da seleção brasileira.

A Conmebol acionou a direção das associações, para que trabalhassem diretamente com seus elencos contra o boicote. As federações querem colocar a Copa América de pé por dois motivos: 1) financeiro, já que receberão no mínimo US$ 4 milhões (US$ 1 milhão já adiantado em 2020) e 2) técnico, já que jogaram somente cinco vezes nos últimos 18 meses e temem chegar à Copa de 2022, no Qatar, com preparação defasada aos europeus.

As associações conversaram com seus elencos, que estão concentrados para os jogos das Eliminatórias. Insatisfações foram declaradas, mas a possibilidade de se expressarem publicamente foi autorizada — já havia alguns dias conversas entre os capitães sobre a possibilidade do manifesto.

No domingo, a AFA (Associação de Futebol da Argentina) divulgou uma nota em rede social afirmando que participará da Copa América. A coluna apurou que a entidade fez o texto com aval de seus jogadores e a avaliação é que a chance de boicote dos argentinos foi anulada.

O mesmo ocorreu na delegação do Uruguai que é, ao lado da brasileira, a que mais preocupa a Conmebol. Um dos astros da equipe, Luis Suárez, topou ser vacinado com o imunizante que a entidade recebeu em doação do laboratório chinês Sinovac. Outro movimento que acalmou a Conmebol foi a apresentação do outro craque do time, Cavani, que está suspenso nas Eliminatórias, mas se juntou ao grupo para disputar a Copa América.

Boicotes individuais ainda podem ocorrer, com algum jogador recusando atuar por receio da pandemia, inclusive respaldado pelos capitães. Mas a avaliação dos cartolas hoje é que isso é difícil porque a exposição seria grande para esses atletas protestando individualmente.

A Copa América está marcada para começar no próximo domingo (13), com Brasil x Venezuela em Brasília. Além da capital federal são sedes as cidades de Goiânia, Cuiabá e Rio. A final está programada para 10 de julho, no Maracanã.