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Marcel Rizzo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Copa: reeleição garantida explica Infantino desafiar europeus no Qatar

Emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, e presidente da FIFA, Gianni Infantino, no estádio Al Bayt na abertura da Copa - REUTERS / Kai Pfaffenbach
Emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, e presidente da FIFA, Gianni Infantino, no estádio Al Bayt na abertura da Copa Imagem: REUTERS / Kai Pfaffenbach

Colunista do UOL

21/11/2022 09h30

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No dia 16 de novembro, quarta-feira da semana passada, terminou o prazo dado pela direção da Fifa para que interessados a ser presidente da entidade enviassem a inscrição de pré-candidatura — que precisava ser chancelada por alguma federação filiada. Só houve uma: a de Gianni Infantino, atual presidente que no dia 16 de março de 2023, no Congresso da Fifa em Kigali, Ruanda, será reeleito para um mandato até 2027.

Infantino amealhou durante meses apoios irrestritos em três confederações (Ásia, América do Sul e África) e de federações menores das outras três (Europa, Oceania e Américas do Norte e Central), o que inviabilizou qualquer movimento de oposição. Garantido para mais um mandato, o presidente da Fifa demonstra mais facilidade para enfrentar as principais federações europeias, que nos últimos anos foram as que de certa forma divergiram de propostas da cúpula, como realizar a Copa do Mundo a cada dois anos.

Nesta segunda-feira (21), dia 2 do Mundial do Qatar, sete federações europeias anunciaram que desistiram de usar uma braçadeira para seus capitães escrito One Love (um amor) e nas cores do arco-íris, em apoio à causa LGBTQI+ e com crítica aberta ao governo do Qatar, que criminaliza a homossexualidade. Por que desistiram? Porque a Fifa avisou que puniria com cartão amarelo os jogadores que não usassem o equipamento que ela disponibilizar, com base no artigo 13.8.1 do regulamento da Copa do Mundo.

No sábado (19), em entrevista coletiva em Doha, Infantino defendeu o Qatar como sede, disse que o Mundial terá diversidade e atacou os europeus, principais críticos do Mundial realizado no país do Oriente Médio. Infantino falou que as reclamações da Europa eram hipocrisia por tudo o que o continente fez nos últimos anos, se referindo a guerras e a períodos de escravidão. E que a Europa precisava pedir desculpa nos próximos três mil anos pelos últimos três mil.

O confronto com a elite do futebol da Europa dias depois de ter garantida a sua reeleição não é coincidência. Nos próximos anos, Infantino ainda tentará alterar a periodicidade da Copa, projeto que foi engavetado, mas não descartado. Recentemente o presidente trabalhou nos bastidores para tentar incluir Marrocos como sede conjunta a Portugal e Espanha, que são pré-candidatos a receber a Copa de 2030. Não houve sucesso — a Uefa (União Europeia de Futebol) acabou colocando no projeto a Ucrânia, que está em guerra com a Rússia há quase um ano.

A América do Sul está atenta a essa relação conturbada porque também quer a Copa de 2030, com a candidatura quádrupla de Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. Não à toa os sul-americanos, que se colocaram junto aos europeus contra a Copa bienal, acabaram declarando apoios de suas dez federações à reeleição de Infantino.

A Copa do Qatar está só no início, mas a queda de braço entre Fifa e elite europeia deve render ainda bons capítulos nas próximas semanas.