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Marcel Rizzo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Como a provável eleição da CBF pode implodir a liga de clubes

Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, após reunião sobre a liga dos clubes - Igor Siqueira/UOL Esporte
Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, após reunião sobre a liga dos clubes Imagem: Igor Siqueira/UOL Esporte

Colunista do UOL

06/08/2021 04h00

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A sucessão na presidência da CBF vai definir o futuro da liga que começou a ser desenhada há algumas semanas pelos 40 clubes das Séries A e B do Brasileiro. A depender de quem substituir Rogério Caboclo, que deve ser afastado definitivamente após ser acusado de assédio sexual e moral (o que ele nega), certas demandas dos clubes podem ser atendidas, com mudanças no calendário e na arbitragem, e não seria improvável que a articulação pela liga fosse abortada.

Havia uma terceira pauta importante, a alteração na legislação para que os mandantes dos jogos sejam os donos dos direitos de transmissão, mas essa está encaminhada em Brasília após lobby dos clubes no Congresso e no governo federal (com pouca ajuda da CBF). Com relação às outras:

Calendário: a necessidade de se parar todos os campeonatos quando a seleção joga. A CBF tem evitado nos últimos anos coincidência com algumas datas Fifa, mas as partidas nacionais são marcadas para o dia seguinte às do Brasil, o que muitas vezes faz com que um atleta viaje longas distâncias para estar em campo menos de 24 horas depois de atuar pela seleção.

Os clubes querem que os torneios só voltem no fim de semana seguinte à data Fifa, que normalmente acaba em uma terça-feira. Há preocupação especial com o calendário de 2022, que tem a Copa do Mundo entre novembro e dezembro —não será em junho e julho por causa do calor no Qatar. O Brasileirão terá de terminar no fim de outubro ou começo de novembro e os clubes temem que o aperto os obrigue a jogar até três vezes por semana.

Arbitragem: ponto importante de crises constantes com a CBF, clubes insistem que uma nova diretoria da CBF priorize a transparência e a capacitação dos árbitros, principalmente com relação ao uso do vídeo (VAR).

Os clubes querem que a CBF faça igual à Conmebol e divulgue publicamente o áudio de conversa entre os árbitros no dia seguinte aos jogos.

Como mostrou a coluna, Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney e um dos quatro representantes da América do Sul no Conselho da Fifa, era o vice preferido dos clubes para assumir o mandato tampão da CBF até abril de 2022. O problema, agora, é que a ida do Flamengo ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) para conseguir ter público nos jogos do Brasileiro, mesmo com alguns estados ainda proibindo, azedou uma relação entre as associações que estava, de certa forma, remando para o mesmo lado, como relatou a coluna De Primeira.

Outra situação que desagradou alguns presidentes e que criou mal-estar entre os clubes foi o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, ter aceitado ser um dos interventores da CBF, junto com o presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos. A Justiça havia decidido anular o processo eleitoral que levou Caboclo à presidência da CBF e indicou dois interventores, que deveriam convocar nova eleição. A decisão judicial caiu quando Landim e Carneiro Bastos já estavam na sede da CBF para tomar o comando.

Para alguns dirigentes Landim deveria ter rejeitado o posto, até para seguir a Lei Pelé que proíbe comandantes de clubes de terem cargos na CBF — o juiz definiu os interventores por representatividade, ou seja, os presidentes do Flamengo, clube de maior torcida do Brasil, e da FPF, federação que tem mais clubes na elite nacional. Landim contatou alguns colegas, mas apenas para comunicar sua decisão de assumir.

A liga já desenhava formato organizacional, com conselho de dirigentes no comando e a contratação de um executivo, remunerado, para trocar a parte operacional. Mas já havia ruído: na última reunião, feita de maneira virtual, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, e o CEO do Athletico-PR, Mario Celso Petraglia, bateram boca ao discordarem de questões burocráticas — os clubes ainda nem começaram a conversar sobre divisão de dinheiro para os direitos de transmissão, o que certamente causará novos atritos.