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Mauro Cezar Pereira

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Os clubes que priorizavam "salvar vidas" agora querem jogar para sobreviver

Jogadores do Botafogo exibem faixa de protesto antes de jogo contra a Cabofriense no Campeonato Carioca de 2020 - Thiago Ribeiro/AGIF
Jogadores do Botafogo exibem faixa de protesto antes de jogo contra a Cabofriense no Campeonato Carioca de 2020 Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

24/03/2021 04h00

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Em 2020, os clubes de São Paulo se reuniam com a Federação Estadual de Futebol durante a paralisação do campeonato paulista para discutir a volta aos jogos. Com discurso unificado, repetiam que isso só aconteceria quando as condições fossem adequadas, seguras etc.

No Rio de Janeiro, Fluminense e Botafogo eram resistentes ante a tentativa da Federação de retomar o Campeonato Carioca, ideia que tinha o forte apoio do Flamengo e, de forma mais discreta, era defendida pelo Vasco da Gama. Jogadores alvinegros chegaram a entrar em campo com faixa na qual se lia que "Protocolo bom é o que respeita vidas".

Merecidamente, pela pressa, falta de sensibilidade e frieza diante dos fatos, os cartolas rubro-negros foram muito criticados. Mas quando o acordo para a volta do certame começou a ser costurado, a discussão já não era mais sobre vidas, se jogariam, ou não, mas quando. Os antes opositores do retorno queriam adiar o reinício com o intuito de terem tempo para treinar.

Obviamente, o objetivo era não perder em condição física, na preparação dos seus times antes de enfrentar o Flamengo, que havia retomado atividades há algum tempo. Em São Paulo, as preocupações atualizadas também incluíam possível desvantagem nas competições nacionais, já que em outros Estados havia times em ação nos CTs, como a dupla Grenal.

Na videoconferência do presidente da CBF, Rogério Caboclo, com os integrantes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, o mandatário cebeefiano perguntou: "Algum presidente aqui presente é contra a continuidade [do futebol]?" Nenhum dos 70 dirigentes de clubes se manifestou.

Aparentemente, todos são favoráveis à continuidade das competições, como defende Caboclo. Mas além da conhecida subserviência à CBF, o silêncio tem outra explicação: a corda no pescoço. Os cartolas sabem que, como o próprio presidente da entidade disse, se as partidas não acontecerem, estarão "f..."

Se em 2020 havia quem discursasse por vidas, defendendo arduamente o futebol paralisado, agora eles sabem que a sobrevivência dos próprios clubes depende da bola rolando, gerando receitas mínimas para que cumpram suas obrigações. No ano passado, o discurso era outro porque ainda não percebiam os efeitos colaterais da pandemia. Hoje, a saúde dos clubes os sente. E como!

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