Jesus será "exorbitantemente" caro, diz candidato à presidência do Benfica
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Rui Gomes da Silva, 61 anos, é um dos principais críticos à gestão de Luís Filipe Vieira na presidência do Benfica. Advogado com carreira na política, também atua como comentarista esportivo na televisão portuguesa. Candidato à presidência do clube de maior torcida em Portugal nas eleições em outubro, ele conversou com o blog e disse o que pensa da ousada investida dos encarnados para recontratar o técnico Jorge Jesus.
O senhor é candidato à presidência do Benfica. Por que se candidatou?
Porque o Benfica merece um projeto alternativo ao de quem ocupa o lugar há mais de 17 anos. Um projeto desportivo assente numa ligação ao clube e que não reduza o Benfica a um entreposto de jogadores, refém de empresários e com aquisições e vendas que ninguém percebe porque não têm qualquer lógica na perspetiva de um clube de futebol que deseja regressar à glória dos tempos em que discutia cada jogo na Liga dos Campeões.
Como avalia a gestão atual no clube em geral?
Em termos futebolísticos, cada vez mais fraca na Europa. E mesmo com as vitórias conseguidas no campeonato nacional, o Benfica não se conseguiu impor a um Porto intervencionado pela Uefa (o clube sofreu uma punição e teve que fazer ajustes específicos em suas finanças). Na verdade, nos últimos três anos, com a referida intervenção e limitação de gestão ao Porto, o Benfica perdeu - para esse mesmo Porto - dois campeonatos em três. E se falarmos dos últimos 10, a tal hegemonia corresponde a uma repartição de 50% a 50% nos campeonatos ganhos. E mesmo falando de resultados financeiros, não podemos esquecer que o Benfica recebeu, nos últimos 10 anos, milhões de euros de vendas de jogadores. E ainda assim, para diminuir o passivo bancário, teve de antecipar metade do contrato de direitos televisivos.
Houve queda de associados, não há arrecadação com ingressos, a Emirates pode deixar de patrocinar, um empréstimo de 50 milhões de euros foi contraído... Qual a situação financeira do Benfica com a pandemia?
Menos grave, por certo, do que outros clubes portugueses, mas muito pior do que a versão propagandeada pela atual direção quer fazer crer.
Nesse contexto, como analisa a contratação de Jorge Jesus? Cara? Barata? Compatível com o momento?
Caríssima. Exorbitantemente cara, apenas compreensível pelas limitações a todo o nível de quem escolhe e pelo estado de necessidade em que se encontra o presidente do Benfica. Que julgou que, com essa contratação, resolveria os problemas de contestação dos sócios, face ao fraquíssimo desempenho desportivo da equipa.
Se fosse o presidente, o senhor manteria Bruno Lage, treinador que se demitiu recentemente, o diria para seguir?
Não é um problema que tenha de lidar. Não fui eu que lhe renovei o contrato até 2024 há cerca de seis meses, nem fui eu que reafirmei perante as câmeras de televisão, numa entrevista dada na Benfica TV, que ele era o treinador com perfil para o projeto para os próximos anos que o presidente tinha para o Benfica. O mesmo presidente que disse e repetiu durante anos que era impossível pensar o futuro do Benfica com Jorge Jesus como treinador.
Como vê a mudança radical, de um jovem treinador como Bruno Lage, que custava 1 milhão de euros por ano, para a volta de Jorge Jesus, custando algumas vezes isso?
Sobrevivência de quem decide, acossado como está em várias frentes, pensando que, com essa decisão, voltaria a ter o apoio dos sócios.
Pelas informações que possui, quanto custará Jesus e sua comissão técnica?
Serão 26,5 milhões de euros em três anos, repete a comunicação social portuguesa.
Na sua opinião esse investimento é compatível com o momento financeiro do clube? Por quê?
Acho que não. Mas como a salvação do ainda presidente do clube passou a valer tudo.
Sabe-se que Jorge Jesus pedirá contratações, o Benfica pode fazer elevados investimentos em novos jogadores?
A salvação e o estado de necessidade do presidente determinarão a medida do valor a pagar por cada jogador que for indicado por Jorge Jesus.
Jornalistas portugueses especulam nomes de atletas do Flamengo, como Gérson, Bruno Henrique e Everton Ribeiro, que têm multas rescisórias altas em dezenas de milhões de euros. O Benfica tem como pagar tanto por eles?
Presumo que não para todos.
Qual o limite de investimento do clube para reforços que atendam Jorge Jesus?
Sendo a capacidade de endividamento do Benfica tão grande como a sua dimensão, dependerão da necessidade e da pressão que o técnico fizer para os conseguir. Se não forem satisfeitos, começarão os desentendimentos, por certo.
Na sua opinião, por que o Benfica ainda não pagou ao Corinthians os 20 milhões de euros pelo Pedrinho?
Problemas relacionados com a tentativa de reduzir o preço, por força da desvalorização do real, para além de se saber que não será o tipo de jogador admirado por Jorge Jesus.
Jorge Jesus disse em uma entrevista: "Se me perguntarem se há jogadores no Brasil, na mesma posição do Pedrinho, melhores do que ele, eu digo que há e são vários". Acha que isso pode atrapalhar a trajetória do jogador no Benfica?
Se Jorge Jesus for coerente com as suas declarações, acho que sim.
A saída de Jorge Jesus do Benfica foi conturbada. Qual sua opinião sobre aquele episódio?
Muito complicada, muito conflituosa, muito litigiosa. Não só a saída, mas todo o tempo em que foi treinador daquele clube.
Parte dos adeptos benfiquistas parece não perdoar Jorge Jesus, pela forma como deixou o clube e por ter dirigido o Sporting. O senhor concorda com o ponto de vista desses torcedores?
Sim!
Qual percentual de adeptos que não queria a volta de Jorge Jesus na sua opinião?
Não posso nem quero apontar um número preciso, mas até ontem, não teria dúvidas de referir que uma grande maioria.
Se ganhar eleição, como imagina que será sua relação com Jorge Jesus, que lá estará com um contrato longo e caro?
Respeitarei o que tiver de respeitar, sem hesitar um minuto na defesa intransigente dos interesses do Benfica
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