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Copa bienal: pesquisa encomendada por Fifa monta cenário elite x emergentes
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A direção da Fifa encomendou uma pesquisa global para avaliar a aceitação de torcedores com relação a mudar a periodicidade da Copa do Mundo para a cada dois anos, e não quatro como é atualmente. Foi feita uma consulta preliminar, com 23 mil pessoas de 23 países, e uma mais ampla, como 100 mil entrevistas em mais de 100 países, está sendo preparada.
A federação internacional não divulgou os números brutos, mas os detalhes repassados mostram que com a elite do futebol contra a ideia, a entidade pretende criar um cenário de disputa de interesses entre "poderosos x emergentes" ao tratar do tema.
Por enquanto, segundo a Fifa, os dados demonstram concordância dos fãs com a alteração:
- maioria quer Copa mais frequente;
- dois em dois anos é a preferência;
- há diferenças entre o que pensam torcedores de países com tradição no futebol e fãs de nações em desenvolvimento, com os primeiros mais reticentes com qualquer alteração do que os segundos;
- jovens estão mais abertos a mudanças do que os mais velhos.
O terceiro item divulgado mostra como a Fifa deve trabalhar os dados dessa pesquisa e da mais ampla que está sendo feita. Hoje, a entidade tem contra sua ideia de Copa bienal as poderosas Confederações da Europa e América do Sul e as associações de clubes e de jogadores. A elite, portanto.
A favor está a periferia do futebol, como são chamadas dentro da própria Fifa as federações nanicas de continentes em que o futebol está em desenvolvimento. A confederação africana acenou que poderá votar em bloco, o que já seriam 56 dos 211 votos possíveis se o plano for apresentado em um Congresso futuro. Associações pequenas da Ásia, como Nepal e Bangladesh, também se colocaram a favor, além da união das federações do Caribe, que está dentro da Concacaf (Confederação das Américas do Norte, Central e Caribe), que pode levar mais 31 votos para o Congresso.
O cenário, portanto, está claro: países com o futebol consolidado e que já ganharam Copas do Mundo não querem mudar, e os nanicos sim. A esses a Fifa diz que aumentará a chance de participar de um Mundial e de ser sede da competição, o que, na visão da federação internacional, ajudaria a desenvolver o esporte nessas regiões. Há também a questão de repasse de dinheiro para projetos, que deve aumentar se a receita da Fifa subir com uma Copa bienal.
Vai se somar a essa batalha o resultado dessas pesquisas encomendadas a empresas especializadas, como a YouGov, com sede no Reino Unido. Como há diferença entre o que pensam torcedores de países com o futebol consolidado e aqueles de nações com o esporte em desenvolvimento, a Fifa pode apresentar a patrocinadores, que pagarão mais por uma Copa bienal, a ideia de que mesmo sem o apoio da elite essas marcas podem atingir consumidores que querem mudanças no esporte.
O projeto
O grupo criado pela Fifa para elaborar mudanças no calendário do futebol, liderado pelo ex-técnico do Arsenal Arsène Wenger, finalizou um plano a ser apresentado às confederações filiadas. A ideia é que a Copa do Mundo ocorra a cada dois anos, e não quatro como atualmente, o que mexeria no período em que os clubes liberam jogadores às seleções, as chamadas datas-Fifa.
A ideia é que a Copa passe a ser bienal depois da Copa de 2026, já marcada para EUA, Canadá e México, na primeira vez que ocorrerá em três sedes. Em 2028, portanto, já aconteceria uma nova edição.
A União Europeia e a Conmebol (Confederação Sul-Americana) são contra porque uma Copa bienal concorrerá mais vezes com seus torneios de clubes, como Liga dos Campeões e Libertadores, mas também porque a mudança no calendário afetaria os continentais, a Euro e a Copa América, que também seriam bienais, nos anos ímpares entre as Copas. As entidades questionam se haverá dinheiro privado para bancar tantas competições assim.
Para os clubes e jogadores há preocupação com aumento de torneios em final de temporada europeia — Copas e continentais seriam realizados entre junho e julho, como já é feito hoje. A Fifa argumenta que as modificações diminuiriam o desgaste das atletas, que viajariam menos vezes entre continentes para atuar pelas seleções. Haveria não cinco meses de datas-Fifa, mas um ou dois.
Para ser aprovada, a mudança do calendário precisa passar pelo Congresso da entidade, que ocorre anualmente entre maio e junho. É preciso ter a maioria de votos dos 211 filiados — a Fifa calcula ter hoje entre 90 e 95 favoráveis.
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