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Mauro Cezar Pereira

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mauro Cezar: após Jesus e Firmino, Tite faz de Gabigol um "Jorge Henrique"

Gabigol e Medel em Chile 0 x 1 Brasil - Getty Images
Gabigol e Medel em Chile 0 x 1 Brasil Imagem: Getty Images

04/09/2021 04h00

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Aos atacantes da seleção brasileira Tite entrega uma missão que parece, para ele, ser a mais importante: marcar, defender, desarmar. Na Copa do Mundo de 2018, Gabriel Jesus era elogiado pelos defensores incondicionais do técnico pela ativa participação no jogo sem bola. Voltava, recuava, combatia.

Ótimo, claro. É inegável que a ação do jogador quando a pelota é do adversário tem enorme importância no futebol, inclusive para quem atua lá na frente. O estranho se observa quando essas características passam a bastar, mesmo que não faça gols, não dê assistências, não participe como atacante.

Todos são convocados por serem atletas com tal capacidade, e - cada um no seu estilo - mostram isso em seus clubes. É o que faz com que sejam chamados para o selecionado cebeefiano. Mas com Tite apenas Neymar é escalado da maneira que o deixe mais confortável. Quantos aos demais, são tratados como versões mais luxuosas de "Jorge Henrique".

O atacante (de origem) que defendeu o Corinthians 216 vezes, marcando 30 gols, foi um dos favoritos de Tite por sua intensa participação sem a bola. Era, de fato, útil naquele time de uma década atrás. Sem tanto talento, nele sobrava vontade, por isso foi titular em momentos de conquistas históricas do clube.

Mas na seleção brasileira o treinador escolhe, tem a chance de convocar homens com mais recursos. Claro, eles têm que apresentar um pouco de "Jorge Henrique", mas se deixarem de mostrar o que fizeram em seus times e os levaram a serem chamados pelo selecionador, começa a não fazer sentido.

Toques Gabi - Opta Sports - Opta Sports
Toques na bola de Gabigol nas partidas Santos 0 x 4 Flamengo, sábado, e Chile 0 x 1 Brasil, 5ª feira
Imagem: Opta Sports

Roberto Firmino, que tanto brilha no Liverpool, é outro que pela seleção fica aquém, como Gabriel Jesus na Copa. Contra o Chile, quinta-feira, foi a vez de Vinicius Júnior, escalado como uma espécie de segundo lateral, atrás da linha ofensiva. Já Gabigol era quase um ponta-direita marcador, tanto que pegou mais na bola no campo de defesa do que o habitual.

Nenhum dos dois sequer conseguiu finalizar na vitória (1 a 0) sobre os chilenos, ou seja, a velocidade do atleta escolhido pelos torcedores do Real Madrid o jogador do mês e o poder de arremate contra a meta adversária tantas vezes apresentado pelo artilheiro do Flamengo foram armas não utilizadas por Tite. Absurdo, não?

Se os tivesse em seu time, o Chile teria, provavelmente, melhor sorte no cotejo. Acima você observa os gráficos da Opta Sports que mostram Gabriel Barbosa tocando na bola dentro da área no jogo do fim de semana pelo Campeonato Brasileiro, aparecendo também (e mais até) pela esquerda. E preso à direita sem chegar perto da meta adversária contra os chilenos.

Hoje, aos 39 anos, Jorge Henrique defende o Brasiliense. Fosse mais novinho, talvez acabasse sendo escalado no lugar de Gabigol. E para executar as velhas ordens de Tite, não seria uma ideia de se jogar fora.