Topo

Marcel Rizzo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pelé foi principal responsável por globalização e fim do amadorismo da Fifa

O início de um caso de amor, quando Pelé olha com saudade para o seu companheiro de jantar, o troféu Jules Rimet - Getty Images
O início de um caso de amor, quando Pelé olha com saudade para o seu companheiro de jantar, o troféu Jules Rimet Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

30/12/2022 10h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Pelé já era Rei no Brasil, mas foi o tricampeonato da Copa do Mundo em 1970, no México, que o transformou no Rei do Futebol. Um futebol que, à época, era semiamador e comandado por uma Fifa que lembrava mais um clube de chá inglês do que uma entidade desportiva com alcance mundial. Normal, portanto, que o Rei mudasse esse cenário para sempre.

Quatro anos depois, em 1974, Pelé já estava aposentado da seleção brasileira quando ajudou a levar o brasileiro João Havelange à presidência da federação internacional. A poucos dias do início da Copa da Alemanha em junho daquele ano, em Frankfurt, Havelange venceu o inglês Stanley Rous, que comandava o clubinho restrito a europeus da Fifa desde 1961.

Havelange foi eleito principalmente porque usou Pelé como cabo eleitoral em países da periferia do futebol — termo pejorativo que é usado até hoje para designar aquelas localidades em que o esporte é incipiente, mas que tem o mesmo peso de voto de nações campeãs do mundo.

Na África, Pelé era um mito e a única alternativa do brasileiro com porte de europeu Havelange conquistar os votos que o levaria à chefia da Fifa era se associar à imagem do melhor do mundo, mesmo que a relação entre os dois não fosse a mais amistosa. Deu certo.

Foi Pelé, e não Havelange, quem globalizou o futebol. Sem o Rei como cabo eleitoral, o cartola brasileiro jamais venceria os europeus em eleição da Fifa, pelo menos não naquela década de 1970. A Fifa se profissionalizou na esteira do maior jogador da história: há o a.P, antes de Pelé, e o d.P, depois de Pelé, quando temos que falar sobre negócios do futebol.

A Fifa se tornou uma entidade bilionária, o que fez bem para o desenvolvimento do futebol em regiões periféricas, mas também escancarou práticas de corrupção que, décadas depois da eleição de Havelange, levaram vários dirigentes esportivos à cadeia por receber suborno — a maioria admitindo que ganhou dinheiro para facilitar acordos, principalmente de direitos comerciais e televisivos de diversos torneios.

Pelé seguiu boa parte desse período realizando parcerias esporádicas com a Fifa, que sempre o acionava quando precisava parecer mais simpática aos olhos da opinião pública. O Rei também teve seus imbróglios empresariais, mas para o mundo do futebol sempre pareceu fácil separar Edson Arantes do Nascimento de Pelé. Afinal, Edson era uma pessoa comum, com virtudes e defeitos. Pelé é eterno.