TV vende quotas da final e Flamengo é servido na guerra governo/SBT x Globo
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Rede de TV bem relacionada com o presidente da república, o SBT vendeu as quotas de patrocínio para o Fla-Flu de hoje, às 21 horas, no Maracanã. Na lista de patrocinadores, entre nacionais e locais, há companhia de algum modo ligada ao governo federal, sob o comando de empresário ideologicamente conectado a Jair Bolsonaro, por exemplo.
E não é só. Como o UOL publicou, o Ministro das Comunicações e genro de Silvio Santos, dono do SBT, Fábio Faria (PSD-RN) teve importante participação para que saísse o acordo que resultou na exibição da final do Campeonato Carioca. O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, inclusive esteve em sua posse no ministério, há menos de um mês, em Brasília.
Dependendo de quanto render, é possível que dirigentes flamenguistas mostrem, orgulhosamente, as cifras relativas à transmissão desse cotejo para justificar a má estratégia de exibição de seus jogos neste campeonato carioca, mesmo após a Medida Provisória 984. Se conseguirem minimizar ou compensar o dinheiro que desprezaram lá atrás sem um plano alternativo, dificilmente falarão sobre o fato de entregarem as imagens da peleja em uma espécie de consignação, mesmo tendo um time tão valioso.
Gustavo Oliveira, vice-presidente de Comunicação e Marketing do Flamengo, em entrevista ao UOL, dada em janeiro de 2020.
Como o UOL informou, o SBT nada desembolsa no acordo, consequentemente não precisou dar garantia mínima de faturamento ao Flamengo. E a emissora, até aqui, não apresenta sinal algum de interesse em bancar uma quota pelos jogos dos rubro-negros no Estadual do Rio de Janeiro 2021, caso a MP vire lei. É esse Fla-Flu decisivo, nada de partidas frente a Resende, Cabofriense ou Boavista. Uma oportunidade bem aproveitada pela Rede de Sílvio Santos.
Pegou, sim, um filé mignon de ocasião, pois será uma decisão com muito mais visibilidade do que o normal, pelo fato de ser jogo isolado em meio à pandemia, que segue matando. No Brasil, mais de 1,3 mil morreram na véspera da partida e já são quase 75 mil óbitos no total, fora subnotificações.
Ao contrário do que acontece em finais de Estaduais, normalmente disputadas ao mesmo tempo em um domingo de decisões, essa não terá concorrência. Em função disso, catalisará bem mais as atenções, inclusive em mercados que não dariam tanta importância ao Fla-Flu se tivessem partidas locais na telinha, entre eles o maior do país, São Paulo. Sem esse contexto, as cifras dessa parceria de uma noite dificilmente seriam alcançadas.
Estamos diante de um cenário atípico. E é curioso depois de apostar em canal próprio de YouTube e My Cujoo, a diretoria rubro-negra tenha procurado a boa e velha televisão, ainda importantíssima para a difusão do futebol, no Brasil e pelo mundo. Como o UOL informou, os patrocinadores queriam visibilidade. Tão óbvio. Quem pagaria milhões para ver sua marca apenas na Fla TV?
Em suma, o Flamengo acaba servido como ferramenta na guerra, nem sempre fria, entre duas redes de TV. Uma incondicionalmente apoia o atual governo, como apoiava outros (quem não se lembra da "Semana do presidente"? - vídeo abaixo). Outra, excepcionalmente, está em lado oposto ao Palácio do Planalto. Ou seja, de um lado a presidência da república e o SBT, do outro, a Globo.
No meio disso tudo, o clube de maior torcida país, em papel subalterno exatamente no momento em que é campeão nacional e sul-americano. Funcionando como instrumento político em busca dos caraminguás antes desprezados quando o dinheiro dos direitos de transmissão do Estadual sequer entrou no orçamento para 2020.
Mas os torcedores de dirigentes, coitados, jamais perceberão o que estão fazendo com o Flamengo. Como se sabe, eles amam os cartolas, não o clube.
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