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Marcel Rizzo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Título argentino encerra jejum, mas América do Sul precisa mudar calendário

Messi é marcado por Mbappé na final da Copa do Mundo do Qatar entre Argentina e França, no estádio Lusail - Divulgação/Fifa
Messi é marcado por Mbappé na final da Copa do Mundo do Qatar entre Argentina e França, no estádio Lusail Imagem: Divulgação/Fifa

Colunista do UOL

18/12/2022 17h00

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A Argentina venceu a França, foi campeã da Copa do Qatar e acabou com um jejum de 20 anos do futebol da América do Sul. Depois de 2002, com o Penta do Brasil, somente europeus ganharam os quatro Mundiais seguintes. Um alento ao continente agora com dez taças e que nas duas últimas décadas sofreu com a superioridade da Europa, com 12.

A conquista, entretanto, não pode acomodar os países sul-americanos, que entenderam, pelo menos alguns deles, que havia defasagem de preparação nos ciclos entre as Copas do Mundo, comparando os calendários da América do Sul e da Europa.

É preciso que a Conmebol mude seu sistema de Eliminatórias, longo e que faz com que os países do continente se enfrentem entre si em demasia e não tenham oportunidade de confrontos contra times de outros locais. E a perda técnica não é apenas por não encarar europeus, mas também africanos e asiáticos.

Participar de uma Liga das Nações junto com a Uefa (União Europeia de Futebol) não impediria sobrar datas para jogos contra Marrocos, Nigéria, Austrália ou Japão. Mas o projeto de sul-americanos e europeus estarem juntos em uma competição organizada em divisões não tem como sair do papel se o regulamento das Eliminatórias da América do Sul não mudar.

Em agosto, a Conmebol anunciou que manteria o formato, com as dez seleções se enfrentando em 18 rodadas por pontos corridos. A confederação sul-americana queria mudar esse sistema, tinha o apoio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e uma AFA (Associação de Futebol da Argentina) em cima do muro. Mas como cada um dos dez filiados tem o mesmo peso de voto, prevaleceu a manutenção do regulamento.

O motivo? Federações menores, como Bolívia, Venezuela e Equador, vendem às empresas de mídia os nove direitos de transmissão como mandante pelas Eliminatórias. Os jogos contra Brasil e Argentina valem milhões de dólares, que aumentam significativamente a receita anual dessas entidades, bem mais pobres do que CBF e AFA.

Se alterar o sistema, para grupos de cinco seleções, por exemplo, cada federação terá, dependendo do regulamento, quatro ou cinco confrontos em casa para negociar, e provavelmente sem Brasil e Argentina juntos no pacote, já que as duas potências do continente devem ficar separados por melhor colocação no ranking da Fifa. Menos dinheiro garantido, portanto.

O próprio presidente da Fifa, Gianni Infantino, demonstrou em outubro descontentamento com o sistema, como relatou na época Rodrigo Mattos em sua coluna do UOL. Infantino fez um tour pelo continente em busca de apoio à sua reeleição, e apesar de não gostar das 18 datas usadas avisou que não iria interferir na decisão da Conmebol.

Em uma das sugestões apresentadas pela Conmebol de novo sistema, as dez federações filiadas seriam divididas em dois grupos de cinco e jogariam dentro das chaves, em dez datas. Como a América do Sul terá seis vagas diretas a partir da Copa do Mundo de 2026, nos EUA, México e Canadá, os três primeiros de cada grupo se classificariam direto.

Mas ainda há uma posição em repescagem mundial: esta seria definida entre os quartos colocados, que jogariam uma eliminatória continental, em ida e volta ou confronto único, a se definir.

No caso da Liga das Nações, as seis melhores seleções sul-americanas no ranking da Fifa entrariam direto na 1ª divisão, e as quatro outras na 2ª — são quatro no total. Os jogos ocorreriam na Europa, já que boa parte dos atletas convocados para os times da Conmebol atua em solo europeu. Mas com uma Eliminatória em 18 datas é impossível a América do Sul estar na Liga.