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Mauro Cezar Pereira

Gestão Landim move processo que pode expulsar sócio opositor do Flamengo

O presidente do Flamengo Rodolfo Landim - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente do Flamengo Rodolfo Landim Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

09/11/2020 04h00

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A gestão Rodolfo Landim move um processo interno contra um sócio e conselheiro do Flamengo. A alegação é de que Rodrigo Rötzsch teria desencadeado "uma série de prejuízos à imagem" do clube ao reproduzir, em suas redes sociais e em uma live no canal Mauro Cezar, no YouTube, uma série de perguntas feita pelo grupo do qual faz parte, o Flamengo da Gente.

O associado abordara, entre outros pontos, a articulação para os retornos das atividades e os protocolos adotados para evitar o contágio de atletas e funcionários. O julgamento pelo Conselho Diretor está marcado para esta segunda-feira. Segundo a comunicação do Flamengo "essa questão esta sub judice e o clube não se manifestará antecipadamente a respeito".

"A gestão atual me acusa de ofensas e de praticar grave indisciplina social com meus posts, entre eles outra reprodução de conteúdo do Flamengo da Gente", diz Rötzsch, referindo-se ao grupo de oposição formado por associados e torcedores. Trata-se de uma nota afirmando que o Flamengo optou por um "caminho obscurantista" ao apoiar a decisão de retomada do Campeonato Carioca, em junho.

O processo foi instaurado por um ato do Conselho Diretor, assinado pelo próprio presidente Rodolfo Landim, que nomeou uma Comissão de Inquérito. "Ela é formada por sócios que apoiam publicamente a atual gestão, alguns dos quais já criticaram no passado a atuação do Flamengo da Gente. Um deles já se referiu ao grupo, jocosamente, como 'seita da gente'", destaca Rötzsch.

A Comissão foi criada sob a alegação de que averiguaria se o sócio violou três artigos do estatuto do clube. Cada um deles prevê como pena suspensão de até 360 dias ou mesmo exclusão do quadro social. Instalada em 16 de junho, mesmo dia da publicação da nota do Flamengo da Gente, a comissão deveria ter encerrado os seus trabalhos em agosto, já que o estatuto do clube prevê o prazo máximo de funcionamento de 60 dias.

O caso será julgado em primeira instância pelo próprio Conselho Diretor, que é o autor da denúncia. Em suma, quem denuncia, julga! Se condenado, o sócio opositor só poderá recorrer, internamente, ao Conselho de Administração, sendo que aproximadamente 80% de sua composição é controlada pela gestão Rodolfo Landim, segundo o Flamengo da Gente.

Rötzsch ressalta que o episódio em que vários jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes contraíram coronavírus durante a viagem do Flamengo ao Equador para a disputa de jogos da Libertadores mostra que os questionamentos feitos pelo grupo político eram pertinentes.

"Entre as 20 perguntas feitas pelo Flamengo da Gente no dia 22 de maio, uma questionava especificamente se o protocolo adotado pelo Flamengo teria como conter um surto de coronavírus no elenco", frisa.

"Qual o grau de confiabilidade dos testes rápidos que o Flamengo fará com seus jogadores todas as semanas? Qual a possibilidade de um atleta ou funcionário infectado não ser detectado? O intervalo de uma semana entre os testes é suficiente para impedir um possível surto de contágio dentro do elenco?", eram outros questionamentos.

Conselho Diretor do Flamengo pode expulsar sócio por questionar direção do clube - Reprodução - Reprodução
Conselho Diretor do Flamengo pode expulsar sócio por questionar direção do clube
Imagem: Reprodução

Apesar de considerar no ato em que criou a comissão de inquérito que "as perguntas se referem a assuntos estratégicos e sigilosos do Flamengo, e, por isso, são tratadas internamente', o Conselho Diretor jamais respondeu aos questionamentos feitos pelo Flamengo da Gente", enumera.

Em maio, quando o número de casos da Covid-19 crescia diariamente no país, o grupo do qual faz parte Rodrigo Rötzsch questionou o retorno do time de futebol às atividades no Centro de Treinamentos. Logo no segundo parágrafo do documento, um trecho chama a atenção, principalmente pelo fato de o Flamengo ser um clube aberto aos sócios e com a maior parte de suas receitas derivada de torcedores que sequer pertencem ao quadro associativo.

O Ato 003/2020 do Conselho Diretor/Comissão de Inquérito define que "estas perguntas se referem a assuntos estratégicos e sigilosos do Flamengo e, por isso, são tratadas internamente". Em outro trecho, o documento relata que, na live, Rötzsch "tornou público assuntos internos do clube ao citar explicitamente o conteúdo das perguntas protocoladas pelos sócios ao presidente do Flamengo". E que isso causou "grande impacto negativo à imagem do clube".

Curioso que esses questionamentos, jamais respondidos segundo o Flamengo da Gente, não possam ser feitos de forma clara e transparente. Ou o rubro-negro, independentemente de ser associado, não pode saber o que a direção tem a dizer sobre assuntos como a volta aos treinos durante a pandemia?

O processo vinha correndo até agora sob pedido de sigilo da comissão de inquérito. Em uma audiência de instrução à qual o blog teve acesso, o sócio questionou a comissão sobre que artigo do estatuto prevê o sigilo. O presidente da comissão não soube citar nenhum artigo, mas alegou "jurisprudência" de casos anteriores para justificar a decisão.

O grupo considera o processo contra seu integrante uma perseguição ao Flamengo da Gente, que critica publicamente a diretoria em outras instâncias, notavelmente a condução da diretoria após a tragédia do Ninho do Urubu, que neste domingo completará 21 meses. E uma ameaça à possibilidade geral de haver uma oposição democrática no Flamengo.

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