Dono do remédio que fez Robson ser preso na Rússia processará laboratório
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Robson Oliveira está preso em Kashira, na Rússia, há mais de um ano. O brasileiro de 47 anos foi para Moscou com sua companheira, Simone Barros, ela para trabalhar como cozinheira e ele motorista do volante Fernando, então jogador do Spartak Moscou. A pedido de familiares do jogador, levou uma mala quando embarcou no Rio de Janeiro. Nela, duas caixas de Mytedom 10mg (cloridrato de metadona), destinados a William Pereira de Faria, sogro do atleta, para conter dores nas costas que afligem.
Mas esse medicamento é proibido em território russo, por também ser utilizado pelos que tentam se livrar do vício pelo ópio ou heroína. Robson acabou preso algumas semanas depois de desembarcar, e aguarda o veredicto da justiça local. O blog entrevistou Fernando Cassar, advogado do jogador Fernando, hoje atuando no Beijing Guoan, da China, e seus familiares.
Os medicamentos que resultaram na prisão de Robson eram do William, sogro de Fernando, certo?
Sim, isso já foi admitido pela família. Eu não estava no caso no início, ele foi preso em março do ano passado, entrei meados do ano passado. Mas estudei muito a matéria. Não houve jamais deliberação do sogro do Fernando. William já havia entrado e saído em diferentes países com o medicamento que em 95% das nações é livre. Ele compra o remédio com receita médica e faz uso contínuo, não imaginava que o medicamento não era permitido lá, inclusive a embaixada russa somente depois do caso colocou em seu site que esse medicamento lá não é permitido. O que houve foi uma grande fatalidade.
Quem é responsável então?
O laboratório e a Anvisa, pois não colocam um aviso: "Ao viajar informe-se se esse medicamento é permitido no país de destino". O medicamento era para uso, eram duas caixas, evidentemente não se tratava de tráfico.
A família de Fernando e o próprio jogador depuseram à justiça russa admitindo que os medicamentos eram do William, sogro do atleta?
A receita em nome do William foi entregue e lá o que disseram foi: para nós essa receita não tem valor. Para eles o que importa é quem porta o remédio. No direito penal brasileiro a confissão não é suficiente para alguém ser condenado, para evitar que alguém assuma a culpa no lugar de outra pessoa. Agora imagine, um país como a Rússia, muito diferente do nosso, muito fechado e o rapaz ainda é de outra nacionalidade, tudo isso pesou. Mas nossa grande argumentação é a boa fé. Veja que nos aeroportos perguntam se a pessoa está levando algo ilícito e se está levando mais de US$ 10 mil, mas não se questiona se está portando algum medicamento.
Qual a alegação do jogador e seus familiares para irem embora da Rússia, deixando o rapaz preso?
Quando o clube contrata um atleta, o quer para ontem e ele mal teve tempo de fazer a mudança. Mas não o deixou desassistido, Robson ficou com um advogado. E fez um acordo para contratação de mais um advogado na Rússia, eles são pagos pelo Fernando, como as passagens para que o advogado brasileiro vá até lá acompanhar o caso. Ele ficar mais tempo jogando e vivendo na Rússia não adiantaria nada.
O que eles fizeram, ou fazem, pelo Robson?
Cobre os custos da defesa, na forma que o advogado dele pede. Inclusive o Fernando concordou em pagar a viagem da mãe dele até lá, mas depois ela mesma achou melhor não ir.
E quanto a um apoio moral?
Na ocasião eles conduziram todo o assunto, mas quando o advogado resolveu tomar a frente, fizemos toda essa cooperação. Ficar repetindo que o remédio não é dele não vai tira-lo de lá, isso depende de ações diplomáticas, de iniciativas do laboratório, que é enorme; e da Anvisa. Nesse país ninguém mexe com banqueiros e grandes laboratórios.
Em algum momento Fernando e seus familiares demonstraram arrependimento pelo que causaram a Robson?
Sim, o maior arrependimento é de ter ido para lá, mas já haviam viajado tantas vezes sem nada acontecer. O rapaz teve a oportunidade e aceitou trabalhar lá.
A mulher do Fernando funcionou como tradutora nos depoimentos do Fernando?
De forma alguma, primeiro porque ela não entende o idioma russo. Isso tudo foi falado, provavelmente porque as pessoas estavam ansiosas. Fato é que a pessoa com dor crônica sabe qual é a necessidade do remédio e não faria isso para prejudicar alguém.
Fernando não cogitou permanecer na Rússia, já que uma pessoa estava presa naquele país após ser por ele contratada, quando recebeu a proposta do futebol chinês?
Isso eu não posso responder porque sequer foi conversado entre nós.
O que William, sogro de Fernando, fala sobre tudo isso?
Ele está indignado, enquanto eu dou as entrevistas, ninguém fala com os médicos e o laboratório? O William vai entrar com uma ação contra o laboratório, que não avisa sobre a proibição do medicamento em alguns países. Isso ocorreu em função de uma vistoria na mala, se eles vistoriassem as malas de todo mundo, muito mais pessoas seriam detidas. A receita médica, inclusive, está retida na Anvisa.
Eles vieram para o Brasil quando a crise do coronavírus paralisou o futebol chinês?
Não posso responder. Meu contato é com William e a Sibele, mulher dele e sogra do Fernando, não mantenho contato com ele, exceto quando me procura.
Como eles se sentem andando pelas ruas no país, as pessoas o abordam para falar sobre o caso?
Nas ruas não sei dizer, mas por outros meios sim, com certeza, várias vezes, via WhattsApp, em mensagens no Facebook, até a mim passaram mensagens agressivas pelo Instagram
O que o senhor acha que acontecerá com Robson?
Eu não conheço o Direito russo, mas sabemos que trata-se de um país muito fechado. Sei que se ficar com o advogado russo, vai transcorrer como um processo a mais no país. As autoridades brasileiras deveriam agir diplomaticamente a favor do rapaz.
O que aconselhou Fernando e seus familiares a fazer a respeito desse caso?
Colaborar, o que foi totalmente acatado, com os requerimentos do advogado do Robson, ou seja, pagar as passagens, os advogados. O que temos de repetir é que esse medicamento é permitido no Brasil.
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