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São-paulinos, Rogério Ceni e o culto à narrativa da vitimização, do traído
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Foi o São Paulo Futebol Clube que tomou a iniciativa de transformar Rogério Ceni em técnico do time profissional mais cedo do que se imaginava. Aconteceu em 2016, quando Ricardo Gomes, que fazia um bom trabalho, foi substituído pelo ex-goleiro no cargo de treinador tricolor.
Ceni durou 221 dias na função. Foi demitido após uma derrota para o Flamengo, na Ilha do Governador. De fato, o time não engrenara, parte por responsabilidade dele, parte pela debandada de jogadores vendidos pelos dirigentes em curto espaço de tempo.
No momento em que o clube transformou seu ídolo em técnico, o são-paulino sabia, ou deveria saber, que ele estaria no mercado a partir de então. Exceto se resolvesse desistir da nova carreira. Mas Ceni jamais deu tais sinais, pelo contrário, deixou claro que seguiria treinador de futebol.
Depois de circular pela Europa e estudar, de se preparar melhor, o ex-camisa 01 aceitou o desafio de comandar o Fortaleza, de onde saiu para uma má aventura no Cruzeiro pré-rebaixamento em 2019. Acabou voltando para o time cearense na mesma temporada.
Alguém tinha dúvidas de que, cedo ou tarde, outro grande clube brasileiro o contrataria? Beira a ingenuidade achar que Ceni ficaria em uma equipe que não briga pelos grandes títulos à espera de um chamado do São Paulo. Os sinais foram dados quando topou comandar o Cruzeiro.
Então surgiu o Flamengo. E o destino fez os são-paulinos despencarem do alto dos sete pontos de vantagem na liderança do Campeonato Brasileiro para uma incômoda situação. Sim, Rogério poderá ganhar o título nacional diante do clube onde jogou e na ex-casa, o Morumbi.
É natural que isso magoe corações tricolores. Mas parece caso de terapia coletiva mostrar a esses torcedores apaixonados que Ceni fez uma escolha. Ele optou por si mesmo, por sua carreira, pelo seu novo caminho profissional, não importa o adversário que cruze seu caminho. Isso é profissionalismo!
Sim, ele até pode ser campeão pelo Flamengo e no futuro aparecer como técnico do Vasco, Botafogo ou Fluminense, duelando com os rubro-negros. Como Cuca foi jogador e treinador campeão brasileiro pelo Palmeiras, mas há poucas semanas surgiu como rival, à frente do Santos, na final da Libertadores.
Telê Santana nunca jogou pelo São Paulo, foi ídolo do Fluminense, o "Fio de Esperança" nos anos 1950. Treinou o tricolor das Laranjeiras, entre tantos clubes, mas foi ao lado dos são-paulinos que se encontrou, se identificou de vez. Até hoje é amado por lá. Bonito isso.
Com Rogério pode acontecer uma volta triunfal às origens, ou uma identificação maior do treinador Ceni com outro clube. E nem parece que vá ser o Flamengo, por mais paradoxal que possa parecer ante a chance de título, tamanha a (inexplicável) rejeição de parte da torcida em relação a ele.
Uma ciumeira doentia se espalha por aí toda vez que o atual treinador flamenguista cita o clube, sua popularidade, sua torcida. Queriam o que, meus caros, que ele ficasse elogiando torcidas e estádios de outros times, como alguém já fez antes? Ceni parece inteligente demais para isso.
Superem, tricolores, deixem de lado o culto à narrativa da vitimização, do sujeito "traído". Pois mesmo que o São Paulo impeça o título rubro-negro na noite de quinta-feira, no Morumbi, o ex-goleiro e (ex?)ídolo máximo seguirá por aí, como adversário. No Flamengo ou em algum outro clube.
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