Mauro Cezar Pereira

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As migalhas de Guardiola são o presente de Natal para o futebol brasileiro

"Não posso nem imaginar caso o Fluminense saísse na frente... A capacidade que eles têm de se associar no curto espaço é impressionante. Nos exigiu muito defensivamente. Nossos jogadores estiveram muito bem", disse Pep Guardiola após Manchester City 4 x 0 Fluminense.

O time brasileiro na verdade pouco incomodou a meta de Ederson. Apenas dois arremates na direção do gol, com Arias no primeiro tempo e de John Kennedy a 11 minutos do fim. Naquela altura o time inglês já havia feito três substituições, o placar era de 3 a 0 e a peleja estava mais do que decidida.

Então por que o catalão disse aquilo? E falou mais: "Ganhamos a bola no começo e fizemos o gol cedo, e eles tiveram 12 a 15 minutos fantásticos, a gente percebeu o quão difícil seria, mas o segundo gol nos ajudou. Talvez eles não merecessem esse gol, mas no segundo tempo fomos muito melhores".

Nesse período claramente o City recuou e abriu mão da posse, subindo a marcação em momentos específicos para tentar recuperá-la perto da meta tricolor. Quase conseguiu em algumas ocasiões. Não sofreu susto algum e depois retomou o controle da bola para ampliar os vantagem e pavimentar a vitória sem se desgastar.

Diplomático, Pep foi além: "É o futebol brasileiro de muito tempo. Sempre lembro do meu pai, me dizia que os brasileiros jogam de forma bem lenta, todos juntos com a bola, passes curtos e de repente, no último momento, arrancam rapidamente. E parece que é a essência. Brasil sempre é Brasil, os times brasileiros, aconteça o que acontecer, sempre têm bons jogadores, cada vez mais".

Nas entrelinhas fica a mensagem: o futebol brasileiro está no passado. Tanto que, mesmo com muito dinheiro ao seu dispor, Guardiola não conta com muitos jogadores do Brasil em seu elenco. O único em campo na final era o goleiro Ederson. E tantos elogios soam ainda mais político-diplomáticos depois de vencer e ganhar outro troféu sem cansar seus atletas, mirando a Premier League.

Reagiria assim caso enfrentasse um adversário que competisse pra valer, marcasse forte, dividisse todas, contra-atacasse velozmente aproveitando os espaços que sua linha alta oferece? Que finalizasse e desafiasse o poderoso Manchester City?

Para ele está ótimo, ora. Como em 2011, contra o Santos, venceu por 4 a 0, não correu risco de vexame no Mundial e distribuiu elogios com o troféu na bagagem. E o futebol brasileiro, com autoestima lá embaixo, se contenta em ter essas migalhas como presente de Natal.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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