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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Por que a Conmebol não pensa em tirar a final da Libertadores de Guayaquil

Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, durante congresso da entidade - Divulgação
Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, durante congresso da entidade Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

29/09/2022 04h00

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O estado de exceção por causa de onda de violência em Guayaquil, que foi decretado pelo governo do Equador pelo menos até 14 de outubro, não faz a Conmebol pensar em mudar o local da final da Libertadores entre Flamengo e Athletico, marcada para 29 de outubro.

Dois fatores, principalmente, levam a confederação a não cogitar a alteração neste momento: o valor que já gastou na reforma do estádio Isidro Romero Carbo e o compromisso firmado entre o presidente da entidade, Alejandro Dominguez, e o presidente do Equador, Guillermo Lasso.

A coluna apurou que o entendimento entre diretores da Conmebol é que só haverá uma alteração se o Equador informar que não conseguirá garantir a segurança dos entes envolvidos na decisão. Em 26 de agosto, em evento realizado em Guayaquil, com a presença de Dominguez e de Lasso, a Conmebol e o governo equatoriano assinaram acordo para a realização da Libertadores feminina em Quito, entre 13 e 28 de outubro, e a finalíssima da Libertadores em 29 de outubro em Guayaquil.

Dos pontos que aparecem no documento está que o governo equatoriano garante a segurança, inclusive com alto investimento financeiro para isso. A Conmebol pediu essa documentação porque, em junho, houve no Equador 18 dias de protestos por causa do preço dos combustíveis, que deixaram seis mortos e centenas de feridos. Em 30 de junho um acordo entre o governo e os manifestantes acalmou a situação.

A preocupação agora é outra. O caos social teve grande disparada por causa do narcotráfico, com assassinatos, guerras de gangues, atentados com explosivos, assaltos, entre outros crimes que aumentando gradativamente ano a ano. Segundo as autoridades, entre janeiro e agosto de 2022, já foram 861 pessoas assassinadas e Guayaquil concentra 32,5% dos homicídios do país.

Dominguez, segundo apurou a coluna, não quer ouvir falar em troca de sede. Desde 2018, duas finais de Libertadores tiveram problemas e mudaram de cidade: há quatro anos, ainda com jogos ida e volta, a finalíssima saiu do Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, depois de ataque de torcedores do River Plate ao ônibus dos jogadores do Boca Juniors cancelar o confronto. A decisão ocorreu dias depois em Madri, na Espanha.

Em 2019, Flamengo x River jogariam em Santiago, mas protestos violentos no país fizeram o Chile desistir da organização. O confronto acabou sendo em Lima, no Peru. No mesmo ano, a final da Copa Sul-Americana entre Independiente Del Valle (Equador) e Colón (Argentina), que seria em Lima, passou para Assunção, no Paraguai.

Em 2022, o segundo torneio em importância na América do Sul também teve a decisão mudando de cidade, saindo de Brasília para Córdoba (na Argentina). O motivo foi a eleição geral brasileira, que impediu que o Distrito Federal estivesse apto a dar segurança para o futebol. Com tantas alterações de sedes recentes, Dominguez teme que as finais únicas acabem banalizadas, por isso não quer que isso ocorra com Guayaquil.

Há também a questão financeira: até 29 de outubro, a Conmebol terá desembolsado US$ 4 milhões (R$ 21,3 milhões) para auxiliar na adequação do Isidro Romero Carbo para a final — serão ainda mais US$ 2 milhões (R$ 10,6 milhões) pagos pela prefeitura de Guayaquil. Há intervenções feitas em todas as estruturas:

- no gramado, o sistema de irrigação e de drenagem foi trocado em janeiro, com reforma feita pelo Barcelona, dono do estádio, mas após vistoria em julho a Conmebol bancou nova remodelação;

- haverá aumento dos bancos de reservas e melhorias nos vestiários do mandante (que será do Flamengo, por ter melhor campanha), mas principalmente do visitante, considerado pequeno;

- foi pedido pela Conmebol que fosse providenciada uma sala adequada para um posto médico;

- as tribunas de imprensa serão ampliadas;

- os setores Norte e Sul, as arquibancadas atrás dos gols onde ficarão as torcidas dos clubes, serão numeradas, o que fará com que sua capacidade total fique em 12,4 mil lugares, como mostrou a coluna.

Os ingressos para a final já estão à venda, com preços partindo de US$ 142 (R$ 759) no setor exclusivo das torcidas dos clubes. Há, porém, o problema da logística: os preços estratosféricos das passagens e a opções escassas de hospedagem têm assustado e afastado uma grande quantidade de pessoas.