Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Marcel Rizzo: Novo interino e carta por renúncia na CBF têm digital da Fifa
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Gianni Infantino esteve no Brasil rapidamente em julho para acompanhar a final da Copa América, o 1 a 0 da Argentina sobre o Brasil no Maracanã. O presidente da Fifa demonstrou preocupação com o vácuo no poder da CBF, que na ocasião tinha Rogério Caboclo afastado da presidência acusado de assédio sexual e moral (o que ele nega) e um interino, o vice Antônio Carlos Nunes, muito ligado a Marco Polo Del Nero, ex-chefão da confederação brasileira banido do futebol acusado de corrupção.
À Fifa nunca interessa uma crise política em um de seus principais filiados, mas particularmente agora essa disputa é incômoda porque a federação internacional quer a CBF apoiando a proposta de uma Copa do Mundo a cada dois anos. Sem saber quem e até quando um novo presidente assumirá, fica difícil para a Fifa cobrar da CBF lealdade nas mudanças de calendário.
Em julho, Infantino sugeriu duas coisas:
1) Que uma definição do caso Caboclo fosse rápida, apesar de o caso estar nas mãos da Comissão de Ética que, teoricamente, é um grupo independente da direção da CBF. Que se decidisse logo se ele poderia voltar ou não e, caso o não prevalecesse, ocorresse rápido uma eleição que definisse quem comandaria a entidade até o fim deste mandato, em abril de 2023;
2) Não menos importante, que se o caso fosse se estender muito, um nome menos ligado, ou influenciado, pelos dois adversários (Caboclo e Del Nero) assumisse interinamente a CBF para que a entidade pudesse ter o mínimo de normalidade nos próximos meses ou até anos.
Na terça-feira (24), a Comissão de Ética só tornou a situação mais confusa: entendeu que não houve assédio sexual, mas conduta inapropriada na denúncia de uma ex-funcionária, e decidiu suspender o Caboclo por 15 meses, descontando os três que já está fora. Ele pode voltar, portanto, em setembro de 2022 para terminar seu mandato até abril de 2023. O vácuo no poder continua, o que desagrada a Fifa.
Os dois movimentos realizados pela cartolagem na quarta-feira (25), se não foi pedido diretamente pela Fifa, vai de encontro ao que os dirigentes ouviram mais de um mês atrás. Primeiro, os oito vices se reuniram e decidiram mudar o presidente interino. Saiu Nunes, ligado a Del Nero, e entrou Ednaldo Rodrigues, ex-presidente da Federação da Bahia e considerado neutro na confusão.
Mais tarde, os presidentes das 27 federações divulgaram uma carta em que pedem a renúncia de Caboclo para "normalizar" o comando da CBF. Há preocupação na cartolagem de que a crise faça a Fifa, por exemplo, cortar novamente o dinheiro do legado da Copa-2014, o que já fez em 2015 quando estourou o Fifagate, caso de corrupção que levou dezenas de dirigentes à prisão. Dos R$ 239 milhões já foram alocados, até dezembro de 2020, R$ 83 milhões principalmente em obras de infraestrutura e capacitação de profissionais em projetos das federações.
A Fifa não pretende intervir na CBF. O problema tem sido conduzido por entes internos da confederação, sem participação governamental ou da Justiça comum. Mesmo a única decisão externa até agora, uma liminar (já cassada) que anulava a eleição de Caboclo em 2018 por problemas nas regras da votação, havia colocado como interventores dois dirigentes do futebol, os presidentes da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, e do Flamengo, Rodolfo Landim.
As articulações do banido Del Nero, por enquanto, não estão no radar da Fifa — o ex-presidente nega que participe da política da CBF, algo que poderia gerar sanções ao Brasil como uma suspensão e proibição de disputar a Copa do Mundo. Mas se a tensão política se estender, isso pode mudar.
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