Topo

Mauro Cezar Pereira

Com Leco de saída, Rogério Ceni diz não ter pressa para voltar ao São Paulo

13/06/2020 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Rogério Ceni estreou como treinador no clube que defendeu por toda a carreira de goleiro. Mas a passagem como técnico do São Paulo foi curta, 221 dias do anúncio, em novembro de 2016, à demissão. Comandando o time foram 180, exatos seis meses. A saída completará três anos no próximo dia 3.

Na terceira e última parte da entrevista exclusiva ao blog, o ídolo tricolor diz não ter pressa para voltar, independentemente do adeus de Leco à presidência, no final de 2020. Ele elogia o atual comandante da equipe, Fernando Diniz, e fala sobre a possibilidade de, um dia, trabalhar na Europa.

Ceni é apresentado pelo presidente Leco como novo técnico do São Paulo - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Rogério Ceni sendo apresentado pelo presidente Leco como novo técnico do São Paulo em janeiro de 2017
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Sua passagem pelo São Paulo como treinador foi precoce?
Qualquer primeiro emprego que a pessoa tenha é precoce. Errei? Não. Fiquei duas semanas em Cotia (cidade onde se localiza o Centro de Treinamentos das divisões de base do São Paulo) e cheguei a dar treino para a base lá. Trouxe seis ou sete jogadores. O Militão foi vendido, Araruna eu fui buscar, David Neres nem deu tempo de trabalhar. Nas minhas "contratações" para o São Paulo não gastamos nada, dos 22 que foram à Florida Cup (em janeiro de 2017), 12 eram formados no clube.

E saíram vários...
No tempo em que lá estive foram vendidos Thiago Mendes, Maicon, David Neres, Lyanco, Luiz Araújo... O que fiz foi um grande aprendizado, o melhor que eu podia, dentro do que tinha. Na semana que saí, chegaram Hernanes, Petros, o time foi reforçado.

Há quem aposte em sua volta quando Leco sair da presidência, claro, quando não houver alguém no cargo, hoje ocupado pelo Fernando Diniz. É por aí?
Se eu sou um diretor do São Paulo, ficaria com o Diniz lá. Bom profissional e está crescendo na carreira. Não se pode comparar o São Paulo de 2017 com o de 2020, que hoje tem una zaga bem postada, Tiago Volpi bem, a safra de meninos. Antony, que por sinal até já está saindo, Ígor Gomes, Everton... São vários jogadores que faltavam naquela época, apesar de as dívidas também terem crescido bastante.

"Sobre um dia voltar, se acontecer será um prazer enorme. Tenho
o maior carinho pelo clube, pessoas e dirigentes. Teve esse
problema com o Leco, que acontece, faz parte do futebol"

E a volta?
Agora, sobre um dia voltar, se acontecer será um prazer enorme, trabalhei 25 anos lá, uma vida dentro do futebol. Tenho o maior carinho pelo clube, pessoas e dirigentes. Teve esse problema com o Leco, que acontece, faz parte do futebol. No Fortaleza começo a ganhar espaço porque conseguimos ganhar títulos, mas o São Paulo é o clube que me formou.

Podendo escolher, preferiria uma segunda oportunidade de comandar o São Paulo ou algum outro grande clube brasileiro?
Se fosse para escolher, eu queria melhorar o máximo que pudesse, com o Fortaleza mantendo-se na Série A, melhorando o Centro de Treinamentos, melhorando o gramado, colocando drenagem no campo do CT, nova fisioterapia... Isso se chama legado. Estou superfeliz aqui e quero tentar repetir e ganhar mais um título esse ano. Se surgir proposta em um ou dois anos, se eu seguir tendo sucesso, aí vamos estudar.

E o São Paulo?
Independentemente de voltar a trabalhar lá, ou não, é eterno para mim e está no meu coração para sempre. Não há obrigação nenhuma do São Paulo para minha volta. Deixei a vida lá dentro e fiz o meu melhor. Se for possível dar continuidade a essa história, vai acontecer. Essa é uma relação que talvez Zico no Flamengo e Roberto (Dinamite) no Vasco e muito poucos tiveram. Esse sentimento de tantos anos no mesmo clube.

Você pensa em treinar times do exterior?
Eu teria o desejo de chegar à Europa, mas acho muito difícil treinador brasileiro chegar lá, exceto um que ganhe a Copa do Mundo, ou por clube menor. Pela valorização que eles dão ao profissional lá fora, espanhóis e portugueses na Inglaterra, por exemplo. Se eu gostaria, diferentemente de quando jogador? Claro que eu gostaria de poder treinar lá, mas acho que é um mercado muito difícil para um treinador brasileiro alcançar.

Treinadores brasileiros não costumam se aventurar no futebol europeu por times menores, como Mauricio Pochettino, que dirigiu o Espanyol e o Southampton antes do Tottenham; Diego Simeone, que esteve no Catania antes do Atlético de Madrid; e Manuel Pellegrini, que passou pelo Villarreal antes do Real Madrid, e pelo Málaga, até chegar ao Manchester City para ganhar uma Premier League. Você tentaria uma caminhada assim? Assumiria um time do porte equivalente ao do Fortaleza numa liga europeia?
Se tivesse essa oportunidade, eu pensaria. Estou com 47 para 48 anos, para treinador, novo. Mas meu treino é muito intenso, não sei até quando o corpo aguenta, tem que encontrar gente para trabalhar comigo. O Charles (Hembert, auxiliar francês que Ceni levou para o São Paulo em 2017) segue comigo, me ajuda bastante. Mas se eu tivesse uma oportunidade numa equipe que possa jogar entre os 10 primeiros em uma liga portuguesa, espanhola, pensaria seriamente. Mas antes, tem que dominar a cultura e o idioma. Se não estiver pronto para isso, dificilmente terá sucesso.

Leia também a primeira e a segunda partes da entrevista:
Rogério Ceni garante que se o deixassem trabalhar, o Cruzeiro não cairia

Ceni fala de Sampaoli, Jesus e afirma: "Não trabalho para defender emprego"