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Mauro Cezar Pereira

Da ida de Bebeto do Fla para o Vasco ao ginásio que "pagou" um artilheiro

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Imagem: Reprodução

09/04/2020 04h00

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No programa Futebol no Mundo, da ESPN Brasil, de terça-feira, falávamos sobre polêmicas trocas de clubes por jogadores importantes que saíram de um rival para outro. A conversa chegou ao Brasil e lembrei o episódio Bebeto, que foi do Flamengo para o Vasco. Logo depois, recebi um telefonema de Gilberto Cardoso Filho, então presidente rubro-negro, que relatou detalhes da tumultuada negociação feita em 1989.

Nesses tempos de bola parada e reprises de antigos jogos, a saborosa história merece ser aqui compartilhada. "Quando Bebeto quis renovar, pediu o dobro do que o Zico ganhava, que eram US$ 240 mil por ano. Sim, ele queria US$ 480 anuais. E o Vasco pagou o que o Flamengo oferecia, US$ 200 mil por ano, mais do que o Júnior recebia", conta Gilberto, acrescentando que na mesma época Renato Gaúcho voltou da Roma por US$ 150 mil anuais. "Se eu aceito o que Bebeto pedia, Zico iria à minha sala e perguntaria: 'Sabe quem eu sou'?

O ex-presidente conta que Bebeto teria se arrependido e quis voltar atrás porque o Flamengo estava recebendo o dinheiro da venda do Aldair ao Benfica. Na viagem à Europa para fechar negócio com os portugueses, ele acertou a volta de Renato e havia a possibilidade de o atacante a caminho de São Januário ser vendido para a Roma por US$ 6 milhões. "Na ida para o Vasco ele faturou mesmo nos 15% da venda do passe que eram dele por direito. Se fosse para a Roma ganharia muito mais, mas já havia assinado. O Vasco pagou US$ 2,5 milhões, depositou, pois o jogador uma carta do Márcio Braga (ex-presidente) que estipulava o valor para o passe", recorda.

Mas como o Vasco conseguiu levar o ídolo rival? "Eu estava em Portugal e lá encontrei o então presidente Antonio Soares Calçada. Ele me disse que não teria aquilo tudo, mas até US$ 1,5 milhão pagaria, pois havia vendido Geovani ao Bologna, acertou dívidas e ficou com esse valor para investir no Bebeto", conta. Gilberto Cardoso Filho, cujo pai também foi mandatário do Flamengo, lembra que um "ilustre" vascaíno depositou a quantia e o clube mais tarde vendeu o atacante ao Deportivo La Coruña pela mesma quantia.

"Também paguei dívidas, fui o único presidente em anos que pagou os impostos todos em dia no clube", assegura ele, que ocupou o cargo entre 1989 e 1990. Desesperado por um goleador, para o lugar de Bebeto, o Flamengo foi buscar uma revelação do clube que estava no Palmeiras. "Comprei o Gaúcho por US$ 100 mil em três parcelas de US$ 33 mil e pouco", revela.

08/12/1991. Retrato do jogador Gaúcho, do Flamengo, comemorando gol anotado contra o Botafogo, pelo Campeonato Brasileiro de Futebol no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. - Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo - Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo
Imagem: Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo

A forma como os pagamentos foram feitos foi curiosa, algo inimaginável hoje em dia. "Aluguei o ginásio Hélio Maurício, que havíamos inaugurado, para a TV Globo fazer o programa do Faustão e recebemos US$ 30 mil. Depois mais US$ 30 mil por um show do grupo musical Oingo Boingo. Tudo no ginásio. E ainda fizemos mais um evento para completar o dinheiro", recorda.

Gilberto, hoje com 81 anos, lembra dos detalhes e revela a parte mais pitoresca da negociação: "Quando fomos pagar os últimos US$ 33 mil ao Palmeiras, o empresário que fez a negociação, que era o Marcos Lázaro, queria devolver os US$ 66 mil que havíamos desembolsado e dar mais US$ 100 mil para ter o Gaúcho de volta. O prazo terminava em 31 de dezembro de 1989 e provavelmente ele poderia revende-lo por mais ainda".

Em suma, o Flamengo teve a oportunidade de devolver o jogador e ficar com US$ 166 mil. "Fui a São Paulo com o Márcio Braga, e disse que ele deveria decidir, afinal, estava voltando à presidência e o clube tinha dinheiro das vendas do Bebeto e do Aldair. Mas o Márcio preferiu ficar com o jogador". Depois disso, Gaúcho foi fundamental nos títulos carioca (1991) e brasileiro (1992) que conquistou com a camisa rubro-negra.

"Mas o interessante mesmo é que foi o próprio Marcos Lázaro que havia conseguido, oferecido, todos aqueles eventos que fizemos no ginásio do Flamengo e viabilizaram os pagamentos das três parcelas do Gaúcho. Ele vendeu o jogador, nos ajudou a pagar e ainda queria de volta nos dando um valor maior", conta o ex-presidente, que é primo do atual ocupante do cargo, Rodolfo Landim. Sorte do Flamengo que se Bebeto mudou de clube e brilhou no Vasco campeão nacional em 1989, o camisa 9 ficou na Gávea e marcou época com 98 gols em 199 partidas.