Mauro Cezar Pereira

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Por mais dinheiro, Neymar e outros emprestam prestígio à ditadura saudita

A Arábia Saudita é um país muçulmano, com interpretação das leis islâmicas bem conservadora. Teocrática, trata-se de uma nação onde a religião interfere em questões políticas e jurídicas.

Ir contra o governo? Contestar o regime? Nem pensar. Democracia passa longe, obviamente não se permite protestos e manifestações. Consequentemente, também falta liberdade de imprensa.

Nessa monarquia absolutista é preciso muito cuidado com o que se publica na internet. Mulheres devem usar o véu sobre a cabeça, nada de roupas muito justas, que marquem o corpo, e ombros à mostra.

Em praias públicas, sungas e biquínis não são aceitos. Até 2018, dirigir automóvel era exclusividade dos homens, mesmo assim as mulheres enfrentam dificuldades para obtenção da licença.

Apesar de uma certa flexibilidade nos últimos anos, o conservadorismo ainda pesa no dia a dia. Casamentos arranjados ocorrem e a mulher precisa da autorização de um homem para casar ou morar sozinha.

Lá, elas só tiveram direito a voto em 2015! Ser gay é proibido e são previstas severas penalidades para quem se relacionar com pessoa do mesmo sexo.

Na Arábia Saudita igrejas não são permitidas. Todos os sauditas são considerados muçulmanos e assim a prática do cristianismo é vetada.

Contudo, Cristiano Ronaldo já celebrou gol por lá fazendo o sinal da cruz (vídeo abaixo). No Brasil, Neymar frequenta(va) a igreja Batista (acima). Mas nem todo mundo é "CR7" ou "Menino Ney".

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Estrangeiros costumam habitar condomínios com supermarcados, lojas, restaurantes, escolas internacionais, piscinas, quadras e campos para a prática de esportes. Vivem realmente numa bolha.

Claro, as bolhas dos astros do futebol que estão se mudando para lá em busca dos petrodólares serão sempre amplas e confortáveis. Alguns anos e todos poderão encerrar seus compromissos (mais) ricos.

Quando alguém como Neymar, que já enriqueceu; topa defender um time daquele país, obviamente mais dinheiro é a motivação.

Ainda com idade e condições físicas para ser competitivo no futebol mais forte do mundo, o europeu, ele abre mão dos grandes torneios e dos maiores desafios profissionais. Mas ficará ainda mais milionário.

Direito e problema dele, obviamente. Mas não estamos falando de alguém pobre que se muda para um país assim com o intuito de resolver sua vida financeira, como se fosse a oportunidade única.

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Falamos de jogadores que já são mais do que endinheirados, com patrimônio o bastante para manter gerações. Eles não dependem da grana saudita, só querem engordar suas contas bancárias.

Errado? Não, ora, cada um faz o que bem entende da sua vida. Mas em se tratando de uma estrela da bola como o principal jogador brasileiro, evidentemente haverá discussões sobre tal escolha.

Não mais veremos o camisa 10 da seleção na Uefa Champions League. Nem em qualquer campeonato relevante.

Por mais que os sauditas contratem estrelas, suas competições continuarão sendo disputadas por clubes sem grande expressão global. Com elencos recheados de atletas locais, de qualidade técnica inferior.

Se Neymar prosseguisse num time forte da Europa, estaria na maior vitrine. Encarando os mais difíceis adversários.

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Assim, teria chance de recuperar seu prestígio futebolístico, abalado por temporadas tímidas com desempenho baixo para um craque.

Mas ele e tantos outros preferiram emprestar a imagem e o futebol ao governo de um país mais do que controverso.

Uma ditadura acusada, inclusive, de ser responsável pelo assassinato de um jornalista esquartejado na Turquia. E que tenta melhorar sua imagem internacional usando o futebol e seus grandes nomes.

Todos ótimos, excelentes. Em campo.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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